Sinopse
De visita a Paris, em 1964, James Lord (Armie Hammer),
um escritor americano e amante das artes, é convidado pelo reconhecido artista
Alberto Giacometti (Geoffrey Rush) a pousar para um retrato. Giacometti
assegura a Lord que o processo demorará apenas alguns dias. Lisonjeado e
curioso, Lord concorda em posar. Assim começa não só a história de uma peculiar
amizade, mas também uma exploração, através do olhar de Lord, sobre a beleza,
frustração, profundidade e ocasional caos do processo artístico. “O Último Retrato”
é o retrato de um génio e de uma amizade entre dois homens profundamente
diferentes, que vão ficando cada vez mais próximos um do outro, através de um
singular e sempre mutável ato de criatividade.
Opinião
por Artur Neves
Alberto Giacometti
destacou-se no século XX como um escultor procurado e apreciado nas suas obras
que distorciam a forma do corpo humano, estendendo-a desproporcionadamente como
se quisesse ilustrar a distorção da alma humana que ele identificava no seu
modelo, sempre minuciosamente observado e condicionado na sua opção de pose
para modelo da sua obra. Giacometti manipulava a superfície e a textura dos
materiais, profundamente deformados na constituição da sua obra de arte como a
personificação material da corrente existencialista da época e do seu principal
mentor, Jean-Paul Sartre com quem ele mantinha uma relação filosófica muito
chegada.
Cada obra não tem qualquer
relação com a seguinte, impregnando-as de uma individualidade distintiva, acentuada
pelas suas deformações particulares, perseguindo obcessivamente um contínuo
aperfeiçoamento nunca alcançado, conduzindo mesmo à destruição do trabalho
feito, para através de um novo recomeço tentar o aperfeiçoamento da sua
representação.
É esta personalidade doentiamente
genial que Stanley Tucci, ator conhecido por várias interpretações de relativo sucesso,
veste aqui a pele de argumentista e diretor, com base no livro do escritor
James Lord, que descreve os últimos tempos da vida conturbada e caótica de
Giacometti, sendo a pedido deste que ele se transforma em modelo para um
retrato, durante um tempo muito para lá do inicialmente anunciado pelo artista,
mas que serve de catarse para ambas as personalidades em confronto que passam a
conhecer-se mais intimamente do que inicialmente esperariam.
É óbvio que não é um tema
fácil para passar a filme, considerando que incide num tempo particular da vida
de Giacomtti, que embora querendo refletir um resumo da sua biografia esbarra
no tempo e no espaço em que a ação (monotonamente) se desenrola, 19 dias
particularmente arrastados, sem qualquer rasgo dramático, repetitivo nos gestos
e lugares como a essência da obra de Giacometti.
Todo o filme é pastelão,
lento e previsível, provocando alguns bocejos pela espera da novidade que não
acontece, mas ainda assim, para os mais interessados, permite apreciar a construção
do personagem de Giacometti por Geoffrey Rush que revela o excelente trabalho
do ator que aceitou esta “empreitada”, bem como, de James Lord por Armie
Hammer, depois da sua intensa e competente interpretação de Oliver no recentemente
oscarizado filme; “Chama-me pelo teu Nome”, já comentado neste blogue.
Apesar de todas as fraquezas
apontadas rever estes dois atores é um motivo suficiente para justificar o
visionamento deste filme, que decorre quase em “piloto automático” como não se pretende
que seja apanágio da indústria cinematográfica.
Classificação: 4 numa escala
de 10
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