4 de novembro de 2014

Opinião - Holy Fuck no Music Box



Foi uma Lisboa chuvosa aquela que recebeu os Holy Fuck, quarteto Canadiano de música electrónica, no cavernoso Music Box para o último concerto da tour Europeia do grupo de Toronto. Numa inesperada noite de Domingo, o espaço apresentou-se com uma audiência que começou humilde mas que rapidamente se compôs para uma casa quase cheia.

 Envoltos num cenário parco de adereços, mas dominado por complexas consolas com uma miríade de botões e interruptores, interligados por um mar revolto de cabos, Brian Borcherdt e Graham Walsh encontravam-se frente-a-frente totalmente concentrados nos seus instrumentos, enquanto Matt Schulz na bateria e Matt McQuaid no baixo se mantiveram ao fundo do palco segregados de qualquer contacto com o público. A desconexão esteve quase sempre presente, enaltecida por uma postura quase reminescente do movimento shoegaze com que se apresentaram a tocar o seu mais recente trabalho "Latin", e quebrada apenas pelos breves momentos em que, de forma atrapalhada e quase tímida, Borcherdt agradecia a presença de todos.



A comunicação em definitivo passou sempre pelos sons ensurdecedores da eletrónica experimental dos Holy Fuck. Uma construção elaborada de sons tradicionais envoltos por uma rude névoa digital proveniente dos efeitos e feedbacks. A linha do baixo, ou o ritmo demarcado da percussão, eram o fio condutor onde uma forte e violenta eletrónica, às vezes acompanhada por uma voz distorcida e quase inteligível, se acoplava para formar um todo no limiar da coesão. A performance é ondulante, quase hipnótica, mas abrupta nas paragens e nos arranques. Com os interlúdios entre cada tema a quebrarem o ritmo de corpos que querem dançar, mas que se vêem privados da sua fonte de energia.

O som dos Holy Fuck é atípico, e surge em camadas de uma forma igualmente atípica. Não é usual ver-se rolos de filme de 35mm a serem puxados por maquinaria imperceptível no caos das luzes e projeções, mas que se sentem ao formular pequenas ondas de distorção que contribuem para o todo.  O surreal acumula e recompensa aqueles que se deixam embalar, mas é certo de alienar todos aqueles que não têm já apreço pelo género.

Um concerto curto, mas fortuito e genuíno. Os Holy Fuck vieram, cumpriram, e após um encore saíram do palco com um sorriso nos lábios. Do lado de cá o público vocalizou a vontade de mais, mas para isso terão de esperar pelo seu regresso que se deseja para breve, mas que se quer mais como certo.

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