5 de outubro de 2018

Opinião – “Pássaros Amarelos” de Alexandre Moors


Sinopse

No explosivo cenário da guerra do Iraque, os jovens soldados Brandon Bartle (Alden Ehrenreich) e Daniel Murphy (Tye Sheridan) forjam laços de profunda amizade. Quando a tragédia atinge o pelotão, um dos soldados tem de regressar a casa para enfrentar a dura verdade por trás do incidente e para ajudar uma mãe enlutada (Jennifer Aniston) a encontrar paz. Com uma envolvente combinação de filme de guerra com drama comovente, Pássaros Amarelos é um filme inesquecível cuja força perdura muito depois do último fotograma.

Opinião por Artur Neves

“Pássaros Amarelos”, contém mais uma história de guerra, desta vez passada no Iraque durante o maior embuste político dos Estados Unidos na busca de armas de destruição maciça, na morte de um ditador e num mergulho sem fim nas guerras tribais e religiosas que afundaram o Médio Oriente no caos e na desordem de que ainda hoje continuamos a sofrer os seus efeitos, embora este filme não aborde esta vertente dos factos.
Centra-se na história de vida dos soldados que são investidos na honrosa função de defesa da Pátria, corporizando os eventos em dois rapazes, um de 18 anos e outro de 20, que sofrem cada um à sua maneira a realidade que lhes é oferecida num meio hostil e perigoso que lhes é estranho. Murphy, o mais novo, de temperamento reservado e introespetivo sofre no silêncio dos seus pensamentos, toda a miséria que vê e sente, no meio ambiente que o cerca. Brandon, o seu amigo e fiel “anjo da guarda” sente os mesmos eventos de modo diferente embora os sofra a outra distância do que se passa com Murphy e como tal, aparentemente seja mais robusto do que ele.
Todavia, só em presença dos reais problemas é que poderemos avaliar a nossa resistência aos mesmos e nessa situação Murphy colapsa, mesmo com a protecção do amigo.
O que se segue é a descida aos infernos do regresso a casa. Muitas vezes o sofrimento é tal e a dor do regresso tão intensa, que os mais fortes perdem o sentido dos seus atos e a sorte do regresso, inteiros e com saúde física, torna-se uma doença insuperável. Afinal talvez todos regressem “mortos” sem o saberem e percorrer os locais conhecidos da infância, não passe da deambulação de fantasmas em transição para o outro mundo.
Baseado no romance de Kevin Powers, “Pássaros Amarelos” é um relato subjectivo da guerra ficcionando na primeira pessoa as experiências do próprio autor neste conflito contemporâneo que nos mostra mais uma vez a inutilidade da guerra, como meio de atingir os objectivos esperados pelos seus estrategas. É antes um caminho para a perda da inocência com todos os “condimentos” já experienciados pelos seus pais e avós, no Afeganistão, Vietname ou Coreia.
A realização está bem conseguida apresentando-nos a história em flashback, mostrando uma boa caracterização dos seus intervenientes embora com alguma falta de espessura em certas situações decorrente da limitação temporal da obra em cinema. O cenário é convincente e os locais da guerra no deserto estão bem concebidos. Constitui um espectáculo emotivo e um trabalho sério, muito embora se alheie do contexto que deu origem. Vê-se com agrado.

Classificação: 6 numa escala de 10

Sem comentários: