Sinopse
James Bond deixou o serviço
ativo e está a desfrutar de uma vida tranquila na Jamaica. Mas a sua paz
termina rapidamente quando o seu velho amigo Felix Leiter, da CIA, aparece com
um pedido de ajuda. A missão de resgatar um cientista raptado acaba por ser
bastante mais traiçoeira do que o esperado, o que leva Bond a perseguir um
misterioso vilão, armado com uma nova tecnologia perigosa.
Opinião
por Artur Neves
Eis que finalmente é
estreado o 26º filme da série James Bond, inicialmente previsto para Abril de
2020, mas por três vezes sucessivamente adiado. Pela primeira vez foi entregue
a um realizador americano; Cary Fukunaga que também colaborou no argumento e já
nos deu obras curiosas como; “Beasts of no Nation” de 2015, o drama das
crianças-soldado, ou “Sem Nome” em 2009, o drama da imigração clandestina para
os USA através da fronteira terrestre, bem como o aclamado “IT” de 2017, em
mais uma história do herói criado por Ian Fleming, escritor inglês já falecido.
O personagem já teve vários intérpretes, sendo o mais significativo que
imprimiu ao personagem todo o carisma que ele possui; Sean Connery e atualmente
Daniel Craig que neste filme perfaz a sua quinta e declarada, última
interpretação.
O filme apresenta uma
duração de 163 minutos, que vai sendo pouco comum, para de alguma maneira
fechar pontas soltas que ficaram em aberto nas outras participações de Daniel
Craig tornando o enredo envolvente, mantendo o perfil ousado e destemido do
herói que se encontra numa fase de reforma da sua vida de aventura, cultivando
um amor perene com Madeleine Swann (Léa Seydoux) com quem mais tarde vimos a
saber tem uma filha, enquadrado por um festival assassino bem conseguido e sem
olhar a despesas de meios e de duplos. O romance entre os dois, porém,
apresenta nuances divergentes devido
aos segredos que Madeleine ainda não revelou a James e que levanta dúvidas sobre
a relação de ambos.
A história começa na infância
de Madeleine, recupera a organização criminosa Spectre que dá nome ao filme
anterior de 2015 aniquilando-a, bem como ao seu chefe Ernst Blofeld (Christoph
Waltz) que se encontra preso numa prisão de alta segurança, entretecendo a sua
intervenção criminosa com a atividade profissional de Madeleine como psiquiatra
do MI6 e introduzindo o esquema maligno de vingança concebido por um inenarrável
vilão que perseguia no passado Madeleine, Lyutsifer Safin (Rami Malek) num
enredo labiríntico que não cabe a sua descrição nesta crónica, mas que
genericamente se trata da criação de um vírus sintético com capacidade de análise
do ADN para escolha da vítima que será infetada. Os portadores poderão ser
todos sem que isso lhes cause qualquer efeito, mas o vírus tem capacidade de só
ser letal para o ADN que lhe foi programado como alvo. Uma visão bem mais
preocupante e vil das possibilidades da bioengenharia quando orientada para a
guerra biológica. Muito pior que o nosso Coronavírus, com que nos vamos habituando
a conviver.
O filme começa, (depois da
introdução inicial) de maneira doce e romântica, considerando que desde o
início que ele está reformado e conhece o seu substituto, uma agente negra, inteligente
e apimentada, Nomi (Lashana Lynch), por quem ele à partida não nutre uma particular
simpatia. Eles estão em Itália, numa vila ensolarada no interior e a história
recupera o tradicional Aston Martin inicial de James Bond para nos oferecer uma
perseguição por ruas estreitas, com piso em socalcos e escadas de pedra por
onde os carros passam em alta velocidade sem partir nem se estragar. Uma alegria
para os sentidos e um retorno ao que mais tradicional esta saga possui. Quem o
meteu naqueles assados foi o seu velho colega da CIA Felix Leiter (Jeffrey
Wright), que o convence a voltar às lides da espionagem uma última vez pelos
motivos mais altruístas que ele consegue justificar. Deslocam-se a Cuba onde
será o fim do Spectre, numa receção em que Bond se apresenta de smoking com a
sua companheira Paloma (Ana de Armas), agente da CIA em missão de investigação,
mas que o ajuda substancialmente numa inesperada cena de ação. É aqui que Daniel
Craig se afirma como um Bond de primeira água, de semblante sempre desconfiado,
pele matizada pelo sol, sempre pronto para exteriorizar a sua energia em luta poderosa,
dinâmica e atlética, com uma aparente facilidade que compõe uma combinação nunca
atingida por qualquer dos outros Bond’s.
Como já disse, este filme
vem fechar um ciclo, prevendo-se que a série continue com outro Bond, talvez
ainda por descobrir, mas definitivamente, “Sem Tempo para Morrer” empurrou a
saga para o século XXI, conferindo ao herói a estirpe de lutador com alma, com
sentimentos, não envolvidos nos filmes anteriores, alguns dos quais plastificados
em estereótipos dos tempos em que foram realizados. Adicionalmente os
argumentistas ainda incluíram aqui e ali piadas e expressões que nos fazem rir
e descontrair nos momentos mais tensos, e para lá de cada um ter o seu James
Bond preferido, este é um filme bem conseguido, interessante, com uma história complexa que
nos ocupa o espírito por um tempo agradável. Recomendo sem reservas.
Estreia nas salas de cinema,
amanhã, dia 30 de Setembro
Classificação: 8 numa escala
de 10
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