28 de junho de 2018

Opinião – “Na Praia de Chesil” de Dominic Cooke


Sinopse


Estamos no verão de 1962 e em Inglaterra falta ainda um ano para as grandes mudanças sociais: a Beatlemania, a revolução sexual e os Swinging Sixties. Florence e Edward, um jovem casal de vinte e poucos anos, recém-casados, decidem passar a sua lua-de-mel num hotel abafado e enfadonho perto da praia de Chesil, em Dorset. Mas à medida que se aproximam da consumação do casamento, a conversa entre eles fica mais tensa e incómoda e resulta numa discussão entre os dois. É então que confrontam as diferenças entre si - as suas diferentes origens, atitudes, temperamentos, e segredos. Na praia de Chesil, no fatídico dia do casamento, um deles toma uma decisão importante que mudará radicalmente as suas vidas para sempre.

Opinião por Artur Neves

Baseado no romance homónimo de Ian McWean que também escreveu o argumento, esta história começa na Inglaterra industrializada mas socialmente vivendo ainda numa organização fortemente influenciada pela Era Vitoriana de valores rigorosos e moral pessoal austera, pouco propensa ao reconhecimento das reais necessidades pessoais, fazendo prevalecer as conveniências e as convenções sobre os naturais desejos humanos.
Nesta sociedade era portanto frequente os jovens chegarem à idade adulta sem conhecimento completo dos seus direitos e deveres, nomeadamente no que concerne a problemática sexual. Para as mulheres a castidade era norma imperativa, que devido à castradora educação veiculada socialmente motivava a sublimação dos impulsos naturais em múltiplas atividades que mascaravam a frustração dos impulsos carnais em formas de amor platónico, embora pretensamente eterno.
É neste contexto que “Na Praia de Chesil”, uma língua de saibro polido e rolado pelo bater das ondas em ambos os lados sob um céu pesado cor de chumbo, que fracassa com estrondo um casamento realizado 6 horas antes. Dominic Coocke mostra-nos cirurgicamente a degradação dessa relação singular fundamentada na ignorância, na vergonha, no embaraço de uma relação não assumida. Os factos são-nos descritos em flashback, enquanto que no presente o afastamento progride, mostrando-nos que uma história pode ser contada sob qualquer ordem desde que contenha os elementos necessários à sua compreensão, conferindo-lhe uma dinâmica própria e prendendo o interesse do espetador aos detalhes.
O realizador apresenta-nos pormenores de olhares, surpresas descabidas, gestos inseguros, frases incompletas, decisões por tomar e todo um conjunto de sinais que revelam os verdadeiros estados de alma destes dois amantes enquadrados no seu contexto social mas perdidos na sua essência.
A Inglaterra progride e moderniza-se, as ideias “arejam-se” com os Beatles e com tudo o que a sua irreverencia transformou. Dominic Cooke apresenta-nos um epílogo para esta história triste. Para mim seria mais válido continuar o retrato da época e escamotear as razões e as consequências da sociedade Inglesa no início dos anos sessenta, todavia não foi esta a decisão do realizador, embora no final, ao voltar à praia de Chesil, no curto período de duração daquele casamento, aquela língua de saibro polido, batida pelo mar, transportado por um vento húmido e agreste, sob um céu de chumbo, me tenha parecido ainda mais pesado do que no início do filme.
Florence Ponting (Saoirse Ronan) e Edward Mayhew (Billy Howle) constroem dois personagens convincentes, a história é boa, vale a pena ver, recomendo.

Classificação: 7 numa escala de 10

Sem comentários: