Sinopse
Uma jovem
menina atinge a maioridade numa família disfuncional de nómadas inconformados,
com uma mãe que é uma artista excêntrica e um pai alcoólatra que tenta
despertar a imaginação das crianças com a esperança que elas se abstraiam da
pobreza em que vivem.
Opinião por Artur Neves
Destin
Daniel Creton, realizador Havaiano, nascido em 1978 em Maui nos USA, traz-nos
aqui uma saga familiar real, baseada no livro de Jeannette Walls, (Brie Larson)
atualmente jornalista no New York Magazine, sobre a sua própria vida e do seu
irmão Brian e irmã Lori, bem como de sua mãe, Rose Mary Walls (Naomi Watts) que
sofreram o despotismo do cabeça de casal, na constituição de uma família
disfuncional que apesar de todas as vicissitudes sobreviveu unida.
Woody
Harrelson, com a sua expressão de normal insanidade que estamos habituados a
reconhecer-lhe desempenha magistralmente o papel do patriarca Rex Walls,
ex-militar revoltado com o sistema e avesso a tudo o que fosse trabalho regular
com horários, deveres e obrigações. Tinha frequentado engenharia durante a vida
militar e esses incompletos conhecimentos, aliados a uma inteligência natural,
permitiam-lhe a concepção de ideias com que ele iludia os anseios da família e
as suas reais necessidades, através de promessas nunca cumpridas e de sonhos
visionários de que ele se servia para sublimar a constante pressão familiar. A sua
verdadeira atividade resumia-se e pequenos estratagemas e golpes entre amigos,
muito álcool e um vício inveterado de fumar que o há de conduzir à morte.
Rose
Mary, pintava quadros e descurava a casa, a comida que não existia e o
tratamento dos filhos, cujos mais novos eram assistidos em sequência pelos mais
velhos, na sua ânsia de criação da obra-prima que nunca aparecia.
Neste
ambiente destacava-se Jeannette Walls, que pela sua sensatez e intuição inata
era preferida pelo pai, muito embora também usada por este. Todo este clima
familiar disfuncional, louco e por vezes perverso, é-nos mostrado com um
realismo cru que as fantasias de Rex só acentuam, não só pela impossibilidade
que encerram, como também na “cortina de fumo” que se pretendem constituir para
ocultar uma enorme inaptidão para a vida e para o trabalho.
Rex Walls
não é louco, nem realmente mau, é simplesmente inadaptado convicto e usa a sua inteligência
para mascarar com fantasias dilatórias a sua congénita incapacidade de
realização e de iniciativa, sempre voltado e inspirado para obras megalómanas de
realização impossível como os meios ao dispor, dos quais “O Castelo de Vidro”
ocupa o lugar principal.
O
filme transmite-nos com realismo um ambiente de vida avulsa e insana para o que
contribuem interpretações de personagens consistentes, com espessura e estatuto
adequado ao meio rural onde vivem. Os avós de Jeannette são inenarráveis e o
almoço de família alargado é digno de figurar numa galeria de aberrações. Recomendo,
é interessante do ponto de vista da exuberância da diversidade humana.
Classificação:
7,5 numa escala de 10
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