Sinopse
Como é que Sarah e Victor se
conseguiram suportar durante mais de 45 anos? Quem era, afinal, esta mulher
enigmática que vivia na sombra do seu marido? Amor, ambição, traições e
segredos alimentam esta odisseia de um casal fora do normal, que nos acompanha
nesta história do século passado.
Opinião
por Artur Neves
Esta é uma história de amor,
de amor real com todos os ingredientes das pessoas reais que amam, que se
deixam amar, que detestam as condições a que se submeteram para conquistar e
manter o seu amor e não o querem perder porque amam, partilham esse amor,
rejeitam o que não vêm como parte do amor, deprimem porque amam, choram para
não perder, rasgam-se para não maltratar, humilham-se porque são amadas e vivem
assim um amor esdruxulo.
Sarah (Dora Tillier) e
Victor Adelman (Nicolas Bedos), realizador do filme e argumentista em conjunto
com Dora Tillier escalpelizam os contrastes da defeituosa alma humana real, de
todos e de cada um de nós, à sua maneira e feitio, contrapondo duas pessoas que
nada têm em comum, origens, cultura, objetivos, mas que por acidente, primeiro,
e depois por teimosia obstinada, juntam os seus destinos para viver o amor das
suas vidas.
O fruto desta relação são
dois filhos que tendem mais em afastá-los do que a aproximá-los considerando as
particularidades das suas personalidades conflituosas por vocação,
interesseiros, jogadores e até malignos, tornam-se elementos de desunião e de
afastamento do casal para os quais o amor que os une constitui o único farol
que ilumina o percurso das suas existências tão conflituosas como apaixonadas.
Só o amor é eterno, as
pessoas não e por isso separam-se, odeiam-se com todo o amor e legalizam a sua
separação até que o afastamento imposto se torne insuportável pelo amor que prevalece
e se afirme como uma maldição. Agora noutro contexto e com outra idade o amor
toma a forma de uma amizade profunda, que cuida, protege e ampara a falta de
segurança do corpo e de nitidez da mente e tudo se transforma embora o amor
subsista naquela ligação esgotada pelo tempo mas não pelo sentimento.
Esta é uma história da
tempestade da vida, magistralmente congeminada por dois atores argumentistas que
transformaram a sua própria loucura criativa num filme louco que nos prende e
fixa durante os 120 minutos da sua duração. Ambos estão bem adequados ao papel
e completam-se na evidência das diferenças dos seus personagens, que nos mostram
a vivência de um amor sem reservas, por vezes incongruente e cruel mas sempre
dedicado ao objeto do seu amor. A cena final, perpetrada sem piedade nem
remorso, corporiza a demonstração maior desse amor total e eterno. A ver,
recomendo vivamente, pela qualidade da história e pela loucura benigna que nos
transmite.
Classificação: 8 numa escala
de 10
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