19 de abril de 2011

Opinião - Diário de um Escândalo

Título: Diário de um Escândalo
Autor: Zoë Heller
Editora: Editorial Presença

Sinopse:

Um melodrama ao estilo de um thriller, leva-nos ao encontro de duas mulheres que partilham entre si uma confidência: uma relação afectiva de uma delas, Sheba, professora, casada, com quarenta anos de idade, com um aluno de apenas quinze anos. Esta relação extra-conjugal é mantida em silêncio, numa relação de intimidade entre as duas amigas, até ao dia em que num acto de pura vingança Barbara, a fiel depositária do segredo, movida por ideias de ciúme e inveja, torna o caso público, causando um verdadeiro escândalo junto do director da escola, da mãe do aluno, do marido da amiga, da comunicação social e até da polícia. Sheba sente-se completamente sozinha mas apesar de tudo, Barbara ficará ao seu lado. Uma história de repressão e paixão, em que o amor, mesmo o proibido, é uma constante num retrato psicológico muito bem construído, satírico em relação à sociedade, profundo e comovente no que toca aos comportamentos humanos, especialmente entre seres do mesmo sexo. Já adaptado ao cinema, conta com Cate Blanchett, no papel de Sheba, e Judi Dench, no papel de Barbara. Com realização de Richard Eyre, o filme já se encontra em exibição em Portugal.

Opinião por João Lascas:
Quando a solidão encontra o escândalo…

A velha Barbara. Ela é a amarga professora solteirona que o reitor da escola onde lecciona quer ver pelas costas o mais depressa possível. Ela é o espelho do ser humano inútil, à procura de algo a que se agarrar, algo que lhe dê uma razão de viver. Sheba é o oposto, uma jovem professora, que dá aulas pela primeira vez, pela qual os colegas nutrem simpatia, simpatia essa que Barbara acha execrável, pois não a acha nada de especial.

Sheba é casada com um homem mais velho, do qual tem dois filhos: Polly, uma adolescente rebelde e Ben, uma criança que sofre de Síndrome de Down. Toda a sua vida foi dedicada à família, especialmente ao filho mais novo. Sheba sente falta de alguma coisa, a família não é suficiente para que ela se sinta preenchida. No meio do caos da escola em que as personagens principais leccionam, um aluno de 15 anos, Connolly demonstra interesse em aprender, coisa que Sheba acha fantástica e decide dar‐lhe aulas extra. Longe estava Sheba de perceber o que Connolly queria com o interesse que demonstrava, mas a pouco e pouco vai‐se apercebendo, e deixa‐se ir. Esta sensação de desejo, de paixão, era uma coisa que não sentia há muito tempo e acaba por se envolver com o aluno.

A pouco e pouco Barbara vai conseguindo infiltrar‐se na vida de Sheba, achando que serão amigas para sempre. Depressa o leitor se depara com o sentimento amor/ódio que Barbara sente por Sheba. Isso é‐nos demonstrado logo nas primeiras páginas. O que Barbara julga ser amor ou amizade (como o leitor o entender), acaba por ser obsessão. É importante que Sheba pense que ela é a amiga perfeita, a confidente em todos os momentos. Mas o não lhe contar o envolvimento com o aluno significa, aos olhos de Barbara, uma lacuna na amizade. Mas o que a princípio parecia uma falha para Barbara, depressa se torna na oportunidade com que ela sempre sonhou. Barbara agora é a grande confidente da professora criminosa. Esta é a oportunidade pela qual ela esperou anos e anos. Se só ela sabe do caso, a vida de Sheba está nas mãos dela. E quando toda a gente souber, Barbara será a única a poder confortá‐la.

O livro é narrado por Barbara, que nos conta com pormenores tudo aquilo que faz para se aproximar de Sheba e como é obcecada com os mais insignificantes comportamentos, ao ponto de estar um dia inteiro a preparar‐se para um jantar familiar em casa de Sheba.

Diário de um Escândalo torna‐se por vezes uma sátira às mulheres solteironas obcecadas, mas ao mesmo tempo um suspense psicológico que não nos deixa parar de pensar no que Barbara irá fazer a seguir.

Zoë Heller não deixa que paremos de incorporar a personagem de Barbara, pela qual acabamos por nutrir um misto de ódio e pena.

Diário de um Escândalo foi adaptado ao cinema em 2006 com Judi Dench e Cate Blanchett nos papéis principais.

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