8 de janeiro de 2018

Opinião – “Três Cartazes à Beira da Estrada” de Martin McDonagh

Sinopse

“Três Cartazes à Beira da Estrada” é uma comédia dramática do vencedor do Oscar Martin Mcdonagh com; “Em Bruges”. Depois de meses sem ser encontrado o culpado no caso do homicídio da sua filha, Mildred Haynes (vencedora de um Oscar Frances McDormand) faz uma jogada ousada ao alugar três cartazes à entrada da cidade com uma mensagem polémica dirigida a William Willoughby (nomeado para o Oscar Woody Harrelson), o respeitado chefe de polícia da cidade. Mas quando o seu adjunto Dixon (Sam Rockwell), um menino da mamã imaturo com uma inclinação para a violência, se envolve, a batalha entre Mildred e a lei de Ebbing, descontrola-se.

Opinião por Artur Neves

Temos de volta uma história da América profunda que neste filme acentua o caráter rural e atávico de uma comunidade fechada sobre si própria, envolvida mas em paz com os seus próprios problemas desde que eles não agitem a pacatez social e a ordem estabelecida, permitindo a cada um fazer e agir como melhor lhe aprouver e até manter uma polícia local que cultiva o que de pior a América tem em preconceito racial, homofobismo, laxismo e inépcia operacional.
A história é simples e direta (como é apanágio dos vencedores) e o ambiente criado assemelha-se ao oscarizado filme de 2007; “Este País não é para Velhos”, embora menos violento, mais mordaz e cínico do ponto de vista da crítica social que a história aborda, através de personagens fortes e bem caracterizados pelos atores acima mencionados que criam a tensão perfeita nesta “comédia negra” já galardoada na 75ª edição dos Globos de Ouro 2018 na categoria; Melhor Drama.
A utilização dos cartazes à beira da estrada para denunciar a dor de uma mãe pela perda de uma filha, num hediondo crime sexual ainda impune é o gatilho que afeta transversalmente toda a sociedade da cidade de Ebbing no estado do Missouri, provocando as mais díspares reações sociais, a favor e contra a denúncia, que põem a nu as contradições das forças vivas mais representativas e estimáveis da cidade, tais como a lei e a religião que se sentem atingidas na sua missão de ordem, a primeira, e de fé conformista, a segunda, cuja agitação em curso não lhe é favorável à sua progressão.
Como se tudo não bastasse, nos “subterrâneos” da alma de cada um dos humanos envolvidos naquele drama emergem todos os conflitos e compromissos latentes estabelecidos no passado que agora emergem e se confrontam entre si, revelando as suas naturezas, os seus pecados e a vergonha de os terem cometido em momentos de fraqueza e que atualmente colidem frontalmente com a dor do momento.
Muito bem estruturado e interpretado este filme vê-se, por vezes com um sorriso amargo, e noutras como um murro no estomago, pelas palavras contidas nas cartas do chefe da polícia William Willoughby antes do seu suicídio, tentando corrigir in extremis tudo o que de muito mau foi cometido nesta história. A ver, recomendo vivamente.

Classificação: 8,5 numa escala de 10

1 comentário:

Marta Moura disse...

Ansiosa para ver, até pela maravilhosa Frances McDormand.