Sinopse
União Soviética, 1953. Após a morte de Josef Stalin (Adrian McLoughlin),
o alto escalão do comité do Partido Comunista vê-se em momentos caóticos para
decidir quem será o sucessor do líder soviético.
Opinião
por Artur Neves
Numa altura em que a
comunidade internacional condena a Rússia de Putin como responsável pelo atentado
ao espião russo Skripal e sua filha, refugiados em Inglaterra, surge este
filme, já proibido pelo Ministério da Cultura da Rússia através da suspensão da
sua licença de exibição, sobre os últimos dias do ditador Josef Stalin,
reconhecidamente como um dos líderes mais cruéis da história mundial recente, (em
conjunto com Hitler) que ocupou o poder na Rússia entre 1922 e 1953, na
sequência da Revolução Bolchevique de Outubro de 1917 que acabou com o Governo
Provisório de cariz moderado que se seguiu à queda do poder imperial do czar
Nicolau II, impondo o governo Socialista Soviético.
Os 31 anos de poder
absoluto, autocrático e despótico de Josef Stalin não são de facto um período
de que a Rússia se possa orgulhar, considerando o que o seu sucessor; Nikita
Khruchshov revelou ao mundo, durante a realização do XX Congresso do Partido
Comunista da União Soviética em 23 de Fevereiro de 1956, onde enumera a longa
lista de atrocidades cometidas contra o povo pelo estalinismo, durante a sua
ocupação do poder.
Armando Iannuci, Escocês de
origem, realizador e coargumentista desta história, resolveu revisitar esta
época através de uma abordagem crítica, com traços acentuadamente burlescos
relatando os eventos ocorridos nos círculos próximos do ditador na sequência da
sua inesperada morte em maio de 1953 e da luta pelo poder que se seguiu.
O resultado é este filme
atrevido, ousado em todas as suas premissas, pormenorizado na identificação das
personagens que são referenciados com o nome real das pessoas que representam,
considerando que o secretismo do sistema e o nível de divulgação da época não
permitiria o seu reconhecimento ao espetador normal, caraterizando-os ao pormenor
das suas idiossincrasias e retratando-os nas suas funções e confrontos com os
seus pares, entabulando intrigas, vinganças, e ódios de estimação que, pelo que
sabemos hoje, não deve estar muito longe da realidade vivida naqueles anos.
A abordagem às relações
entre pares do governo é feita em jeito de comédia de humor negro (doutra forma
seria mais doloroso) evidenciando a total submissão de todos ao determinístico líder,
sempre autoritário e desdenhoso mesmo nas questões mais comezinhas, e a total
falta de ética dos seus mais próximos e despersonalizados colaboradores, (súbditos)
totalmente incapazes de formularem alternativas, ou qualquer espécie de ação
coordenada, quando subitamente confrontados com a sua inesperada falta.
Os diálogos estão bem
concebidos, sempre proferidos segundo uma lógica jocosa que nos surpreende,
diverte e nos faz pensar como foi possível tudo isto, descontando claro, o
efeito de caricatura que o filme naturalmente exibe. Merece ser visto,
recomendo.
Classificação: 6 numa escala
de 10
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