3 de setembro de 2021

Opinião – “Valor da Vida” de Sara Colangelo

Sinopse

Após os ataques de 2001 ao World Trade Center e ao Pentágono, o Congresso Norte-Americano nomeia o advogado Kenneth Feinberg (Michael Keaton) para liderar o Fundo de Compensação às Vítimas do 11 de Setembro. Incumbidos de distribuírem os recursos financeiros pelos familiares das vítimas da tragédia, Feinberg e a sua colega Camille Biros (Amy Ryan) enfrentam a impossível tarefa de calcular o justo valor a conceder por cada vida perdida. Quando Feinberg se cruza com Charles Wolf (Stanley Tucci), um organizador comunitário que lamenta a morte da sua esposa, o seu cinismo inicial transforma-se em compaixão, quando ele começa a compreender os verdadeiros custos humanos da tragédia.

Opinião por Artur Neves

Chegado precisamente na celebração do aniversário do vil ataque às torres gémeas em 11 de Setembro de 2001, este filme baseia-se no relato de Kenneth Feinberg, o verdadeiro, que verteu no seu livro "What is Life Worth?" as suas experiencias, dificuldades e contradições durante o seu trabalho em encontrar o valor da indemnização pecuniária pelas vítimas resultantes do hediondo ato terrorista na cidade de Nova Iorque. O trabalho foi encomendado pelo governo americano para evitar a avalanche de processos civis que ao longo do tempo em que decorreriam paralisariam a indústria dos transportes aéreos e fariam colapsar muitas das seguradoras envolvidas. É em suma a expressão do luto nacional pela tragédia, com a atenção nos interesses comerciais do país.

Sara Colangelo que nos trouxe “A Educadora de Infância” em 2018 com relativo sucesso, abraça agora este ambicioso processo de nos contar a saga épica de Kenneth Feinberg (Michael Keaton) em encontrar a fórmula mágica que contemplasse o mais justa e equitativamente possível os herdeiros, descendentes, ascendentes e colaterais relacionados com as vítimas da tragédia. Kenn, como gosta de ser tratado, e a sua equipa têm dois anos para descobrir quanto e quem merece o quê a partir de uma lista de nomes das vítimas, incompleta quer em número como em qualificação das pessoas falecidas, que se encaixe dentro do limite estabelecido pelo governo para o Fundo de Compensação. Esse valor foi inicialmente fixado em $350 milhões de dólares.

Kenn Feinberg tinha a reputação de resolver casos impossíveis e cumpre os requisitos para desenvolver com êxito a tarefa que lhe foi confiada. O ator assenta como uma luva no personagem, pois Michael Keaton possui uma energia nervosa e um magnetismo multifacetado que justificaram o Oscar de “Homem Pássaro” de 2014, ou o êxito de “O Caso Spotlight” de 2015 em que a sua participação foi determinante para o êxito alcançado e goste-se ou não dele, a sua presença é uma garantia de que o seu personagem é uma entidade pulsante, com objetivos, humor e densidade dramática que polariza a história, até nos momentos em que reconhece o falhanço das suas premissas iniciais.

O seu principal adversário é Charlie Wolf (Stanley Tucci), um viúvo de falas mansas que constrói um blogue chamado “Fix the Foud” onde critica abertamente os métodos de Kenn e reúne com os familiares para debater os erros de atribuição pecuniária, exortando-os a tentarem maximizar os valores e não assinarem nada abaixo do que pretendem. O outro adversário é Lee Quinn (Tate Donovan) um advogado oleoso que toma a defesa dos altos quadros que trabalhavam nos edifícios e quer refletir nas indemnizações não só os vencimentos atuais mas também os vencimentos e prémios futuros dos seus representados a troco do compromisso da desejada assinatura de consentimento.

É uma história complicada recheada de confrontos humanistas e sociais que representam os casos mais significativos que Kenn Feinberg teve de enfrentar mostrando complexidades e surpresas que a fórmula inicialmente prevista não poderia resolver, nem tão pouco o budget estipulado que foi sendo aumentado durante o tempo da investigação até á cifra final de 7 mil milhões de dólares, a cinco dias do prazo limite.

Todo o filme debate o sentimento de consciência da perda e a abordagem sincera do valor da ligação sentimental entre as pessoas que se ligaram por variadíssimos modos, alguns dos quais não reconhecidos pelas leis vigentes à data, o que confere a todo o material um elevado grau melodramático que a realização soube tornar contemplativamente convincente e sóbrio. Muito interessante em todos os seus 118 minutos, recomendo.

Estreia nas salas no dia 9 de Setembro

Classificação: 7 numa escala de 10

 

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