19 de outubro de 2017

Opinião – “Compte tes Blessures” de Morgan Simon


Sinopse

Cantor carismático de uma banda hard rock, Vincent, de 24 anos, já tatuou metade do seu corpo. Calmo e de olhar incandescente, o mundo pertence-lhe.
A chegada de uma nova mulher na vida do seu pai vai trazer tensões.
Vincente não consegue conter a sua cólera nem o seu desejo.

Opinião por Artur Neves

Na mitologia grega existe a fábula de Phedra, esposa de Teseu rei de Atenas, que se apaixona perdidamente por Hipólito, filho de Teseu no seu primeiro casamento com Antíopa, uma Amazona que tinha raptado e desposado secretamente, por se ter perdido de amores. O resultado desta paixão não pode ser edificante e a morte de ambos foi o final coerente para tamanho sacrilégio segundo a moral da época.
Na nossa história de agora é o filho; Vincente (Kévïn Azais) que se apaixona por Julia (Monia Chokri), namorada de Hervé (Nathan Wilcox), seu pai, que este traz para sua casa, partilhada com Vincente. A recusa inicial do filho, por macular a memória da mãe, depressa se transforma numa paixão avassaladora pela promitente madrasta, decorrente da semelhança de idades e de cultura, numa sociedade profundamente marcada pela identificação com valores e convenções que provoquem a rotura com as práticas anteriores.
O cinema europeu e particularmente o cinema Francês, sempre soube abordar com profundidade os dramas sociais e da alma humana quando contrariada nas suas profundas aspirações de desejo e de felicidade. Vincente é um jovem revoltado com a sua existência exprimindo essa incompatibilidade nas suas performances de vocalista hard rock que mais parecem um insulto geral a toda a sociedade que o “condenou” a mascarar-se com imagens tatuadas na ansia de ser diferente e de trazer algo de novo a um dia-a-dia insípido e vulgar. O desempenho do ator é convincente, bem como a sua transmutação quando se encontra com o objeto da sua paixão que lhe causa ódio contra o pai, outrora sua referência e companheiro de trabalho na faina do mar a que ambos se dedicam.
É pois neste caldeirão de sentimentos emergentes e nunca sentidos que Hervé se apercebe da paixão entre os dois amantes genuínos, porque próximos e culturalmente semelhantes, e que numa primeira instancia luta pela mulher que lhe arrebatou o coração, mas depressa reconhece ser uma batalha perdida. É aqui que o filme mais se afasta da fábula de Phedra, pois o pai, sem ânimo nem coragem para lutar, abdica do seu papel de macho alfa e desiste num desfecho que me parece que a história não merecia. Interessante pelo argumento e pelo desempenho dos atores.

Classificação: 5 numa escala de 10

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