16 de maio de 2018

Opinião – “ANON” de Andrew Nicool


Sinopse

Sal Frieland (Clive Owen) é um polícia confrontado com uma série de assassinatos que parecem interligados. Como qualquer detetive, propõe-se a encontrar o assassino, mas no futuro próximo ele tem uma vantagem distinta: nesta sociedade, a vida de todos é registrada ao microssegundo e guardada numa rede chamada The Ether, não havendo espaço para o anonimato. Quando, durante a investigação, Frieland se cruza com uma jovem (Amanda Seyfried) que não está associada a qualquer identificação, encontra a primeira pista de que a segurança da The Ether foi comprometida, e que alguém conseguiu editar registros de vida e, assim, encobrir os crimes. Frieland entra assim numa missão para encontrar uma mulher que não existe e desmascarar uma conspiração que vai muito para além do esperado.

Opinião por Artur Neves

“ANON”… de ANÓNimo ou de ANONimato, conta-nos uma interessante história passada num futuro próximo, (considerando a exponencial evolução informática) em que todos os seres de uma cidade, de uma empresa, ficam ligados entre si através de implantes cerebrais que possibilitam a visualização instantânea de todos os dados identificativos de cada individuo apenas pela proximidade entre eles e pelo acesso que essa proximidade reciprocamente confere à rede neuronal de controlo centralizado nas autoridades que os “conhecem” a todos.
Numa sociedade com estas características a privacidade não existe e o sigilo individual é uma metáfora. O problema surge quando na visualização com alguém com que nos cruzamos não nos são oferecidos quaisquer dados sobre essa pessoa, o que indicia uma de duas coisas; avaria do sistema ou edição dos dados para alteração, substituindo-os por um conteúdo conveniente de acordo com as necessidades individuais, o que é estritamente reservado, constituindo uma grave violação da lei.
É pois neste ambiente futurista, incluindo a informação em tempo real sobre todas as nossas ações, que Andrew Nicool desenvolve um denso thriller policial de um detetive a tentar identificar o autor de um assassinato para o qual os elementos descritivos da sua ocorrência foram apagados da base de dados, criando com isso um novo crime e um criminoso mais letal na pele do hacker que conseguiu essa proeza. O sistema não pode permitir tal intrusão.
O filme desenrola-se num ambiente verde-escuro que contamina todas as outras cores, conferindo um secretismo grave e uma solidão a todos os intervenientes que se torna espessa e tangível em muitas situações criadas. A cidade é nua de vida como a conhecemos, organizada, severa em todos os pormenores de relação social e os personagens estão bem defendidos pelos atores a que foram confiados. Em todos os seus contactos os afetos foram banidos e a ausência de privacidade é um dado significativo da sua relação.
O realizador Neozelandês Andrew Nicool é experiente na criação de histórias “fora da caixa” tais como; “Gattaca” de 1997 sobre a procriação in vitro, “Sim0ne” de 2002 sobre a criação de uma pessoa digital, “O Senhor da Guerra” de 2005 sobre as questões morais associadas ao tráfico de armas, “Sem Tempo” de 2011, “Nómada” de 2013 e “Morte Limpa” de 2014 sobre o remorso dum piloto de drones na guerra do Afeganistão, talvez o seu filme menos criativo mas ainda assim surpreendente pala abordagem que nos apresenta. Por tudo isto, e pela perspetiva da sociedade que nos é apresentada, ANON é um filme a ver, recomendo.

Classificação: 8 numa escala de 10

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