20 de outubro de 2017

Opinião – “K.O.” de Fabrice Gobert


Opinião – “K.O.” de Fabrice Gobert
Sinopse
Antoine Laconte é um homem de poder arrogante e dominador, tanto no seu meio profissional como na sua vida privada. Depois de um dia particularmente stressante, fica em coma. Quando acorda nada é como era antigamente; sonho ou realidade? Será uma conspiração contra ele? Ele está K.O.
Opinião por Artur Neves
Classificado como thriller, este filme apresentado em antestreia na Festa do Cinema Francês 2017, traz-nos uma história que dificilmente interpretamos como pertencendo à classificação atribuída, estabelecendo mais uma vez as significativas diferenças entre as cinematografias europeias e americanas, que o nosso mercado tem tendência em nos servir.
Laconte (Laurent Lafitte) é um gestor de topo numa empresa de comunicações que age discricionariamente com todos os subordinados na perseguição voraz do sucesso absoluto que ele pretende alcançar para a empresa e para si próprio como objectivo último da sua passagem pela vida. Na sua vida privada, escassa e frugal, replica o mesmo comportamento reunindo-se de bens materiais avultados, onde desfruta de uma caricatura de vida sentimental, parca de afetos, na companhia da sua mulher, Solange (Chiara Mastroianni) que deambula solitária pela casa com muito pouca ligação com ele e com as suas necessidades, que ele satisfaz onde calha.
Porém, há sempre um dia em que tudo muda, e esse dia acontece quando na sequência de um enfarto ligeiro ele entra em coma e o seu cérebro letárgico reverte todos os conceitos estabelecidos fazendo-o “viver” uma vida oposta da que está convencido que é a que detém por direito, confrontando-o com a “vida” dos outros que ele subjuga.
Imobilizado na cama do hospital, o outrora poderoso Laconte, “faz-se” sofrer das dificuldades normais que provoca aos outros, como que vivendo a sua vida num espelho, que transforma a imagem simétrica do seu contrário, na realidade que ele é agora forçado a viver, coabitando e relacionando-se com todos os personagens da sua vida real, mas num patamar de igualdade que lhe é completamente estranho.
Trata-se pois da luta interna deste homem, agora fragilizado pelo acidente vascular que sofreu, sendo confrontado com a sua fraqueza e normalidade humana que ele sempre recusou, que ele sempre escondeu sob o manto diáfano do despotismo em benefício de um bem maior, que subitamente, através de evento violento o despoja das suas premissas e o confronta com uma vida e uma realidade que totalmente desconhece, embora sempre tenha vivido nela mas noutro contexto. Trata-se no fundo, do confronto connosco próprios para que possamos progredir para um nível superior de existência, se soubermos aprender e aceitar a oportunidade de redenção.
Bem interpretado, escorreito no argumento, sem deixar pontas soltas e com uma história interessante eis aqui um bom exemplar da cinematografia francesa. Recomendo.
Classificação: 7 numa escala de 10

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