15 de outubro de 2015

Opinião - A Pista de Gelo - Roberto Bolaño


Título: A Pista de Gelo
Autor: Roberto Bolaño
Editora: Quetzal

Sinopse:
Tudo se passa durante um mês de verão numa praia do Mediterrâneo. Há uma mansão arruinada, uma bonita patinadora em decadência, e a paixão de um autarca de província. É há um crime, nas diferentes versões de três narradores que se vão completando e corrigindo. Remo Móran, Gaspar Heredia e Enric Rosquelles estão ligados a esse acontecimento central e, sem o saberem, podiam tê-lo impedido.
Pista de Gelo - que se constrói sobre as linhas características do projeto narrativo de Roberto Bolaño - é um espaço de reflexão sobre a corruptibilidade dos políticos, sobre a ação perturbadora do amor nas pessoas, sobre o desenraizamento, a amizade e a dissolução dos sonhos. E mostra-nos, sobretudo, que nada é o que aparenta ser, nada é bem o que nos contam; e que mesmo na ausência de sentido, a vida prossegue.

Opinião por Jorge Figueiredo:
Paixão, corrupção e homicídio. Estão reunidos os três principais temas para criar um excelente policial. E Bolaño convoca para o livro, igualmente, três vozes masculinas que vão contar os eventos cada um a partir da sua perspectiva.
Três homens a braços com uma mulher que tanto pode ser uma vítima inocente arrastada para meandros impróprios como a manipuladora que para lá os foi chamando a eles. De entre os três homens, cada um tem um percurso individual que os encaminham para aquele momento na pista de gelo que foi construída para Núria. Esses percursos atraem-nos para o centro da trama envolvendo-nos com cada um destes homens cheios de mistérios. São três homens de personalidade duvidosa, movendo-se nas sombras da moral que os devia reger. São homens incapazes de pensar racionalmente nos seus próprios erros e culpas na situação que se vai criando à sua volta.
De entre os três, cada leitor acabará por encontrar um que mais o seduz enquanto personagem, ainda que Bolaño deixe muito do que eles são em aberto para interpretação do leitor. Mas isso é algo que ele faz com o próprio final do livro.
O objectivo de Bolaño, além de treinar a maravilhosa escrita que revela em toda a sua obra, foi trabalhar os ambientes e a sugestão que é capaz de transmitir. Daí que a maior parte do livro seja a preparação do momento do crime e não a sua resolução, que acontece e quase não se dá por ela.
O importante aqui é deixar-se seduzir pela atmosfera em que os personagens se envolvem e que ajudam a aprofundar com a sua interacção progressiva de vidas prestes a cruzarem-se.

Sem comentários: