Sinopse
Depois de apontar suas lentes para a era Bush em
Fahrenheit 11 de Setembro, Michael Moore agora traz um olhar provocador sobre a
eleição de Donald Trump e tenta responder como os Estados Unidos se colocaram
nesta situação e o que podem fazer para mudar.
Fahrenheit 11/9 faz referência à data que o presidente
se elegeu em 2016.
Opinião
por Artur Neves
Neste documentário sobre a presidência
de Donald Trump, cujo nome faz um trocadilho com a data do maior desastre da
história americana, o ataque às torres gémeas, como que referindo que a sua
eleição foi o segundo maior desastre, Michael Moore usa a sua conhecida
habilidade para cruzar factos e eventos registados por ele ou divulgados pelos média,
para nos mostrar verdades e razões que por vezes não entendemos como tal.
Todavia, e embora o filme
conte duas histórias fortes contra a democracia americana que passaram
despercebidas por cá, a saber; a crise da água envenenada com chumbo na cidade
de Flint, promovida pelos negócios do governador do Michigan, Rick Snyder, com
os amigos e a mobilização social dos professores nos USA, com interesse insofismável
de divulgação, perde-se no tema inicial de apresentação de justificações para a
eleição de Donald Trump, misturando assuntos que embora de reconhecida importância
não podem ser diretamente relacionados com Trump.
Aliás, o caso de Flint serve
igualmente para dar uma “bicada” nos democratas e particularmente em Obama que
no auge da crise se deslocou a Flint e em vez de condenar o governador
republicano e denunciar o veneno, pediu um copo com água, que afinal nem chega
a beber, levando-a somente aos lábios numa descarada simulação. Acusa-o também
de ter sido o presidente americano que mais dinheiro recebeu da Goldman Sach.
Sobre Trump, ele apresenta
os comícios que anteciparam a eleição, onde destaca o lado manipulador e
mentiroso do candidato, a sua personalidade truculenta, aflora superficialmente
a influência de Putin e insinua uma relação manifestamente inquietante e
perturbadora com a filha que nos pereceu algo exagerada. Por outro lado reúne diversas
opiniões proferidas na campanha e em comícios que pretendem estabelecer um paralelo
entre a ascensão de Trump e a de Hitler, esquecendo-se todavia que os tempos
agora são outros e que os múltiplos organismos de controlo do poder da
democracia americana são suficientemente eficientes para moderar o ímpeto do
presidente, que apesar de tudo consegue cumprir os favores prometidos aos amigos,
tais como, a desregulação de Wall Street
e a redução de impostos aos mais ricos.
Neste filme, Moore propõe-se
“atirar” em todas as direções, pelo que os democratas também são contemplados, acusando-os
de contemporizarem demasiado com a direita, estabelecendo acordos e
compromissos que ultrapassam o aceitável e que justificam em parte a viragem de
voto em alguns estados tradicionalmente democratas. Bernie Sanders e Hillary
Clinton também não são poupados, sendo-lhes apontados diversos erros na campanha
que ajudaram à “festa” Trump.
Durante os 126 minutos do
filme vemos a revelação de factos importantes mas com uma sequência e um
discurso confusos que se dispersam entre assuntos diversos que não apresentam a
clarividência demonstrada em “Bowling for
Columbine” que lhe valeu um Oscar em 2003, ou “Capitalismo – Uma História
de Amor” de 2009 sobre a crise do subprime.
Apesar disso não deixa de ser um filme interessante sobre o mundo dos nossos
dias.
Classificação: 5 numa escala
de 10
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