8 de março de 2019

Opinião – “Réplicas” de Jeffrey Nachmanoff


Sinopse

William Foster (Keanu Reeves), um neurocientista genial, está quase a conseguir descobrir o processo pelo qual uma consciência humana pode ser transferida para um computador. No entanto, no advento desta descoberta científica, a sua família morre num trágico acidente de carro.
Desesperado para ressuscitar aqueles que perdeu, William recruta o seu colega cientista Ed Whittle (Thomas Middleditch) para o ajudar a secretamente clonar os corpos da família, criando réplicas.
Rapidamente, William depara-se com uma “escolha de Sofia”, quando se apercebe que apenas consegue trazer três dos seus quatro familiares de volta à vida.

Opinião por Artur Neves

O conhecimento para a criação absoluta de vida é uma velha aspiração humana que tem alimentado obsessões materializadas pela escrita; Frankenstein, pela devoção a uma entidade desconhecida no âmbito das religiões e atualmente, pela tecnologia, através da conceção de máquinas mais ou menos evoluídas semelhantes ao seu criador como nesta história em que se pretende transferir a consciência de um soldado morto para uma máquina que o substitua.
Todavia neste filme, a história torna-se um pouco mais complicada, quando William Foster pretende redimir-se do brutal acidente que provocou e no qual matou toda a sua família… exceto ele próprio. O remorso que o assalta leva-o a conseguir uma proeza nunca alcançada no estado normal do desenvolvimento científico, no laboratório onde trabalha. E ele faz tudo isso com a mais séria cara de pau que um ator com o curriculum de Keanu Reeves pode fazer.
Faz a clonagem da família, em cubas transparentes cheias de líquido, omite as memórias que podem complicar a plena felicidade da família, pela omissão de um dos membros (cuja escolha ele realiza com papelinhos dentro de uma tijela de sopa) e exulta de felicidade pela proeza conseguida como neurocirurgião e como pai de família recuperado do seu remorso de assassino coletivo.
Nesta altura o leitor já deve ter pensado para os seus botões: “…mas o que é isto?...” mas não desespere porque ainda vem pior, quando o chefe do laboratório onde ele trabalha e mais quatro capangas (de negro vestidos, para impressionar) se revelam malfeitores a soldo de uma organização com fins maléficos para toda a humanidade que querem o segredo da “fabricação” (algoritmo… referem eles) para se tornarem nos senhores do mundo.
Nesta altura, depois de tantos e tão inusitados eventos, nenhuma preocupação de fundo assalta qualquer dos intervenientes, nenhuma reflexão sobre a vida remanescente artificialmente conseguida, nenhuma alteração de estabilidade emocional que os impeça de se preocuparem em fugir, para termos a inefável perseguição de automóvel inerente a um filme de ação que se preze.
É lamentável que um filme que estabelece um fascinante dilema existencial, que toma em mãos uma velha aspiração da humanidade sobre a criação autónoma da vida, esbanje o tema em bandidos bons e bandidos maus (nesta história são todos bandidos incluindo o argumentista) e tente resolver a angústia da provocação da morte como se fosse uma questão culinária de mais ou menos sal. Salva-se a fotografia e alguns efeitos especiais, sendo para eles toda a classificação atribuída.

Classificação: 5 numa escala de 10

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