Sinopse
Ilha dos
Cães conta a história de Atari, um miúdo de 12 anos sob a tutela de Kobayashi,
o corrupto presidente da câmara.
Quando por
decreto executivo, todos os animais de estimação caninos da cidade de Megasaki
são exilados para uma vasta lixeira chamada Ilha do Lixo, Atari parte sozinho
num turboélice miniatura e atravessa o rio à procura do seu cão de guarda
Spots. Nessa ilha com a ajuda de uma matilha de rafeiros, começa uma jornada
épica que irá decidir o destino e o futuro de toda a cidade.
Opinião
por Artur Neves
Wesley Wales Anderson,
realizador americano nascido em Huston no Texas, conhecido profissionalmente por
Wes Anderson, tem-se dedicado nos seus filmes mais recentes a abordagens
superficiais de algumas das fraquezas humanas, tal como em “O Grande Hotel
Budapeste” de 2013, onde evidencia o luxo e a vaidade de uma certa classe
social abastada e pueril, ou em “Moonrise Kingdom” de 2012, numa história de
valorização da ingenuidade infantil, apresenta-nos agora de sua autoria um
argumento e realização de uma lenda Japonesa demonstrativa do profundo apreço
da cultura japonesa pelos animais domésticos em forma de animação no formato stop motion, uma fábula sobre tirania e
despotismo de um governante que atenta contra as liberdades de uma parte da
população.
A moral da história tanto se
aplica ao nazismo de tão má memória na história recente europeia, como a todas
as ditaduras que campeiam no mundo e muito particularmente na américa latina de
que os USA são vizinhos. A história é forte não somente no aspeto da ditadura
que evoca como na inibição do progresso científico e tecnológico que todos
esperamos traga melhorias à condição de vida da humanidade.
Todavia esta bordagem
apresentada por Wes Anderson é superficial, contém diálogos algo mordazes
(traduzidos do japonês, segundo o autor) e uma tendência para o humor ligeiro
imediato e breve, que não se coaduna com a essência da temática abordada pois
não creio que possamos rir, ou sequer sorrir, com o estado de coisas que se vive
na Venezuela, ou mais recentemente na Nicarágua onde regimes autocráticos
submetem o povo aos desígnios dos seus benefícios exclusivos. Também não é crível
que os campos de concentração nazis, durante a segunda guerra tenham algo de
que se possa sorrir.
A história tem como
personagens principais, cães, que devido a uma epidemia de gripe canina foram
marginalizados numa ilha de lixo sem qualquer futuro, apoio ou tratamento que o
ditador proíbe, apesar de a sua cura estar a ser estudada e desenvolvida. Os personagens
caninos, através das suas expressões e comportamentos, não representam mais do
que os espoliados humanos que sofreram os efeitos da descriminação a que foram
sujeitos, mas com tanta ligeireza, desanuviamento e compreensão, quase que se
pode pensar que o sofrimento não foi assim tão grande como o apregoam.
O realizador quando aborda
um problema trata de seguida de o disfarçar para não tornar a revelação tão
dura, todavia o filme tem o mérito de apresentar uma linguagem de animação pouco
frequente que nos surpreende com a sua riqueza e complexidade de cenário, que
na minha opinião não o salva da mediocridade.
Classificação: 4 numa escala
de 10