Sinopse
Far’Hook é um jovem rapper de 20 anos. Depois de um ajuste
de contas é obrigado a deixar Paris durante algum tempo. O seu produtor; Bilal,
pede-lhe que tome o seu lugar e que acompanhe o seu pai; Serge, a dar uma volta
a França, pelos caminhos de Joseph Vernet. Apesar do choque cultural e de
gerações, uma amizade improvável vai nascer no decorrer de uma peripécia que os
levará a Marseille para um concerto final, o da reconciliação.
Opinião
por Artur Neves
O que temos aqui é uma
história de contrastes civilizacionais que se vêm forçados a conviver no mesmo
espaço e num tempo, que aos mais novos lhes concede o privilégio de reivindicar
e julgar os conceitos que lhes permite desfrutar dessa oportunidade.
Serge Desmoulins (Gérard
Depardieu) quer seguir o seu sonho de pintar, ele próprio, os quadros do pintor
da sua preferência, vistos dos locais onde o pintor os viu e pintou, como forma
de identificação “umbilical” com a arte em que se fixou depois de reformado,
solitário, em conflito com o único filho e de ter assumido uma atitude de “ermita”
na terra e no local onde vive. Ao seu redor, tudo está mal e merece a mais
veemente contestação, iniciada verbalmente e continuada fisicamente se a
situação o permitir e valer o transtorno. De Gaule é o seu mentor e a França
nunca deveria ter abandonado a Argélia como forma de manter os argelinos no seu
território, sob pena de se ter transformado na nação atual, multicultural e
permissiva a todas as ideias, credos e práticas que nada têm a ver com a sua
matriz.
Far’Hook (Sadek) tem como
contraponto à sua juventude o estigma da raça e da religião muçulmana que o
transforma em rapper, numa terra que
o tolera desde que se enquadre nos padrões permitidos que não são necessariamente
os assumidos pela sua geração. O seu protesto é declamado com música sincopada
que excita o ouvinte, promove a união dos seus pares e estimula a distinção
para com o modo de vida da civilização ocidental, bem como entre castas, ou
bandas de outros rappers, que para o
escopo desta história significa o mesmo.
Rachid Djaidani, Argelino de
nascimento, realizador e argumentista deste filme onde ele deve ter colocado muito
da sua própria vivência, promove uma viagem através da França com estas duas
personagens extremadas que só muito remotamente se envolveriam numa relação
social. Á partida, nada os une nem os justifica, exceto a decisão e os meios do
primeiro e a necessidade do segundo. Durante a viagem, num carro a cair de
podre e depois de muitas verdades sobre a situação global vigente terem servido
como arma de arremeço mútuo, depois de muito fel destilado, surge uma centelha
de compreensão entre ambos, que se fosse generalizada, promoveria a união, a
compreensão e a paz que conduz ao progresso.
Classificação: 4,5 numa
escala de 10
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