Sinopse
Cantor carismático de uma
banda hard rock, Vincent, de 24 anos, já tatuou metade do seu corpo. Calmo e de
olhar incandescente, o mundo pertence-lhe.
A chegada de uma nova mulher
na vida do seu pai vai trazer tensões.
Vincente não consegue conter
a sua cólera nem o seu desejo.
Opinião
por Artur Neves
Na mitologia grega existe a
fábula de Phedra, esposa de Teseu rei de Atenas, que se apaixona perdidamente
por Hipólito, filho de Teseu no seu primeiro casamento com Antíopa, uma Amazona
que tinha raptado e desposado secretamente, por se ter perdido de amores. O
resultado desta paixão não pode ser edificante e a morte de ambos foi o final
coerente para tamanho sacrilégio segundo a moral da época.
Na nossa história de agora é
o filho; Vincente (Kévïn Azais) que se apaixona por Julia (Monia Chokri), namorada de Hervé (Nathan
Wilcox), seu pai, que este traz para sua casa, partilhada com Vincente. A
recusa inicial do filho, por macular a memória da mãe, depressa se transforma
numa paixão avassaladora pela promitente madrasta, decorrente da semelhança de
idades e de cultura, numa sociedade profundamente marcada pela identificação
com valores e convenções que provoquem a rotura com as práticas anteriores.
O cinema europeu e
particularmente o cinema Francês, sempre soube abordar com profundidade os
dramas sociais e da alma humana quando contrariada nas suas profundas
aspirações de desejo e de felicidade. Vincente é um jovem revoltado com a sua
existência exprimindo essa incompatibilidade nas suas performances de vocalista
hard rock que mais parecem um insulto geral a toda a sociedade que o “condenou”
a mascarar-se com imagens tatuadas na ansia de ser diferente e de trazer algo
de novo a um dia-a-dia insípido e vulgar. O desempenho do ator é convincente,
bem como a sua transmutação quando se encontra com o objeto da sua paixão que
lhe causa ódio contra o pai, outrora sua referência e companheiro de trabalho
na faina do mar a que ambos se dedicam.
É pois neste caldeirão de
sentimentos emergentes e nunca sentidos que Hervé se apercebe da paixão entre
os dois amantes genuínos, porque próximos e culturalmente semelhantes, e que
numa primeira instancia luta pela mulher que lhe arrebatou o coração, mas
depressa reconhece ser uma batalha perdida. É aqui que o filme mais se afasta
da fábula de Phedra, pois o pai, sem ânimo nem coragem para lutar, abdica do
seu papel de macho alfa e desiste num desfecho que me parece que a história não
merecia. Interessante pelo argumento e pelo desempenho dos atores.
Classificação: 5 numa escala
de 10
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