1 de março de 2019

Opinião – “O Mistério da Ilha Flannan” de Kristoffer Nyholm


Sinopse

Três faroleiros chegam a uma ilha desabitada, a 20 milhas da agreste costa escocesa, para completarem um turno de seis semanas. Quando Thomas (Peter Mullan), James (Gerard Butler) e Donald (Connor Swindells) já se habituaram à rotina solitária, uma situação inesperada e potencialmente transformadora ocorre – eles deparam-se com algo que não lhes pertence.
De onde veio? A quem pertence? Um barco aparece na área que poderá ter respostas para estas questões…
O que se segue é uma tensa batalha pela sobrevivência enquanto a ganância pessoal se destaca em detrimento da lealdade. Alimentados pelo veneno da paranóia e do isolamento, três homens honestos são levados por um caminho de destruição e assassínio.

Opinião por Artur Neves

A história que suporta o filme corresponde a um mito urbano referente ao período de Natal de 1900, relatando uma hipótese de acontecimento para o misterioso desaparecimento de três faroleiros, que se mantém até ao presente sem qualquer pista que indicie os verdadeiros motivos do desaparecimentos dos três homens na ilha do farol, incluída no grupo de ilhas Hébridas Exteriores ao largo da costa oeste da Escócia continental. Desde 1971 que estas ilhas estão desabitadas, decorrente da automação dos faróis de sinalização marítima.
Ao longo do tempo diferentes razões têm sido aventadas pelos amantes do mistério para justificar o evento, desde uma zanga de morte entre os três homens que posteriormente teriam sido comidos por gaivotas, até terem sido abduzidos por seres alienígenas, mas nenhuma das suposições colhe elementos suficientes para se considerarem credíveis.
No presente filme a razão escolhida é a ambição humana em ambiente de completo isolamento, que está bem representado nos três personagens escolhidos. Thomas, o mais velho, apresenta o rosto marcado por profundas rugas em pele curtida pelo ar do mar que constantemente varre a ilha. Perdeu a família em circunstâncias dramáticas que lhe consomem a alma e lhe conferem uma profunda solidão decorrente da sua vida vazia.
James, pelo seu lado, é o mais realizado dos três, sofre o afastamento forçado da mulher e dos filhos que deixou no continente, apresenta boa estabilidade emocional e clarividência no desempenho do seu trabalho até surgir o problema que os conduz á loucura coletiva, ao ódio e ao remorso insuportável. Donald, o mais novo, apresenta-se desde o início como o mais frágil emocionalmente, rejeita a autoridade dos outros dois, embora com resistência acate as suas ordens e revolta-se contra os elementos inerentes da sua atividade.
Kristoffer Nyholm é seguro e engenhoso no trabalho que nos apresenta. O ambiente criado dentro do farol parece estar acontecendo num barco, no mar, considerando todos os pequenos ruídos e gemidos que são produzidos, para nos envolver num ambiente que se adivinha de tragédia e de morte. Os personagens envolvem-se nos seus ódios e suspeitas uns contra os outros, desenvolvendo estados de loucura e de angústia existencial, que com a ajuda do desregramento da bebida combatem-se violentamente entre si. Finalmente tudo desaba e mesmo o mais estável, (James) sucumbe numa introspeção de culpa e horror. É um filme com muito boa intensidade dramática, seguro, escorreito, que se vê com agrado.

Classificação: 6 numa escala de 10

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