17 de dezembro de 2015

Opinião – Diário de uma Criada de Quarto de Benoit Jacquot



Sinopse
Célestine, uma criada de quarto jovem e bela, acaba de chegar à província, vinda de Paris, para trabalhar com a família Lanlaire. Ela vai evitando os avanços do patrão, enquanto lida também com a Senhora Lanlaire, que governa a casa com um punho de ferro. É então que conhece Joseph, um misterioso jardineiro, por quem fica fascinada. O filme é uma adaptação do romance homónimo de Octave Mirbeau.

Opinião por: Artur Neves
Este filme, baseado na obra homónima de Octave Mirbeau editada em 1900 pela editora Fasquelle, cuja acção se desenrola em França no início do século XX, conta a história de Celestine, uma criada de quarto com ideias avançadas para a época e capacidade intelectual para efectuar o registo em papel das suas reflexões, que por falência de diversas experiencias em Paris é conduzida pela sua agência de emprego a aceitar um lugar na Normandia em casa dos Lanlaire, burgueses abastados que habitam uma mansão cercada por um vasto jardim, onde a nossa heroína é levada a desenvolver uma função contrária às suas aspirações e capacidades.
O filme caracteriza a época através de referências pontuais e de episódios excepcionais sem no entanto conseguir transferir-nos completamente para o ambiente desses tempos de vincada demarcação social, despotismo, falta de direitos, subjugação e frustrações diversas de ambos os lados deste binómio social de senhores e servos que caracterizava a sociedade de então. A senhora Lanlaire, burguesa autoritária, mal-amada e invejosa da beleza serena mas desafiante da sua criada, não torna a vida fácil a Celestine, interpretada por Lea Seydoux (a Bond girl falhada do filme Spectre) e que aqui poderia fascinar-nos com uma interpretação mais consistente se o realizador Benoit Jacquot soubesse tirar partido do seu rosto, capaz de expressões ambíguas e olhar firme embora sereno, e da sua postura sóbria, como resposta às frustrações e desmandos infligidos pela sua patroa.
A história é-nos contada através do dia-a-dia de trabalho na mansão, interrompida por flash backs que nos mostram episódios anteriores da vida de Celestine para justificar a sua saída de Paris e contar a sua história. Se por um lado essas referencias nos mostram o passado da protagonista, por outro, quebram o adensar progressivo do ambiente na casa e do drama em processo, bem como a sua crescente afinidade com Joseph (bem interpretado por Vincent Lindon) homem de carácter duro e solitário, de poucas falas, ideias rígidas tendencialmente fascistas, que irá ter papel fundamental no comportamento de Celestine e no seu futuro. A relação entre eles nunca é de amor, mas antes de paixão por conveniência, de prestação de serviço mútuo, que o realizador não explora nem desenvolve entregando-nos os factos já concluídos deixando ao critério do espectador o desfecho daquela relação, o que constitui uma pobre conclusão para um argumento tão rico em sentimentos intensos.
Curiosamente, este filme de 2015, é o que segue com mais rigor a obra original relativamente às versões anteriores, realizadas em 1916, 1946 e 1964. Destas, só conheço a versão de 1964, realizada por Luis Buñuel que trata com mais detalhe e descrição de pormenor, a personalidade e atitude de Celestine interpretada por Jeanne Moureau, nos seus tempos de glória.

Classificação: 4,5 numa escala de 10

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