21 de outubro de 2017

Opinião – “L’Economie du Couple” de Joachim Lafosse

Sinopse

Depois de quinze anos de vida em comum, Marie e Boris separam-se. Foi ela que comprou a casa na qual eles vivem com os seus dois filhos, mas foi ele que a remodelou completamente. Obrigados a coabitar temporariamente devido aos parcos meios de Boris, na hora do acerto de contas, nenhum dos dois quer deixar aquilo que julga ser seu por direito.

Opinião por Artur Neves

Não conhecemos Marie (Bérénice Bejo) nem Boris (Cédric Kahn), nem como chegaram ali, encontramo-los em plena crise matrimonial, na fase de saturação pela simples presença do outro, tendo previamente assumido a sua incompatibilidade mútua e decidido a separação de facto para que cada um possa, ou melhor, deva seguir o seu caminho, só que as contas ainda não estão feitas e nessa fase, para aquelas pessoas que nunca vimos anteriormente, não se trata somente de contabilidade doméstica de deve e haver.
Digo que não conhecemos Marie nem Boris porque nada na história nos elucida como chegaram aquela situação depois de 15 anos de matrimónio e de dois filhos, que devido à sua pouca idade oscilam e vacilam entre a preferência por um ou por outro, o que torna mais constrangedor o nosso olhar e o convite à nossa consideração sobre uma disputa que nos é apresentada sem qualquer informação do passado daquela relação, que no intervalo que nos é mostrado está recheada de questionamento mútuo.
Pelo desenrolar das constantes discussões, propostas mutuamente recusadas, acusações veladas e diretas, e simulacros de paixão algo incompreensíveis, vamos inferindo um percurso que não deve ter sido pacífico nem recomendável, mas nada nos leva a optar por qualquer das partes pelo que a aritmética de divisão de bens que pretendem concluir nos passa um pouco ao lado. Para complicar, a mãe de Marie; Babou (Marthe Keller) presumidamente conhecedora de toda a história, defende mais o genro do que a filha, que a destrata na sequência dos seus conselhos e para ali ficamos a olhar para a história sem qualquer opinião que se forme no nosso espírito.
O título Inglês para este filme belga é, “After Love” e para mim está mais adequado do que o nome original que lhe foi dado, considerando que perante os eventos dramáticos que nos são apresentados a aritmética dos bens tem um caracter absolutamente secundário em toda esta história realçando apenas o comportamento mesquinho de ambos os contendores.
Apesar de viverem um drama, ambos os personagens não apresentam estatura, nem densidade emocional que nos convença, construindo apenas um esboço dos destroços humanos que pretendem representar e que o guião do filme lhes permite. No final, perante um juiz, alcançam a desejada separação e vão cada um para seu lado e nós metemos a “viola no saco” e vamos para casa, algo encabulados por termos papado aquilo.

Classificação: 4 numa escala de 10

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