31 de outubro de 2017

Opinião – “O Castelo de Vidro” de Destin Daniel Creton

Sinopse

Uma jovem menina atinge a maioridade numa família disfuncional de nómadas inconformados, com uma mãe que é uma artista excêntrica e um pai alcoólatra que tenta despertar a imaginação das crianças com a esperança que elas se abstraiam da pobreza em que vivem.

Opinião por Artur Neves

Destin Daniel Creton, realizador Havaiano, nascido em 1978 em Maui nos USA, traz-nos aqui uma saga familiar real, baseada no livro de Jeannette Walls, (Brie Larson) atualmente jornalista no New York Magazine, sobre a sua própria vida e do seu irmão Brian e irmã Lori, bem como de sua mãe, Rose Mary Walls (Naomi Watts) que sofreram o despotismo do cabeça de casal, na constituição de uma família disfuncional que apesar de todas as vicissitudes sobreviveu unida.
Woody Harrelson, com a sua expressão de normal insanidade que estamos habituados a reconhecer-lhe desempenha magistralmente o papel do patriarca Rex Walls, ex-militar revoltado com o sistema e avesso a tudo o que fosse trabalho regular com horários, deveres e obrigações. Tinha frequentado engenharia durante a vida militar e esses incompletos conhecimentos, aliados a uma inteligência natural, permitiam-lhe a concepção de ideias com que ele iludia os anseios da família e as suas reais necessidades, através de promessas nunca cumpridas e de sonhos visionários de que ele se servia para sublimar a constante pressão familiar. A sua verdadeira atividade resumia-se e pequenos estratagemas e golpes entre amigos, muito álcool e um vício inveterado de fumar que o há de conduzir à morte.
Rose Mary, pintava quadros e descurava a casa, a comida que não existia e o tratamento dos filhos, cujos mais novos eram assistidos em sequência pelos mais velhos, na sua ânsia de criação da obra-prima que nunca aparecia.
Neste ambiente destacava-se Jeannette Walls, que pela sua sensatez e intuição inata era preferida pelo pai, muito embora também usada por este. Todo este clima familiar disfuncional, louco e por vezes perverso, é-nos mostrado com um realismo cru que as fantasias de Rex só acentuam, não só pela impossibilidade que encerram, como também na “cortina de fumo” que se pretendem constituir para ocultar uma enorme inaptidão para a vida e para o trabalho.
Rex Walls não é louco, nem realmente mau, é simplesmente inadaptado convicto e usa a sua inteligência para mascarar com fantasias dilatórias a sua congénita incapacidade de realização e de iniciativa, sempre voltado e inspirado para obras megalómanas de realização impossível como os meios ao dispor, dos quais “O Castelo de Vidro” ocupa o lugar principal.
O filme transmite-nos com realismo um ambiente de vida avulsa e insana para o que contribuem interpretações de personagens consistentes, com espessura e estatuto adequado ao meio rural onde vivem. Os avós de Jeannette são inenarráveis e o almoço de família alargado é digno de figurar numa galeria de aberrações. Recomendo, é interessante do ponto de vista da exuberância da diversidade humana.

Classificação: 7,5 numa escala de 10

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