24 de outubro de 2017

Opinião – “Rosalie Blum” de Julien Rappeneau

Sinopse

Vincente Machot conhece a sua vida de cor. A sua rotina divide-se entre o salão de cabeleireiro, o seu primo, o seu gato e a sua mãe demasiado intrusiva. Mas a vida reserva por vezes algumas surpresas, mesmo aos que vivem de forma mais prudente. Cruza-se por acaso com Rosalie Blum, uma mulher misteriosa e solitária, convencido de já a ter conhecido antes. Mas onde? Intrigado decide segui-la para todo o lado, na esperança de a conhecer melhor. Não tem dúvidas que esta incursão vai levá-lo a embarcar numa aventura cheia de imprevistos, onde descobrirá personagens tão extraordinárias como comoventes. Uma coisa porém é certa; a vida de Vincente Machot vai mudar…

Opinião por Artur Neves

Esta é uma história de solidão, de ensimesmento de sentimentos quando a realidade se nos afigura difícil e quando por nenhum motivo ou condicionamento mental não ousamos sair da nossa zona de conforto, não dizemos que existimos e mostramos a nós próprios e aos outros que estamos preparados para as normais vicissitudes da vida, sem receio de falhar.
Vincente Machot (Kyan Khojandi) é um homem metódico para quem os dias são isentos de surpresa e as horas antecipadamente previstas cumprem-se com a regularidade do movimento da terra. É essa previsibilidade que lhe permite reconhecer-se nos atos e nas ações que diariamente se incumbiu de cumprir e seguir um percurso sem sobressaltos. Condicionado por uma mãe austera, crítica, interesseira e castradora que evidenciando uma suposta dependência e necessidade de apoio próximo e frequente, transforma vida de Vincente no marasmo insipiente que a história nos mostra, todavia, no seu íntimo a natureza agita-se, os pensamentos fermentam e os sonhos lembram-no da outra realidade que ele não tem coragem para enfrentar.
Como sempre, é a vida que nos acorda e com ele também assim aconteceu na figura de Rosalie Blum (Noémie Lvovsky) uma mulher de sorriso perene numa cara doce, sem ser bela, mas que se torna agradável no desempenho desta personagem enigmática que Vincente julga conhecer, embora sem saber de onde nem quando. Esta “memória” porém, é suficiente para perturbar o equilíbrio da sua pacata vida, da sua rotina, fazendo-o agir de forma tendencialmente anónima, cozido com as sombras da cidade, julgando-se invisível na busca que acendeu os seus embotados sentidos.
Segue-se posteriormente uma história de enredo pueril, ao nível da personalidade de Vincente, mas que nos prende, quanto mais não seja pela curiosidade de se saber como tudo aquilo irá acabar. Porem o realizador; Jullien Rappeneau, autor de “36” de 2004 e de outros filmes menos conhecidos não nos desaponta com as diatribes por que faz passar Vincente e a sua perseguida, justificando e clarificando todas as perguntas que implantou no nosso espírito nesta comédia romântica com tons dramáticos, que se vê com agrado pela estruturação de uma história improvável com personagens ímpares.

Classificação: 6 numa escala de 10

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