Opinião
– “K.O.” de Fabrice Gobert
Sinopse
Antoine Laconte é um homem
de poder arrogante e dominador, tanto no seu meio profissional como na sua vida
privada. Depois de um dia particularmente stressante, fica em coma. Quando
acorda nada é como era antigamente; sonho ou realidade? Será uma conspiração
contra ele? Ele está K.O.
Opinião
por Artur Neves
Classificado como thriller,
este filme apresentado em antestreia na Festa do Cinema Francês 2017, traz-nos
uma história que dificilmente interpretamos como pertencendo à classificação
atribuída, estabelecendo mais uma vez as significativas diferenças entre as
cinematografias europeias e americanas, que o nosso mercado tem tendência em
nos servir.
Laconte (Laurent Lafitte) é
um gestor de topo numa empresa de comunicações que age discricionariamente com
todos os subordinados na perseguição voraz do sucesso absoluto que ele pretende
alcançar para a empresa e para si próprio como objectivo último da sua passagem
pela vida. Na sua vida privada, escassa e frugal, replica o mesmo comportamento
reunindo-se de bens materiais avultados, onde desfruta de uma caricatura de
vida sentimental, parca de afetos, na companhia da sua mulher, Solange (Chiara
Mastroianni) que deambula solitária pela casa com muito pouca ligação com ele e
com as suas necessidades, que ele satisfaz onde calha.
Porém, há sempre um dia em que
tudo muda, e esse dia acontece quando na sequência de um enfarto ligeiro ele
entra em coma e o seu cérebro letárgico reverte todos os conceitos
estabelecidos fazendo-o “viver” uma vida oposta da que está convencido que é a
que detém por direito, confrontando-o com a “vida” dos outros que ele subjuga.
Imobilizado na cama do
hospital, o outrora poderoso Laconte, “faz-se” sofrer das dificuldades normais que
provoca aos outros, como que vivendo a sua vida num espelho, que transforma a
imagem simétrica do seu contrário, na realidade que ele é agora forçado a
viver, coabitando e relacionando-se com todos os personagens da sua vida real,
mas num patamar de igualdade que lhe é completamente estranho.
Trata-se pois da luta
interna deste homem, agora fragilizado pelo acidente vascular que sofreu, sendo
confrontado com a sua fraqueza e normalidade humana que ele sempre recusou, que
ele sempre escondeu sob o manto diáfano do despotismo em benefício de um bem
maior, que subitamente, através de evento violento o despoja das suas premissas
e o confronta com uma vida e uma realidade que totalmente desconhece, embora
sempre tenha vivido nela mas noutro contexto. Trata-se no fundo, do confronto connosco
próprios para que possamos progredir para um nível superior de existência, se
soubermos aprender e aceitar a oportunidade de redenção.
Bem interpretado, escorreito
no argumento, sem deixar pontas soltas e com uma história interessante eis aqui
um bom exemplar da cinematografia francesa. Recomendo.
Classificação: 7 numa escala
de 10
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