29 de setembro de 2021

Opinião – “007 – Sem Tempo para Morrer” de Cary Joji Fukunaga


 

Sinopse

James Bond deixou o serviço ativo e está a desfrutar de uma vida tranquila na Jamaica. Mas a sua paz termina rapidamente quando o seu velho amigo Felix Leiter, da CIA, aparece com um pedido de ajuda. A missão de resgatar um cientista raptado acaba por ser bastante mais traiçoeira do que o esperado, o que leva Bond a perseguir um misterioso vilão, armado com uma nova tecnologia perigosa.

Opinião por Artur Neves

Eis que finalmente é estreado o 26º filme da série James Bond, inicialmente previsto para Abril de 2020, mas por três vezes sucessivamente adiado. Pela primeira vez foi entregue a um realizador americano; Cary Fukunaga que também colaborou no argumento e já nos deu obras curiosas como; “Beasts of no Nation” de 2015, o drama das crianças-soldado, ou “Sem Nome” em 2009, o drama da imigração clandestina para os USA através da fronteira terrestre, bem como o aclamado “IT” de 2017, em mais uma história do herói criado por Ian Fleming, escritor inglês já falecido. O personagem já teve vários intérpretes, sendo o mais significativo que imprimiu ao personagem todo o carisma que ele possui; Sean Connery e atualmente Daniel Craig que neste filme perfaz a sua quinta e declarada, última interpretação.

O filme apresenta uma duração de 163 minutos, que vai sendo pouco comum, para de alguma maneira fechar pontas soltas que ficaram em aberto nas outras participações de Daniel Craig tornando o enredo envolvente, mantendo o perfil ousado e destemido do herói que se encontra numa fase de reforma da sua vida de aventura, cultivando um amor perene com Madeleine Swann (Léa Seydoux) com quem mais tarde vimos a saber tem uma filha, enquadrado por um festival assassino bem conseguido e sem olhar a despesas de meios e de duplos. O romance entre os dois, porém, apresenta nuances divergentes devido aos segredos que Madeleine ainda não revelou a James e que levanta dúvidas sobre a relação de ambos.

A história começa na infância de Madeleine, recupera a organização criminosa Spectre que dá nome ao filme anterior de 2015 aniquilando-a, bem como ao seu chefe Ernst Blofeld (Christoph Waltz) que se encontra preso numa prisão de alta segurança, entretecendo a sua intervenção criminosa com a atividade profissional de Madeleine como psiquiatra do MI6 e introduzindo o esquema maligno de vingança concebido por um inenarrável vilão que perseguia no passado Madeleine, Lyutsifer Safin (Rami Malek) num enredo labiríntico que não cabe a sua descrição nesta crónica, mas que genericamente se trata da criação de um vírus sintético com capacidade de análise do ADN para escolha da vítima que será infetada. Os portadores poderão ser todos sem que isso lhes cause qualquer efeito, mas o vírus tem capacidade de só ser letal para o ADN que lhe foi programado como alvo. Uma visão bem mais preocupante e vil das possibilidades da bioengenharia quando orientada para a guerra biológica. Muito pior que o nosso Coronavírus, com que nos vamos habituando a conviver.

O filme começa, (depois da introdução inicial) de maneira doce e romântica, considerando que desde o início que ele está reformado e conhece o seu substituto, uma agente negra, inteligente e apimentada, Nomi (Lashana Lynch), por quem ele à partida não nutre uma particular simpatia. Eles estão em Itália, numa vila ensolarada no interior e a história recupera o tradicional Aston Martin inicial de James Bond para nos oferecer uma perseguição por ruas estreitas, com piso em socalcos e escadas de pedra por onde os carros passam em alta velocidade sem partir nem se estragar. Uma alegria para os sentidos e um retorno ao que mais tradicional esta saga possui. Quem o meteu naqueles assados foi o seu velho colega da CIA Felix Leiter (Jeffrey Wright), que o convence a voltar às lides da espionagem uma última vez pelos motivos mais altruístas que ele consegue justificar. Deslocam-se a Cuba onde será o fim do Spectre, numa receção em que Bond se apresenta de smoking com a sua companheira Paloma (Ana de Armas), agente da CIA em missão de investigação, mas que o ajuda substancialmente numa inesperada cena de ação. É aqui que Daniel Craig se afirma como um Bond de primeira água, de semblante sempre desconfiado, pele matizada pelo sol, sempre pronto para exteriorizar a sua energia em luta poderosa, dinâmica e atlética, com uma aparente facilidade que compõe uma combinação nunca atingida por qualquer dos outros Bond’s.

Como já disse, este filme vem fechar um ciclo, prevendo-se que a série continue com outro Bond, talvez ainda por descobrir, mas definitivamente, “Sem Tempo para Morrer” empurrou a saga para o século XXI, conferindo ao herói a estirpe de lutador com alma, com sentimentos, não envolvidos nos filmes anteriores, alguns dos quais plastificados em estereótipos dos tempos em que foram realizados. Adicionalmente os argumentistas ainda incluíram aqui e ali piadas e expressões que nos fazem rir e descontrair nos momentos mais tensos, e para lá de cada um ter o seu James Bond preferido, este é um filme bem conseguido, interessante, com uma história complexa que nos ocupa o espírito por um tempo agradável. Recomendo sem reservas.

Estreia nas salas de cinema, amanhã, dia 30 de Setembro

Classificação: 8 numa escala de 10

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