Sinopses
Dragão Vermelho: Dragão Vermelho é a história de um
agente do FBI, especializado em serial killers. Ele entra em colapso após a
caçada a um psicopata extremamente perigoso. Mas seus serviços são novamente
requisitados quando um serial killer começa a matar famílias inteiras,
quebrando espelhos da casa e colocando os cacos diretamente nos olhos das
vítimas. E para resolver esse caso, ele conta, a contra gosto, com a ajuda de
um de seus maiores inimigos, o psiquiatra sociopata, o doutor Hannibal Lecter.
O Silêncio dos Inocentes:
Cinco mulheres são brutalmente assassinadas em diferentes localidades
dos Estados Unidos. Para chegar até o sanguinário assassino, a jovem agente do
FBI, Clarice Starling, entrevista o ardiloso psiquiatra Hannibal Lecter, cuja
mente psicopata está perigosamente voltada para o crime. Ao seguir as pistas
apontadas pelo Dr. Lecter, Clarice envolve-se numa teia mortífera
surpreendente. O texto de Thomas Harris é arrepiante.
Hannibal: Agora
que Hannibal Lecter está de volta aos écrans, é esta a melhor altura para ler o
livro de Thomas Harris (também ele um "best-seller"; lançado nos EUA
em 1999, os 3 milhões de exemplares da primeira tiragem esgotaram-se em 2
dias), que serve de base ao argumento do filme. E livro ou filme não são propriamente
uma sequela de "O Silêncio dos Inocentes", mas antes uma
"variação" mais requintada do tema. Hannibal está agora em Florença,
disfarçado de Dr. Fell, um especialista na Itália medieval. E não é por acaso.
Florença é um dos maiores centros de arte do mundo, lugar de saber, mas ao
mesmo tempo de violência, que nos deu, por exemplo, um Boticelli, mas também os
Bórgias, um lugar entre o excesso de cultura e o excesso de barbárie. Que lugar
seria melhor para Hannibal se revelar em todo o seu esplendor de homem e de
monstro? E se por um lado temos a mesma crueldade, as torturas, os estranhos
manjares canibais, por outro temos uma ironia subtil, a sofisticação
aristocrática, a luxúria. E um duelo sensual com Clarice, de quem Hannibal já
tinha saudades, Clarice que ele sempre protegera (embora ela não o soubesse -
ou será que interiormente o adivinhava?), mesmo quando estava preso
("Estás de volta ao caso? Óptimo! Sinto tédio da reforma...). Perante
tamanho sucesso, o produtor do filme já pede ao escritor Thomas Harris uma nova
sequela, e o actor Anthony Hopkins revelou numa entrevista que já tem algumas
ideias sobre o assunto.
Hannibal, A Origem do Mal: Em Hannibal:
a Origem do Mal ficamos a conhecer a infância e a adolescência de Hanniball
Lecter, o célebre serial killer de O Silêncio dos Inocentes, e de
como se transformou num psicopata canibal. Thomas Harris traça as origens de
Hannibal e da irmã, Misha, na Lituânia, quando os pais são mortos pelas tropas
de Hitler. Hannibal sobrevive aos horrores da II Guerra Mundial e, com apenas
oito anos, foge para a França. É adoptado por Lady Murasaki, a mulher do tio,
uma bela e misteriosa aristocrata japonesa. Completamente só, Hannibal leva os
seus demónios consigo que o visitam e atormentam constantemente. É o aluno mais
novo de sempre a entrar para a escola médica e, então, passa a ser ele a
atormentar os seus próprios demónios. A adolescência torna-se num permanente
ajuste de contas com o passado. Descobre que tem dons para além dos académicos
e, nessa epifania, Hannibal Lecter torna-se num prodígio da morte.
Opinião por Marta Nogueira
Muitos
conhecerão Hannibal Lecter, M.D. da trilogia cinematográfica norte-americana.
Talvez
poucos conheçam a sua génese literária, a extraordinária tetralogia escrita
pelo jornalista e escritor Thomas Harris.
Que
valerá a pena passar-lhe os olhos, sim, sem dúvida. No original inglês, de
preferência.
Que
Harris descobriu um filão de ouro, quando em 1981 resolveu aproveitar as
idiossincracias de um tipo criminoso especialmente macabro – o serial killer -
que tem fascinado a humanidade desde que 5 prostitutas de Whitechapel, foram
encontradas mortas e esventradas na foggy London do século passado.
A partir
de Harris sucederam-se os romancistas policiais que aproveitaram este filão
generoso para congeminar personagens que competem pelo sadismo mais requintado.
O último fetiche da geração televisiva mais recente chama-se Dexter e é, como
dizer?, um serial killer simpático, que realiza o cúmulo da pescadinha de rabo
na boca – mata outros serial killers maus (ele é o bom).
Mas
é de Harris a primazia, toda, e é dele, sem dúvida, o maior talento, a mais
profunda complexidade, a mais interessante veia literária do género porque, ao
contrário da maioria dos “romancistas policiais” que proliferam como ervas
daninhas, pasme-se!, Harris sabe escrever e escreve muitíssimo bem.
Que
valerá a pena sobretudo para conhecer a verdadeira história de Hannibal e o seu
verdadeiro fim - muito diferente do final politicamente correcto que Hollywood
lhe ofereceu - e arrepiantemente delicioso.
Recordemos
que Hannibal é uma outra forma de dizer Animal. Animal humano ou humano animal?
Depende da perspectiva e aqui a perspectiva é de uma importância crucial, já
veremos porquê.
Haverá
quem tenha reparado que Hannibal não mata animais? Os irracionais. Limita-se a
comer pessoas. Pouca coisa, portanto, para chocar tantos. Muita coisa para
explicar porque motivo as mulheres se deliciam com o gosto requintado do
Doutor, o seu sentido gourmet apurado e a sua delicadeza absoluta, mesmo quando
brinca com os intestinos de alguém. As mulheres adoram este assassino canibal. Os
homens não entendem … (suspiro) … mas será assim tão difícil de entender que,
no universo feminino, acima da segurança está o charme?
Não
será em sua defesa, porém, que aqui se dirá ter o canibalismo sempre feito
parte da Humanidade. Os primeiros hominídeos apreciavam o sabor dos miolos dos
seus companheiros defuntos, a religião Azteca usava-o como cerimonial
imprescindível e algumas tribos índias devoravam os corações de guerreiros
inimigos para absorverem a sua coragem. Mas Hannibal não canibaliza porque é
humano, sim porque alguns humanos lhe canibalizaram a irmã e, hélas!, o seu
jovem e precoce cérebro se rasga atroz e irreversivelmente no decurso desse
festim macabro.
Que
lhe admiramos a persistência. Como um lobo, perseguirá e comerá cada um dos seus
assassinos e, no processo, tomará o gosto à carne humana. É compreensível.
Porque o ser humano é de hábitos e, diz quem já experimentou, que carne humana
sabe a frango. Talvez que com os condimentos certos possa constituir um acepipe
sem rival.
Em
conclusão, as vítimas de Lecter nunca são ovelhas tresmalhadas, antes demónios
retorcidos pela putrefacção humana, vulgo o egoísmo, a ambição, a mediocridade,
o instinto de sobrevivência.
E que é por isso mesmo que,
por contraste, o psiquiatra vê em Clarice o “mel no leão”.
Que
o amor não tem regras. Mas desde quando é que gostamos de regras, sobretudo no
amor?
Hannibal.
Animal. Canibal. "Hannibal, the Cannibal", assim o apelidam os
polícias que o perseguem, os mesmos que perseguem Clarice, mas por motivos
muito diferentes. Porque ela é mulher e não "deve", não
"pode" assumir lugares de poder dentro da hierarquia policial. São
animais, portanto. E Clarice sabe disto. Só uma mulher inteligente pode
entender Clarice. Ela sabe quão raros serão os homens que a possam entender.
Sente isto, mesmo que não o consiga provavelmente explicar a si própria. E
Hannibal sabe que ela sente que ele a entende.
Tu
sabes que eu sei que tu sabes que eu … ah l’amour …
E
aqui reside um dos fascinantes pontos fulcrais da narrativa de Thomas - por
ironia (ou não) do destino, o único homem de entre todos os outros homens
(animais) que a podem entender, é o maior Animal de todos, o Monstro.
Que
a delicadeza do pensamento de Hannibal, das suas palavras, dos seus gestos, dos
seus pensamentos – o “palácio de memórias” é um conceito brilhante que Harris
roubou a outros autores mas que soube adaptar de forma cativante – é conferida
com uma economia de palavras al dente, apenas o essencial para que o
leitor imagine o resto. Nas entrelinhas existem passinhos de lã e de veludo
cortados, como o limão corta as natas, por gestos impiedosos. Analogia
culinária intencional, ou não estivéssemos a falar de um homem com um paladar
apuradíssimo e um sentido olfactivo fora do vulgar. Que Thomas usa as palavras
como se estas fossem jóias preciosas e terríveis, ingredientes envenenados de
um elixir destinado a provocar emoções precisas no leitor que o bebe.
O
que torna a série de 4 romances de Thomas Harris tão extraordinária, se não
houvesse tantos motivos adicionais mais do que suficientes, é que, enfim, ele
deixa nas entrelinhas esta pergunta arrepiante e contundente: Quem é mais
animal, afinal? Hannibal, o Canibal, dono de uma sensibilidade agudíssima, ou
os agentes do FBI, os homens que farão tudo o que for possível para que uma
mulher não possa juntar-se à sua alcateia? Quem é, afinal, o Canibal? O
devorador de carne humana ou os devoradores da mente?
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