Sinopse
Todos conhecem a sua voz, as suas canções, as
interpretações de famosas árias de ópera e a sua reputação internacional. Mas
muito menos se sabe sobre a vida privada de Andrea Bocelli e do seu percurso
desde Lajatico, uma pequena vila na Toscana, à ribalta da sua carreira atual.
Amos Bardi (alter-ego do cantor) nasceu com o dom da
voz, mas tem uma doença grave nos olhos que o torna quase cego, obrigando-o a
um calvário de várias cirurgias. O jovem é separado da família para ingressar
num instituto para cegos e amblíopes, onde aprende Braille, mas sofre um
terrível acidente que lhe provoca a cegueira total. Apesar de tudo, Amos não
desiste. Motivado pela ambição e vários interesses (a paixão pelo canto, o amor
por cavalos, motos e bicicletas, e uma licenciatura em Direito), a sua vida
será uma sucessão de desafios até alcançar o seu primeiro grande sucesso em
palco, com Miserere.
Aqui começa uma vida repleta de vitórias, mas onde
persiste a missão diária de quem, para ser como os outros, deve trabalhar mais
do que todos, em cada gesto, em cada etapa.
Opinião
por Artur Neves
Os filmes baseados em biografias
individuais, com ou sem auto consentimento e neste caso a história que nos é
mostrada tem a colaboração do signatário, enfermam da dificuldade acrescida da
surpresa, considerando que se trata de uma dramatização de eventos que tiveram
a sua sequencia temporal de ocorrências, mais ou menos conhecida do grande
público, que tem de ser fiel ao motivo do seu relato.
Este facto constitui uma
dificuldade acrescida para o argumentista e para o realizador, no modo de
contar esses factos e na descrição dos factos em si mesmo, que para se tornarem
interessantes necessitam de múltiplos pormenores que os caracterizem e os
animem, ou por uma alteração da ordem do relato de forma a motivarem-nos para
eventos que já conhecemos, ou que pelo menos, sabemos que o retratado existe,
está de boa saúde e recomenda-se.
Neste caso, Michael Radford,
nascido na India, em New Delhi em 1946 e com boas referencias anteriores tais
como; “O Carteiro de Pablo Neruda” de 1994 e “O Mercador de veneza” em 2004,
segue o modelo clássico da descrição sequencial dos eventos, começando pela descoberta
do glaucoma congénito logo após o nascimento e seguindo o fio da vida de Amos
Bardi até á época atual, nos momentos iniciais de um concerto do consagrado
Andrea Bocelli.
Durante este percurso são
reportados, os seus diferentes humores, frustrações, desejos e ambições, o
encontro de Elena com quem vem a constituir família e todos os seus sucessos iniciados
com Zucchero em 1992, e prémios menores ganhos durante esse percurso. Tudo muito
direitinho e seguidista, onde o personagem desempenhado por Antonio Banderas, o
“Maestro”, seu professor de canto lírico, aparece como elemento distintivo e
agitador num percurso inevitavelmente pacato e contido. Apresenta todavia
alguns pormenores interessantes da vida do cantor, da sua irreverencia e
tenacidade, mas que por constituírem relatos do tipo “postal ilustrado” perdem
impacto e rapidamente se dissipam. Constitui assim uma biografia autorizada de
um dos maiores tenores da nossa época, com interesse cultural do conhecimento
transmitido, mas pobre do ponto de vista do espetáculo cinematográfico.
Classificação: 6 numa escala
de 10
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