11 de setembro de 2017

Opinião – (MOTEL/X) – “Animals” de Greg Zglinski


Sinopse

O atropelamento de uma ovelha numa estrada rural é o catalisador duma serie de eventos estranhos e inquietantes para o casal Nick, cozinheiro e Anna, escritora de livros infantis. A experiência deixa-os incapazes de saber onde estão; no mundo real, na sua própria imaginação, ou na imaginação de alguém.

Opinião por Artur Neves

O acidente ocorrido na estrada, quando em viagem para o seu retiro na montanha, revela-se muito grave para ambos os membros do casal, considerando que ela fica em coma no hospital e ele fortemente perturbado por ter sido o causador do desastre por motivo de mera e imprudente distração enquanto conduzia.
A consciência com que cada um fica do acidente é diversa e multifacetada, sendo que nela, apesar de estar em coma, permite-lhe experienciar todas as vicissitudes que ambos, enquanto casal, viveram e estão a viver, suas dúvidas, seus desamores, suas contrariedades recíprocas, acentuando-se nas divergências e nas suspeitas que provocam uma transmutação do tempo, não sendo nunca claro onde realmente estão, nem o que se propõem fazer.
Nele, consumido pelo remorso, confunde-se nos seus próprios planos à procura de um apaziguamento utópico que não chega, considerando que o estado dela é verdadeiramente grave e vem a revelar-se irrevogável. Neste turbilhão de pensamentos, nada do que nos é mostrado corresponde à realidade presente mas antes a um imaginário de construção diferenciada de que somos convidados a partilhar mas que não temos qualquer intervenção.
A história baseia-se numa obra escrita por Jorg Kalt que foi recuperada pelo realizador, após o suicídio de Jorg em 2007. Greg Zglinski, reescreveu o tema, expandi-o para configurar o atual argumento que apresenta traços característicos do cinema de Lynch e Polansky e constitui uma parábola sobre o poder da nossa mente quando os eventos a que somos sujeitos nos são adversos.
No limiar dessa realidade construída pelo sofrimento, quer físico, como psicológico a nossa mente constrói múltiplos cenários e coloca-nos a interagir com elementos externos, também eles fruto da fantasia, mas que menor dano nos cause, embora com reduzido sucesso. Não é um filme fácil, mas está bem articulado, bem desempenhado e constitui um tempo de procura de uma verdade que apesar de não ser nossa, nos interessa e empolga.


Classificação: 6 numa escala de 10

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