23 de agosto de 2021

Opinião – “Jungle Cruise- A Maldição nos Confins da Selva” de Jaume Collet-Serra

Sinopse

Dwayne Johnson e a Emily Blunt juntam-se na aventura de uma vida no novo filme da Disney, uma expedição cheia de peripécias pela Amazónia, com o carismático Capitão Frank Wolff e a Dra. Lily Houghton, uma determinada exploradora. Lily viaja de Londres para a selva Amazónica e recruta os serviços questionáveis de Frank, para a guiar pelo rio abaixo, no La Quila – o seu charmoso barco que se está a desfazer. Ela está determinada a encontrar uma árvore antiga com capacidades de cura inigualáveis, que pode mudar o futuro da medicina. Impulsionados por esta jornada épica, a improvável dupla vai encontrar inúmeros perigos e forças sobrenaturais, todos à espreita na beleza enganadora da exuberante floresta tropical. Mas, à medida que os segredos da árvore vão sendo revelados, os riscos tornam-se cada vez maiores para Lily e Frank e o seu destino, assim como o da humanidade, estará em jogo.

Opinião por Artur Neves

Depois da compra milionária da Marvel Entertainment pela Disney eis que esta promove um filme inspirado num passeio turístico pelos mundos da própria empresa, num parque temático dos muitos que a Disney tem pelo mundo em que o Capitão Frank Wolff (Dwayne Johnson) no seu barco anárquico e a Dra. Lily Houghton (Emily Blunt) incandescente como sempre no personagem de uma botânica do século 20, destemida e cheia de recursos dentro das suas calças incomuns para as senhoras da época, embrenham-se na selva amazónica em busca de uma árvore mítica com capacidades de cura miraculosas que iriam revolucionar a medicina global. A viagem sofre as mais variadas peripécias e aventuras ao nível do mais clássico “Indiana Jones e os Salteadores da Arca Perdida”, ou “Piratas das Caraíbas”, em qualquer versão, em que o enredo é “esparguetizado” de acordo com as necessidades de produção e imposição da conveniência de um filme para ser visto em família.

A história que nos é apresentada resulta sempre de uma fórmula estafada que se resume em reunir estrelas conhecidas e bem aceites pelo público, confirmado pelos resultados de bilheteira, humor inofensivo e distante dos motivos fraturantes, muitos efeitos especiais e de computador que neste filme é francamente excessivo, tanto em quantidade como nos efeitos em si, (a maior parte do filme são gráficos dos jogos de computador, embora de muito boa qualidade) que compõem uma história exagerada com vilões estranhos como o pirata Aguirre (Edgar Ramírez) que devido á maldição que envolve a busca da árvore, ficou preso na floresta e hoje é um escravo das árvores apresentando cobras enroladas em todo o corpo e ramos a sair pelo rosto. Uma verdadeira empreitada de efeitos para os designers de jogos de computador.

Isto é o melhor e o pior que o cinema nos pode oferecer. Vemos este filme por saber á partida o que ele tem para nos oferecer. Permite-nos escapar da realidade, sem todavia nos dar outra coisa em troca além desse mesmo escapismo durante os 127 minutos de duração, com a inovadora hipótese de escolha em assistir na sala escura ou no sossego de casa, em streaming premium, mas com um custo adicional à mensalidade do contrato com a Disney. Todavia nesta modalidade sempre tem a vantagem de fazer os intervalos de acordo com as necessidades fisiológicas dos mais novos, sem ter de incomodar os outros espectadores da fila, para obedecer aos imperativos do seu rebento.

Lily, acompanhada pelo seu irmão MacGregor Houghton (Jack Whitehall) que gosta de viajar com muita bagagem maioritariamente dispensável e procura a Lágrima da Lua, a tal árvore mitológica, cujas pétalas curam todas as doenças. Contudo não está só nessa pretensão, pois a expedição é perseguida pelo aventureiro alemão, o Príncipe Joachim (Jesse Plemons), que pretende o poder da mesma árvore, embora por motivos menos altruísticos do que Lily. Para ambientar a mitologia, a árvore incorpora uma velha lenda sobre os primeiros descobridores que a procuraram 400 anos antes, ao estilo dos piratas mais tradicionais, nos quais Aguirre se inclui e que vimos posteriormente a saber ser irmão do Capitão Frank Wolff, ambos sujeitos à maldição decorrente do massacre da população indígena, que o fez ficar ligado ao rio durante todo este tempo. Portanto, embora Frank Wolff seja o capitão do barco que transporta Lily ele é tão pirata como Aguirre, mas a química entre os dois faz a diferença e a tradição da Disney em terminar toda as histórias em beleza e em amor belo e amarelo, faz com que Aguirre seja castigado pela floresta e Frank Wolff viaje com Lily para Londres e vivam felizes para sempre.

Embora a Disney ache que pode haver algo a ser apresentado em cinema, com base nos passeios dos seus parques temáticos, ou rebuscar inspiração no filme “A Rainha Africana” de 1951 em que Katharine Hepburn acompanha Humphrey Bogart, descendo um rio, na tarefa impossível de atacar um navio inimigo durante a 1ª guerra mundial, o leitor fica avisado do que irá encontrar nesta história fundamentalmente tecnológica. Os miúdos ficarão encantados, os graúdos… dependerão das suas preferências.

Em exibição nas salas ou em streaming na plataforma Disney premium, com um custo adicional.

Classificação: 4 numa escala de 10

 

19 de agosto de 2021

Opinião – “Mistério em Saint-Tropez” de Nicolas Benamou

Sinopse

Como acontece todos os verões, o bilionário Tranchant e a sua esposa Eliane recebem o mundo glamuroso das celebridades na sua luxuosa mansão no sul de França. Quando os crimes de sabotagem a um dos seus carros juntamente com cartas ameaçadoras causam o desassossego na festa, Tranchant não descansa enquanto não contratar o melhor agente para a investigação. No meio deste verão quente, apenas Boullin, o arrogante e incompetente inspetor da polícia está disponível… Para apanhar o suspeito e resolver o mistério, o inspetor não terá escolha a não ser fazer passar-se por um empregado recém-contratado e transformar as férias de todos num jogo hilariante de ‘Cluedo’!

Opinião por Artur Neves

Eis aqui o verdadeiro filme da silly season, se é que se possa chamar assim aos tempos que atravessamos, porque embora o calendário e o bom tempo o indiquem, as notícias reportam tempos sombrios que este filme pretende distender com uma paródia bem urdida no seio de uma família da classe alta francesa da década de 70 que se destacava por gozar férias acompanhadas da socialite da época em locais aprazíveis, junto ao mar ou em casas que satisfariam os desejos de comodidade e fausto de qualquer mortal.

É pois numa dessas casas que o le baron Claude Tranchant (Benoit Poelvoord) e sua esposa Baronesa Élaine Tranchant (Virginie Hocq) passam férias em ilustre companhia mas ficam chocados e temerosos quando um amigo próximo, convidado pelo casal, sofre um acidente de automóvel que se vem a revelar como uma tentativa de assassínio por sabotagem do circuito de travagem. Sem saber a quem atribuir a realização desta armadilha resolvem contactar o seu amigo e primeiro ministro de França, Jacques Chirac (nada menos do que isso) para os ajudar a descobrir o autor de tal proeza. Este, solicita os bons ofícios da polícia de investigação através e um telefonema ao diretor geral da PJ, Maurice Lefranc (Gérard Depardieu) que entrega o caso ao único detetive em serviço naquele mês; Jean Boullin (Christian Clavier) que se notabilizou pelas mais desastradas e incompetentes intervenções em casos anteriores, estando assim criadas as condições necessárias para uma comédia francesa com todos os condimentos de descontração e situações hilariantes que nos fazem passar 90 minutos agradáveis.

Com esta história e com estes personagens está evidente as confusões que se levantam considerando que Boullin é completamente incapaz de estruturar um plano, uma estratégia que possa levar coerentemente à descoberta do potencial criminoso. Adicionalmente, tal como nas histórias de crime tradicionais existem múltiplas e inconfessáveis relações entre alguns personagens que complicam ainda mais o raciocínio escasso de Boullin que segue de gafe em gafe, cada uma pior do que a anterior e muito embora o filme se sirva de alguns gags já estafadamente conhecidos o desenrolar da história faz-nos rir, pela surpresa, pelos inusitados acontecimentos que nos são relatados por personagens bem conseguidos. Não é inédito, corresponde à tradição de verão a que o cinema francês já nos habituou, mas é uma lufada de ar fresco, pela qual nos apetece ser bafejados. Recomendo como filme de verão.

Tem estreia prevista em sala, dia 26 de Agosto

Classificação: 6 numa escala de 10