4 de maio de 2018

Opinião – “O Meu Belo Sol Interior” de Claire Denis


Sinopse

Isabelle é uma artista parisiense, mãe divorciada, em busca do amor, o amor ideal por fim.

Opinião por Artur Neves

Isabelle (Juliette Binoche; em minha opinião, a Meryl Streep europeia no que concerne á qualidade de representação) apresenta-nos neste filme um personagem agitado, seguro dos seus objectivos de busca do amor e simultaneamente fraco e vacilante, embora por motivos diferentes, quando em presença dos desafios que ele mesmo procura e não consegue segurar por falta de enquadramento com as suas aspirações de pureza.
Esta atriz com 54 anos não receia as cenas de nu que a história implica, embora com um virtuosismo subtil, considerando que tudo o que nos é mostrado situa-se no âmbito do decoro e da decência que o cinema Francês de culto nos habituou, indiciando uma sensualidade moderada que remete para a normalidade duma intimidade privada, tornando assim essas cenas anti eróticas. Esta abordagem só acentua a candura da personagem nos momentos em que a acção se torna dolorosa pela brusquidão dos seus pares.
A realização é da responsabilidade de Claire Denis, francesa, nascida em 1946 em Paris e com provas dadas como o demonstram “Uma Mulher em África” de 2009 e “35 Shots de Rhum” de 2008, investe agora neste género intimista de exploração dos desejos íntimos de mulheres que não aceitam falhar na sua vida amorosa e se lançam na procura do amor, sem receios e falsos pudores, mas tão-somente apresentando-se despidas dos inerentes subterfúgios do seu género para captar o que lhes falta. Isabelle, porém não pertence a esse grupo e Claire Denis consegue transmitir-nos isso através dos mais inofensivos diálogos onde se esconde uma sombra de dor ou de genuína solidão que mantem o espetador igualmente inquieto durante todo o desenrolar da história motivando-lhe uma atenção de pormenor.
A história que nos é contada inspira-se vagamente na obra “Fragmentos de um discurso amoroso” de Roland Barthes e justifica a forma como Isabelle procura o amor duma forma mais analítica do que emocional, embora sofra o desajustamento do seu preferido em compreendê-la, aproxima este filme mais de uma reflexão literária sobre os meandros da escolha amorosa do que duma experiencia cinematográfica próxima da comédia romântica onde o filme pretende inserir-se.
Sem menosprezar todos os outros intervenientes o trunfo deste filme chama-se claramente Juliette Binoche que ao interpretar esta “Isabelle” confere-lhe uma autenticidade singular integrando em todos os seus comportamentos, falas e atitudes os conceitos de análise dos diferentes amores que nos são mostrados servindo para ilustrar questões abstractas de um modo muito concreto. O melhor exemplo desta afirmação é o dialogo de Isabella com uma amiga na casa-de-banho em que ela assume diferentes facetas do relacionamento actual passando do tom jocoso para um desespero choroso com a maestria de uma grande diva. A sua excelência performativa é significativamente digna de registo.
No final temos que reconhecer que não conhecemos Isabelle, como talvez nem ela se conheça a si própria, considerando as experiencias falhadas ao longo da história em que tudo o que vimos foi somente um intervalo fugaz e efémero na vida de uma mulher. Gostei e recomendo.

Classificação: 7 numa escala de 10

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