Sinopse
Nove horas da manhã, algumas
pessoas tomam o pequeno-almoço num café no centro de Madrid. Uma delas, um
homem, está com pressa. Ao sair para a rua, um tiro atinge-o inesperadamente.
Ninguém se atreve a ajudá-lo. Presos dentro do café, todos se apercebem
rapidamente de que nem deles próprios estão a salvo…
Opinião
por Artur Neves
Este filme reúne um conjunto
harmonioso de comédia negra, crítica social e thriller psicológico numa história que se desenvolve entre
desconhecidos, mas que ao serem forçados a coabitar um mesmo espaço contra sua
vontade, lhes faz perder as regras da convivência cerimoniosa que se pratica
entre estranhos conduzindo-os numa espiral de desespero à mais completa
desumanidade ente seres da mesma espécie.
Os factos que presenciaram
causam-lhes estupefação, medo e insegurança. Nenhum dos presentes consegue
interpretar com realismo e verdade a razão do que aconteceu, e de todas as
hipóteses colocadas aleatoriamente geram-se modelos de comportamento que são
imputáveis à vez, a uns, e aos outros quando as evidências ilibam os primeiros,
ou quando a falência dos argumentos faz perder o fio da conversa em curso e
partem para outras lucubrações tão impróprias como as primeiras.
Todos os diálogos estão
impregnados do egoísmo que pauta as relações humanas numa demonstração crítica
das convenções sociais, somente válidas quando beneficiam os “meus” interesses,
desmitificando a naturalidade do respeito mútuo, da entreajuda generosa, e até
do amor que parece florescer, embora timidamente, entre dois elementos deste
microcosmos social, confinado á exiguidade do espaço do bar, que todavia se vem
a revelar mais extenso do que inicialmente aparentava.
Alex de la Iglesia já possui
créditos firmados no género no qual “O Dia da Besta” de 1995 constitui uma referência
do autor e do seu argumentista de eleição; Jorge Guerricaechevarria,
companheiro de vários projetos com igual sucesso.
“El Bar”, na versão
Hispânica, constitui assim um documento valioso que ilustra a condição humana
conflituosa e desconfiada quando os elementos se conjugam para alterar o que
acreditamos, ou que pensamos que acreditamos, numa toada de diálogos cínicos
embora reveladores das verdadeiras emoções que os inspiram, conduzindo-nos numa
espiral de degradação que provocará ao espetador um sorriso amarelado, tão
amarelado quanto reconheça na sua vida corrente uma aproximação, ainda que
remota e diferenciada, às motivações dos personagens. Bom espetáculo, recomendo
somente nessa condição…
Classificação: 7 numa escala
de 10
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