Sinopse
Isabelle é uma artista parisiense, mãe divorciada, em busca do amor, o amor
ideal por fim.
Opinião
por Artur Neves
Isabelle (Juliette Binoche;
em minha opinião, a Meryl Streep europeia no que concerne á qualidade de representação)
apresenta-nos neste filme um personagem agitado, seguro dos seus objectivos de
busca do amor e simultaneamente fraco e vacilante, embora por motivos
diferentes, quando em presença dos desafios que ele mesmo procura e não
consegue segurar por falta de enquadramento com as suas aspirações de pureza.
Esta atriz com 54 anos não
receia as cenas de nu que a história implica, embora com um virtuosismo subtil,
considerando que tudo o que nos é mostrado situa-se no âmbito do decoro e da decência
que o cinema Francês de culto nos habituou, indiciando uma sensualidade
moderada que remete para a normalidade duma intimidade privada, tornando assim essas
cenas anti eróticas. Esta abordagem só acentua a candura da personagem nos
momentos em que a acção se torna dolorosa pela brusquidão dos seus pares.
A realização é da responsabilidade
de Claire Denis, francesa, nascida em 1946 em Paris e com provas dadas como o
demonstram “Uma Mulher em África” de 2009 e “35 Shots de Rhum” de 2008, investe
agora neste género intimista de exploração dos desejos íntimos de mulheres que
não aceitam falhar na sua vida amorosa e se lançam na procura do amor, sem
receios e falsos pudores, mas tão-somente apresentando-se despidas dos
inerentes subterfúgios do seu género para captar o que lhes falta. Isabelle,
porém não pertence a esse grupo e Claire Denis consegue transmitir-nos isso
através dos mais inofensivos diálogos onde se esconde uma sombra de dor ou de genuína
solidão que mantem o espetador igualmente inquieto durante todo o desenrolar da
história motivando-lhe uma atenção de pormenor.
A história que nos é contada
inspira-se vagamente na obra “Fragmentos de um discurso amoroso” de Roland
Barthes e justifica a forma como Isabelle procura o amor duma forma mais
analítica do que emocional, embora sofra o desajustamento do seu preferido em
compreendê-la, aproxima este filme mais de uma reflexão literária sobre os meandros
da escolha amorosa do que duma experiencia cinematográfica próxima da comédia romântica
onde o filme pretende inserir-se.
Sem menosprezar todos os
outros intervenientes o trunfo deste filme chama-se claramente Juliette Binoche
que ao interpretar esta “Isabelle” confere-lhe uma autenticidade singular
integrando em todos os seus comportamentos, falas e atitudes os conceitos de
análise dos diferentes amores que nos são mostrados servindo para ilustrar
questões abstractas de um modo muito concreto. O melhor exemplo desta afirmação
é o dialogo de Isabella com uma amiga na casa-de-banho em que ela assume
diferentes facetas do relacionamento actual passando do tom jocoso para um
desespero choroso com a maestria de uma grande diva. A sua excelência performativa
é significativamente digna de registo.
No final temos que
reconhecer que não conhecemos Isabelle, como talvez nem ela se conheça a si
própria, considerando as experiencias falhadas ao longo da história em que tudo
o que vimos foi somente um intervalo fugaz e efémero na vida de uma mulher.
Gostei e recomendo.
Classificação: 7 numa escala
de 10
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