6 de janeiro de 2016

Opinião – “Brooklyn” de John Crowley


Sinopse


Brooklyn conta-nos a profundamente emocionante história de Elis Lacey (Saoirse Ronan), uma jovem imigrante irlandesa que atraída pela promessa do sonho americano, troca a Irlanda e o conforto da casa da sua mãe, pelos bairros de Brooklyn de 1950. As iniciais saudades que a mantinham acorrentada diminuem com o surgimento de um novo romance, que impele Eilis para o encanto inebriante do amor. Mas rapidamente a sua nova vivacidade é interrompida pelo seu passado, e Eilis tem de escolher entre dois países e as vidas que cada um oferece.

Opinião por: Artur Neves

Este filme passado na década de 50 assenta na demanda de muitos Irlandeses pelas melhores condições de vida na América prometida, como alternativa à pobreza generalizada que se vivia na Irlanda nos anos a seguir à 2ª guerra. Nova York era a terra de destino, particularmente o distrito de Brooklyn que devido à cultura Inglesa da sua população imigrante criou características únicas ainda hoje distintivas dos outros distritos de Nova York.
Ellis, bem interpretado por Saoirse Ronan é uma moça que trabalha sob o jugo conservador e autoritário de uma Miss Kelly, (Brid Brennan), mulher austera, preconceituosa e solitária que dirige a loja com pulso de ferro adquirido da guerra recém-vivida, conduzindo todos, clientes incluídos, a um relacionamento de revolta silenciosa ou de desistência e abandono, como aconteceu à nossa heroína que sentiu mais atracção pelo desconhecido incerto da vida fora do seu país original, muito embora tivesse o apoio da irmã Mary e de Father Flood (Jim Broadbent) que lhe facilitou a integração no novo país.
É pois aqui que pela primeira vez conhece a paixão e o amor e tem o ensejo de viver um ambiente social mais libertário do que na sua terra natal com amigos e actividades que a fazem pensar na felicidade sonhada. Este amor enche-lhe a alma, é a sua razão de viver, a sua justificação de luta e a esperança para o futuro que está a construir com o seu companheiro.
Tudo parece correr bem quando o imprevisto a faz retornar à terra natal para apoiar a mãe e voltar ao ambiente de convenções impostas que tinha rejeitado. Muito embora experimentando alguma evolução, a Irlanda continuava igual a si própria, convencional e provinciana. Todavia este retorno deu-lhe a possibilidade de encontrar velhos amigos, velhos hábitos, antigos contactos actualmente mais apetecíveis e a vida anterior protegida, garantida pelo conhecimento do meio e incentivada pela mãe que a pretende reter. É um tempo de descanso, de abrandamento da luta do dia-a-dia e é nesse ambiente que vai ter de decidir a sua vida e o que realmente pretende para o seu futuro.
O realizador; John Crowley consegue transmitir-nos esse dilema que ocupa a sua alma, que lhe permite um abandono confortável mas que lhe provoca uma ansiedade surda, velada, silenciosa, um segredo só seu que não sabe como resolver devido ao fácil envolvimento com uma vida que já viveu embora noutros padrões. Eis então que Miss Kelly, igual a si própria a questiona sobre o seu segredo e a faz tomar a decisão mais acertada para o seu coração indeciso, numa cena intensa de dramática beleza. É um filme de pessoas e dos sentimentos que as atravessam para atingir os seus objectivos. Está bem feito e não deixa pontas soltas.
Para o espectador subsiste uma última pergunta; Se não fosse a coscuvilhice maldosa de Miss Kelly qual teria sido a sua decisão?... mas isso já poderia ser argumento para outro filme.
Classificação: 7 numa escala de 10

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