22 de junho de 2018

Opinião – “A Música do Silêncio” de Michael Radford


Sinopse

Todos conhecem a sua voz, as suas canções, as interpretações de famosas árias de ópera e a sua reputação internacional. Mas muito menos se sabe sobre a vida privada de Andrea Bocelli e do seu percurso desde Lajatico, uma pequena vila na Toscana, à ribalta da sua carreira atual.
Amos Bardi (alter-ego do cantor) nasceu com o dom da voz, mas tem uma doença grave nos olhos que o torna quase cego, obrigando-o a um calvário de várias cirurgias. O jovem é separado da família para ingressar num instituto para cegos e amblíopes, onde aprende Braille, mas sofre um terrível acidente que lhe provoca a cegueira total. Apesar de tudo, Amos não desiste. Motivado pela ambição e vários interesses (a paixão pelo canto, o amor por cavalos, motos e bicicletas, e uma licenciatura em Direito), a sua vida será uma sucessão de desafios até alcançar o seu primeiro grande sucesso em palco, com Miserere.
Aqui começa uma vida repleta de vitórias, mas onde persiste a missão diária de quem, para ser como os outros, deve trabalhar mais do que todos, em cada gesto, em cada etapa.

Opinião por Artur Neves

Os filmes baseados em biografias individuais, com ou sem auto consentimento e neste caso a história que nos é mostrada tem a colaboração do signatário, enfermam da dificuldade acrescida da surpresa, considerando que se trata de uma dramatização de eventos que tiveram a sua sequencia temporal de ocorrências, mais ou menos conhecida do grande público, que tem de ser fiel ao motivo do seu relato.
Este facto constitui uma dificuldade acrescida para o argumentista e para o realizador, no modo de contar esses factos e na descrição dos factos em si mesmo, que para se tornarem interessantes necessitam de múltiplos pormenores que os caracterizem e os animem, ou por uma alteração da ordem do relato de forma a motivarem-nos para eventos que já conhecemos, ou que pelo menos, sabemos que o retratado existe, está de boa saúde e recomenda-se.
Neste caso, Michael Radford, nascido na India, em New Delhi em 1946 e com boas referencias anteriores tais como; “O Carteiro de Pablo Neruda” de 1994 e “O Mercador de veneza” em 2004, segue o modelo clássico da descrição sequencial dos eventos, começando pela descoberta do glaucoma congénito logo após o nascimento e seguindo o fio da vida de Amos Bardi até á época atual, nos momentos iniciais de um concerto do consagrado Andrea Bocelli.
Durante este percurso são reportados, os seus diferentes humores, frustrações, desejos e ambições, o encontro de Elena com quem vem a constituir família e todos os seus sucessos iniciados com Zucchero em 1992, e prémios menores ganhos durante esse percurso. Tudo muito direitinho e seguidista, onde o personagem desempenhado por Antonio Banderas, o “Maestro”, seu professor de canto lírico, aparece como elemento distintivo e agitador num percurso inevitavelmente pacato e contido. Apresenta todavia alguns pormenores interessantes da vida do cantor, da sua irreverencia e tenacidade, mas que por constituírem relatos do tipo “postal ilustrado” perdem impacto e rapidamente se dissipam. Constitui assim uma biografia autorizada de um dos maiores tenores da nossa época, com interesse cultural do conhecimento transmitido, mas pobre do ponto de vista do espetáculo cinematográfico.

Classificação: 6 numa escala de 10

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