21 de outubro de 2017

Opinião – “Monsieur & Madame Adelman” de Nicolas Bedos

Sinopse

Como é que Sarah e Victor se conseguiram suportar durante mais de 45 anos? Quem era, afinal, esta mulher enigmática que vivia na sombra do seu marido? Amor, ambição, traições e segredos alimentam esta odisseia de um casal fora do normal, que nos acompanha nesta história do século passado.

Opinião por Artur Neves

Esta é uma história de amor, de amor real com todos os ingredientes das pessoas reais que amam, que se deixam amar, que detestam as condições a que se submeteram para conquistar e manter o seu amor e não o querem perder porque amam, partilham esse amor, rejeitam o que não vêm como parte do amor, deprimem porque amam, choram para não perder, rasgam-se para não maltratar, humilham-se porque são amadas e vivem assim um amor esdruxulo.
Sarah (Dora Tillier) e Victor Adelman (Nicolas Bedos), realizador do filme e argumentista em conjunto com Dora Tillier escalpelizam os contrastes da defeituosa alma humana real, de todos e de cada um de nós, à sua maneira e feitio, contrapondo duas pessoas que nada têm em comum, origens, cultura, objetivos, mas que por acidente, primeiro, e depois por teimosia obstinada, juntam os seus destinos para viver o amor das suas vidas.
O fruto desta relação são dois filhos que tendem mais em afastá-los do que a aproximá-los considerando as particularidades das suas personalidades conflituosas por vocação, interesseiros, jogadores e até malignos, tornam-se elementos de desunião e de afastamento do casal para os quais o amor que os une constitui o único farol que ilumina o percurso das suas existências tão conflituosas como apaixonadas.
Só o amor é eterno, as pessoas não e por isso separam-se, odeiam-se com todo o amor e legalizam a sua separação até que o afastamento imposto se torne insuportável pelo amor que prevalece e se afirme como uma maldição. Agora noutro contexto e com outra idade o amor toma a forma de uma amizade profunda, que cuida, protege e ampara a falta de segurança do corpo e de nitidez da mente e tudo se transforma embora o amor subsista naquela ligação esgotada pelo tempo mas não pelo sentimento.
Esta é uma história da tempestade da vida, magistralmente congeminada por dois atores argumentistas que transformaram a sua própria loucura criativa num filme louco que nos prende e fixa durante os 120 minutos da sua duração. Ambos estão bem adequados ao papel e completam-se na evidência das diferenças dos seus personagens, que nos mostram a vivência de um amor sem reservas, por vezes incongruente e cruel mas sempre dedicado ao objeto do seu amor. A cena final, perpetrada sem piedade nem remorso, corporiza a demonstração maior desse amor total e eterno. A ver, recomendo vivamente, pela qualidade da história e pela loucura benigna que nos transmite.

Classificação: 8 numa escala de 10

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