6 de março de 2019

Opinião – “Uma Nação, Um Rei” de Pierre Schoeller


Sinopse

Em 1789, um povo começa a revolução. Ouçam-no. Ele tem algo a dizer-nos.
UMA NAÇÃO, UM REI cruza os destinos de mulheres e homens do povo e de figuras históricas como Robespierre, Marat, Desmoulins ou Danton. O lugar de encontro é a nova Assembleia Nacional.
No coração da História, encontramos a queda do rei Luis XVI e o nascer da República.
A liberdade tem uma história. Ouçam-na.

Opinião por Artur Neves

Neste filme pretende contar-se a história da Revolução Francesa iniciada em 1789, até à morte do rei Luís XVI em 1792 e a subsequente implantação da república no mesmo ano. Não se pode dizer que não seja um projeto ambicioso, todavia a obra em presença enferma do defeito do tipo de comunicação panfletária utilizada, suficiente para quem tem conhecimento do assunto mas inadequada para quem lhe é apresentado o evento pela primeira vez.
Não questiono o rigor histórico de que o filme se revesta na apresentação dos factos inerentes e esse marco de civilização e cultura europeia, referindo as datas das etapas mais significativas da revolução, bem como o nome de todos dos principais deputados envolvidos e os nomes dos votantes que condenaram o rei à morte por guilhotina, mas lamentavelmente é tudo apresentado como que de um postal ilustrado se tratasse, tal é a ligeireza e a brevidade com que os eventos são documentados.
É o que eu chamo uma história a duas dimensões. Os personagens são-nos apresentados sem espessura, sem densidade dramática ou credibilidade de qualquer outra espécie para que sejamos informados das suas razões e dos seus motivos. Claro que se sabe que a revolução teve origem num levantamento popular em busca de melhores condições de vida, e contra a aristocracia reinante e os seus privilégios feudais, mas só superficialmente é que nos são apresentadas as suas dificuldades e as suas dores.
Luis XVI era casado com Maria Antonieta que também teve um papel preponderante na rebelião popular que conduziu à Revolução Francesa, mas sobre ela o filme nem lhe cita o nome, nem a influência nefasta que teve sobre o marido a favor dos interesses económicos e políticos da sua família austríaca da casa dos Habsburg, além de ser reconhecidamente gastadora e promíscua, outro aspeto sobre o qual a história que nos é contada no filme é completamente omissa. Sobre Luis XVI, sabemos que era um rei fraco, mas o filme vota-o ao mais completo ostracismo descaracterizando completamente o seu papel.
Com o intuito de constituir um eixo em torno do qual a história se desenrola, a realização de Pierre Schoeller mostra-nos uma família popular que polariza a oposição ao poder, mas os seus personagens apresentam-se ao nível de todos os outros figurantes, sem nome nem expressão, nem qualquer emoção dramática que os destaque ou caracterize. Todo o filme apresenta-se portanto como um relato documental, representado por atores que ocupam personagens que não são deles nem estão interessados em reconhecê-los. São apenas nomes, descontextualizados das suas funções públicas, palavrosos, que cumprem atos em datas inscritas no próprio filme e que servem como uma lição de história mal-amanhada porque em nenhum momento lhes são conferidas as motivações ideológicas que justificaram as suas ações. Cronologicamente é um relato fiel ao nível do mês em que os eventos se passaram e para essa particularidade vai toda a classificação atribuída.

Classificação: 5 numa escala de 10

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