7 de setembro de 2017

Opinião – (MOTEL/X) – “Kaleidoscope” de Rupert Jones


Sinopse

Um ano após ter saído da prisão, Carl Woods (Toby Jones) de meia-idade, conseguiu adaptar-se ao mundo exterior. Encontrou emprego e um apartamento e aventura-se agora na sua primeira saída noturna com uma mulher em mais de 50 anos. Este evento coincide com o reaparecimento da sua mãe ausente e com as tentativas dela no sentido de apaziguar as diferenças que tão violentamente os afastaram. Enquanto Carl tenta suportar as influências nefastas do seu passado, sente-se cada vez mais atraído pelos pensamentos negros do seu vórtice psicológico.

Opinião por Artur Neves

Em primeiro lugar esclareço que um caleidoscópio é um instrumento ótico que opera segundo o princípio da reflexão múltipla, em que, duas ou mais superfícies refletoras inclinadas formando ângulos agudos entre si e fechadas no interior de um tubo, em que numa extremidade existe um dispositivo rotativo que suporta vidros coloridos transparentes. Na extremidade oposta é possível olhar para o seu interior e observar-se a geração de imagens múltiplas com um padrão regular mas em constante mudança.
Tal como os padrões mutáveis do caleidoscópio, assim observamos o comportamento de um homem perturbado por uma educação deformada de uma mãe austera e de um pai fraco que tal como ele, foi toda a vida dominado pelo seu despotismo da sua vontade determinística.
Rupert Jones, irmão do ator principal deste filme, Toby Jones, tem experiencia em série televisivas e curtas-metragens tendo-se agora lançado em obras mais arrojadas das quais este filme é um bom exemplo da sua capacidade de realização. Com significativas influências do mestre Hitchcock, mas também de Roman Polansky em “O Inquilino” de 1976, Rupert Jones constrói aqui uma personagem perturbada pelas suas obsessões, falhanços de vida, embora reconhecidos e já expiados e o fracasso como pessoa, em especial no que toca aos relacionamentos com as mulheres como uma projeção do profundo ódio que nutre pela mãe.
O personagem construído por Toby Jones e da sua personalidade paranoica, embora obstinada, em torno da qual todo o filme se desenvolve é consistente e credível, nos pormenores das suas manias, nos seus sonhos sempre perturbados, nas suas ações erráticas e precipitadas, na relação com a mãe sempre conflituosa, na relação com uma companhia de ocasião que traz para casa sem todavia conseguir consumar os seu desígnios por desconfiança e por projeção do ódio pela mãe que lhe condicionou toda a vida num caleidoscópio de emoções constantemente mutáveis e diferentes tal como as cores e os padrões observados através do caleidoscópio que o pai lhe oferecera em criança.
Sem se poder considerar um filme de terror típico, “Kalaidoscope” consegue criar uma atmosfera de tensão crescente que nos agarra á ação e às vicissitudes daquele ser que sentimos consumir-se no fogo agitado da sua personalidade perturbada. Recomendo

Classificação: 8 numa escala de 10

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