Sinopse
Este é um
filme excecional, inesperado, comovente e repleto de esperança nos seres vivos.
Tina, uma
guarda de fronteira marítima no porto de Kapellskär e é extraordinariamente boa
a identificar traficantes. Um dia, um homem de aspeto suspeito sai do barco.
Incapaz de
identificar o que ele esconde, ela fica obcecada por ele e pela aura
perturbadora que ele emana. Mas a sua investigação vai revelar muito mais do
que ela esperava e Tina vê-se confrontada com revelações terríveis sobre si
mesma e a humanidade.
Baseado num conto de John Ajvide Lindqvist, autor do
best-seller Deixa-me Entrar (Let the Right one In)
Opinião
por Artur Neves
A história contada neste
filme toca as raias da fantasia com um desenvolvimento e uma subtileza que nos
surpreende quando a verdade é revelada e somos confrontados com algo que se
situa entre o mito, um romance de amor improvável e um caso de polícia que no
seu todo ultrapassa os limites da compreensão humana.
Tina (Eva Melander,
irreconhecível sob a caraterização que define o personagem) é uma mulher com
algumas caraterísticas inerentes ao autismo mas com a particularidade de
possuir um olfato extremamente apurado que lhe serve no seu trabalho para
farejar (é a palavra que melhor a define) a posse de drogas ou outras
substancias proibidas nos passageiros que diariamente atravessam a alfândega
onde ela trabalha.
Todavia a sua vida é de uma
monotonia atroz, preenchida por ações e gestos que se repetem diariamente, sem
amigos, sem convívio, exceto com os colegas no trabalho e o seu pai de quem ela
trata e assiste nas suas necessidades. Todavia, os seus pensamentos íntimos deambulam
por desejos e projetos, incompreensíveis para ela própria, bem como a sua
imagem no espelho, que ela vê, mas que dificilmente reconhece semelhanças com o
mundo que a rodeia.
Quando aquele homem lhe
aparece à frente, Vore (Eero Milonoff), exibindo uma insolência displicente,
descarado, falando-lhe em tom de desafio, Tina sente-se surpreendia com o seu
rosto, onde reconhece traços semelhantes aos seus e fica profundamente excitada
com aquele estranho ser diferente de todos os que a rodeiam, apesar de entre
eles se sentir também uma estranha.
O realizador Ali Abbasi,
Iraniano por nascimento, mas que estudou e vive na Dinamarca, traz-nos aqui uma
história de transgressão e tabu sobre as nossas origens e de todos os seres que
nos rodeiam, bem como as suas hipotéticas derivações sobre os costumes e as culturas
que marginalizam as diferenças apenas por serem diferentes.
A estranheza desta história
reflete também o complexo de minoria, onde o realizador se insere, que se
concretiza através da atribuição aos personagens de um sentimento de
afastamento dos humanos com quem interagem, tal como das suas particularidades
e preferências, do contacto com a terra tirando os sapatos no bosque, comendo
larvas e insetos e de Tina, vivendo uma experiencia sensual única ao vaguear
nua pela floresta, em êxtase de comunhão com a natureza.
O contacto íntimo entre Tina e Vore é um ato
de outro mundo que se realiza como um ritual oculto, sensual, embora estranho. No
seu estilo multifacetado, este filme contém uma história única que merece ser
vista e vai permanecer durante algum tempo na sua memória. Recomendo.
Classificação: 8 numa escala
de 10
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