19 de abril de 2011

Opinião - Este é o meu corpo

Título: Este é o meu corpo
Autor: Filipa Melo
Editora: Sextante Editora

Sinopse:
Um corpo desfigurado de mulher aparece na margem de um rio. Pelas mãos de um médico legista, que pouco a pouco se apropria do cadáver, dialogando com ele, mergulhamos na história das personagens que contribuíram para esta tragédia. A autópsia deste corpo, que é também a autópsia de um crime, revela-nos os meandros da nossa fragilidade física e os reflexos da morte sobre os que continuam vivos.

Opinião por João Lascas:
Continuamos a falar depois da morte. E depois… morremos outra vez.
Esta história é sobre corpos. Vários corpos, todos com vida, à excepção de um: o corpo protagonista.
Chove muito, um cão é quem primeiro detecta o cheiro a sangue, a vísceras. Um vermelho atractivo dança no meio da chuva. É o corpo que ali está, que é abandonado depois de brutalmente assassinado. A vítima é uma mulher.
Esta vítima já teve a sua primeira morte, resta‐lhe agora, para poder descansar em paz, morrer outra vez nas mãos do médico legista.
Há duas histórias a correrem neste livro, a autópsia do corpo e as histórias dos outros corpos, os corpos que lidaram com a mulher em vida.
A autópsia é, aqui, uma fascinante comunicação com um receptor mudo. Enquanto trata de averiguar as causas da morte da mulher, o médico legista fala com o corpo, pois, apesar deste não lhe poder responder com palavras, poder‐lhe‐á responder com sinais, sinais no seu corpo, que mostrem o que verdadeiramente lhe aconteceu.
São intercaladas com a autópsia, as histórias dos outros corpos. Variadíssimas personagens que têm uma coisa em comum: todas estão ligadas ao corpo sem vida.
Este livro é uma conversa sobre a morte e sobre a vida, sobre como não somos nada quando nos invadem feitos cobaias. Servimos de cobaia para descobrir o porquê da nossa morte. Somos a prova que o assassino mais teme.
Sabe bem saber que existem autores portugueses assim, com garra, com temas diferentes. Segundo a autora: “O livro não é um romance de amor, mas um romance de morte.”. É bom ter contacto com estes livros que passam escondidos no panorama literário português.
A autora, jornalista de profissão, fez um estudo sobre a morte que acabou por se tornar neste romance simples e eficaz. É um pequeno prazer que chega ao fim rapidamente, o que nos faz querer passar mais duzentas páginas com estes corpos, iguais a tantos outros que por aí andam, mortos ou vivos.

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