7 de julho de 2016

Opinião – “Iguais” de Drake Doremus


Sinopse
Uma história de amor contida e repleta de nuances, o filme tem lugar numa sociedade utópica futurista, onde as emoções foram geneticamente suprimidas, num esforço para proteger a sociedade contra a guerra e os conflitos que destruíram gerações anteriores. Ocasionalmente, a supressão falha e as emoções surgem em indivíduos – o Colectivo chama a esta doença Síndrome de Operacionalidade Sistemática, ou SOS. Como a sociedade está cada vez mais ameaçada por esta crise de saúde, todos os doentes de SOS são fortemente medicados ou enviados para o NEA, um centro de correcção do qual ninguém regressa.
Kristen Stewart e Nicholas Hoult interpretam Nia e Silas – os desafortunados amantes do filme, que se conhecem enquanto colegas na revista científica Atmos. À medida que Silas começa a sofrer o início do SOS e as suas emoções despertam, ele dá por si irresistivelmente atraído por Nia, que esconde também sofrer de SOS. Quanto mais tempo tentam reprimir a sua evidente ligação, mais as chamas da atracção se inflamam. Mas, com o recém-descoberto prazer da intimidade, vem a ameaça de serem descobertos e internados no NEA. Com o apoio de um grupo de doentes de SOS que pensam da mesma forma, percebem que a fuga é a sua única opção.

“Iguais”, realizado pelo talentoso cineasta americano Drake Doremus, é um filme emocional e visualmente cativante, com argumento de Nathan Parker e baseado numa ideia original de Doremus.

Opinião por Artur Neves
Drake Doremus, realizador Americano nascido em 1982 na Califórnia, tem como curriculum cinematográfico os filmes: “Spooner”, uma comédia mais ou menos romântica em 2009, “Like Crazy” e “Um novo Fôlego” duas histórias de amor em 2011 e 2013 respectivamente, e em 2015, este “Iguais” que também não se afasta da história de amor romântica, excepto no facto de acontecer numa sociedade distópica (e não; “utópica” como é referido na sinopse) num futuro não referenciado. Como tal, não percebo também como a sinopse anterior o refere como; “talentoso”, considerando que este epíteto deverá ser atribuído ao autor de uma obra com mais profundidade do que esta. Ser produzido pela Scott Free Productions é que para mim constitui surpresa, pois Ridley Scott não é propriamente um estreante neste género de cinema tal como demonstrado em: “Gladiador”, “Prometheus”, “Perdido em Marte” e outros mais antigos.
Então, nessa sociedade fabricada artificialmente por seres desprovidos de emoções (os que as tinham eram classificados como defeituosos) dois dos seus membros degeneram e apaixonam-se, primeiro contidamente, depois desesperadamente pois sabem que se forem descobertos o seu destino é uma punição severa com privação de liberdade para “tratamento da doença” e no limite, a morte. A procriação é designada por escolha e conseguida através de inseminação artificial, sendo o estado quem se ocupa do desenvolvimento do novo ser após o parto, sem que haja lugar para a noção de maternidade.
O amor acontece entre Silas (Nicholas Hoult) e Nia (Kristen Stewart) que tem no seu curriculum ter sido a estrela de “Crepúsculo” particularmente adequado para uma apaixonada, sofredora e sacrificada, que possui a experiencia prévia de um caso de amor com vampiros. A acção decorre no ambiente asséptico do tal futuro distópico, com pessoas obedientes, absolutamente funcionais, trabalhadores controlados, cumpridores nos horários e nos comportamentos, em que o estado confia plenamente considerando a ampla liberdade com que se movem no seu espaço de trabalho, em casa ou no lazer, sem uma câmara de vigilância, ou outro meio de controlo além da “picagem do ponto” matinal à entrada do escritório.
Como bons clandestinos ao desrespeito da ordem instituída, usam os lavabos (comuns para homens e mulheres, considerando que são desprovidos de emoções) como lugar de encontro para a consumação do sentimento descoberto, para lá do horário normal de trabalho, sem que isso levante qualquer suspeita concreta aos colegas e superiores. Ou seja, para resumir a contradição, tudo se passa numa sociedade futurista e perfeita, com os defeitos mais comuns da nossa sociedade normal, que o tal futuro pretende resolver através daquela nova ordem instituída.
E assim decorrem cerca de 100 minutos, com uma fraquinha história de amor proibido, entre os lavabos do emprego, a casa dele e o lugar de reunião com outros clandestinos para prepararem a fuga que se vem a realizar atabalhoadamente e com soluções de último recurso, que baralham os dados iniciais postulados para o desenvolvimento desta história. Se o realizador pretendia figurar uma sociedade sem emoções, conseguiu perfeitamente tanto na história como neste filme, onde falta “chama”.
Classificação: 4,5 numa escala de 10

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