Sinopse
Vivienne (Sarah Jessica Parker), cantora na cidade de
Nova Iorque, vive para si mesma e para a sua arte. Depois de receber notícias
que despedaçam o seu mundo e a abalam profundamente, seguimos Vivienne num
período de 24 horas, enquanto se prepara para uma digressão mundial, gere as
suas relações e obrigações familiares e reflete nos êxitos e fracassos da sua
vida, tentando encontrar um momento privado para partilhar com outros as
notícias que recebeu do médico. Com esse peso sobre os ombros, vemos Vivienne
esforçar-se para fazer as pazes com a cidade à sua volta e com os seus
habitantes, quando um encontro fortuito com um amigo improvável acaba por
ajudá-la a aceitar a sua nova realidade.
Opinião
por Artur Neves
Esta é uma história de
presente absoluto no espaço e no tempo.
Decorre num intervalo de 24 horas
e aborda o complexo tema sobre o que fazer, o que podemos ou devemos fazer, o
que será mais importante atender na voragem dos nossos dias, quando
inusitadamente somos informados da previsivelmente breve finitude da nossa existência,
com elevado grau de probabilidade dessa ocorrência se verificar.
Tenho de declarar que “O
Sexo e a Cidade” com todas as suas sequelas, colou-se à pele de Sarah Jessica
Parker e pensei que ela não seria capaz de fazer outra coisa diferente daquele
estilo de personagem fútil, apelando ao erotismo frívolo e que entre uma passagem
de modelos e uma sessão de maquiagem avant
gard tinha esgotado todas as sua valências.
Pois declaro aqui que me
enganei. Vivienne, recebe a notícia da sua doença, como que de uma
impossibilidade se tratasse, tal era a distância que se encontrava do problema,
para ela menor, que a acompanhava há mais de vinte anos. É o momento em que
tudo desaba à sua volta, tudo deixa de fazer sentido, os horários esbatem-se,
os compromissos desvanecem-se, os amigos passam a desconhecidos, impróprios para
receberem esta verdade improvável, impróprios para cederem o seu ombro para
apoio e consolo nesta hora dolorosa.
Nada do que se conhece já
verdadeiramente importa e surge a noção do tempo perdido com frivolidades
profissionais que descartaram o que era importante, como o crescimento da
filha, o amor perdido, a vida protelada para um tempo que já não existirá.
A realização é
fundamentalmente de close up, usando
(e talvez abusando) travellings de
câmara sobre rosto, mãos e todos os pormenores que possam revelar o inimaginável
estado de espírito de tão enorme condenação. Vivienne (Sarah Jessica Parker)
suporta isso tudo mostrando um estofo de representação dispensável em “O Sexo e
a Cidade”, bem como as suas expressões de indiferença e desapego a todos os
eventos daquele dia de revelação.
Que todos inevitavelmente morremos
é uma verdade assumida, saber quando com razoável probabilidade, tira-nos o “chão”
e a capacidade de viver com data marcada para o nosso desaparecimento, exceto
se um desconhecido com o qual não sentimos qualquer empatia no momento inicial
nos revele uma face de preocupação, cuidado e atenção tão imprevista, como a rotunda
dor que nos sucumbe a perspetiva de existência. Muito interessante.
Classificação: 7 numa escala
de 10
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