7 de setembro de 2017

Opinião – (MOTEL/X) – “The Bar” de Alex de la Iglesia


Sinopse

Nove horas da manhã, algumas pessoas tomam o pequeno-almoço num café no centro de Madrid. Uma delas, um homem, está com pressa. Ao sair para a rua, um tiro atinge-o inesperadamente. Ninguém se atreve a ajudá-lo. Presos dentro do café, todos se apercebem rapidamente de que nem deles próprios estão a salvo…

Opinião por Artur Neves

Este filme reúne um conjunto harmonioso de comédia negra, crítica social e thriller psicológico numa história que se desenvolve entre desconhecidos, mas que ao serem forçados a coabitar um mesmo espaço contra sua vontade, lhes faz perder as regras da convivência cerimoniosa que se pratica entre estranhos conduzindo-os numa espiral de desespero à mais completa desumanidade ente seres da mesma espécie.
Os factos que presenciaram causam-lhes estupefação, medo e insegurança. Nenhum dos presentes consegue interpretar com realismo e verdade a razão do que aconteceu, e de todas as hipóteses colocadas aleatoriamente geram-se modelos de comportamento que são imputáveis à vez, a uns, e aos outros quando as evidências ilibam os primeiros, ou quando a falência dos argumentos faz perder o fio da conversa em curso e partem para outras lucubrações tão impróprias como as primeiras.
Todos os diálogos estão impregnados do egoísmo que pauta as relações humanas numa demonstração crítica das convenções sociais, somente válidas quando beneficiam os “meus” interesses, desmitificando a naturalidade do respeito mútuo, da entreajuda generosa, e até do amor que parece florescer, embora timidamente, entre dois elementos deste microcosmos social, confinado á exiguidade do espaço do bar, que todavia se vem a revelar mais extenso do que inicialmente aparentava.
Alex de la Iglesia já possui créditos firmados no género no qual “O Dia da Besta” de 1995 constitui uma referência do autor e do seu argumentista de eleição; Jorge Guerricaechevarria, companheiro de vários projetos com igual sucesso.
“El Bar”, na versão Hispânica, constitui assim um documento valioso que ilustra a condição humana conflituosa e desconfiada quando os elementos se conjugam para alterar o que acreditamos, ou que pensamos que acreditamos, numa toada de diálogos cínicos embora reveladores das verdadeiras emoções que os inspiram, conduzindo-nos numa espiral de degradação que provocará ao espetador um sorriso amarelado, tão amarelado quanto reconheça na sua vida corrente uma aproximação, ainda que remota e diferenciada, às motivações dos personagens. Bom espetáculo, recomendo somente nessa condição…

Classificação: 7 numa escala de 10

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