Sinopse
Nikola Tesla (Ethan Hawke),
o enigmático pioneiro da ciência da eletricidade, é um imigrante nascido numa
pequena aldeia no que agora é a Croácia. Orgulhoso, genial e socialmente
desajustado, Tesla é um funcionário promissor na Thomas Edison’s Machine Works
que não consegue interessar Edison (Kyle MacLachlan) no seu revolucionário
motor de corrente alternada. O fim da relação de Tesla com Edison inicia uma
rivalidade duradoura entre ambos. A procura de fundos de Tesla leva-o a George
Westinghouse (Jim Gaffigan), outro poderoso nome na indústria que, com sucesso,
financia e promove o sistema elétrico inovador de Tesla. Mas o impaciente
inventor já está a planear métodos inéditos de transmitir luz, eletricidade e
informação sem fios por todo o mundo. Trabalhando num laboratório a céu aberto
no Colorado, Tesla transmite raios da terra para o céu e ousa aplicar as suas
descobertas a um sistema sem fios global, um projeto de alto risco apoiado por
J. P. Morgan (Donnie Keshawarz). Os seus progressos tecnológicos acabariam por
definir e a moldar o mundo moderno.
Opinião
por Artur Neves
Desde Outubro de 2019, data
de estreia em Portugal do filme; “Guerra das Correntes”, já comentada neste
blogue, que eu esperava por um filme sobre Nikola Tesla, para repor a verdade sobre
os projetos e o desenvolvimento dos meios de utilização da eletricidade ao
serviço da humanidade.
No filme “Guerra das Correntes”
aborda-se a questão do advento da eletricidade do ponto de vista da iluminação,
das lâmpadas elétricas desenvolvidas por Thomas Alva Edison e da sua
fidelização absoluta à corrente contínua produzida através de geradores eletromagnéticos
que possuíam um dispositivo comutador entre as bobinas, o coletor e as escovas,
que permitiam “transformar” a corrente alternada produzida naturalmente pela
máquina, em corrente pulsatória designada por Edison como contínua (DC direct corrent). Tesla, imigrante nos
USA, trabalhador da empresa de Edison, (tal como referido na sinopse) mais
esclarecido e com espírito mais científico do que Edison, que se assumia como cavalheiro
de indústria, frequentando o círculo social mais destacado e endinheirado da
época, desprezava a ideia de Tesla e da sua corrente alternada (AC alternate corrent) desqualificando e
impedindo o investimento ao seu projeto de motor elétrico, que se viria a
desenvolver e implantar em toda a indústria mundial até aos dias de hoje.
Tesla era de facto um homem
socialmente apagado. A sua demasiada concentração nos problemas técnicos e nos
seus estudos matemáticos do eletromagnetismo, ao qual deu um impulso decisivo
para a sua compreensão, afastava-o dos salões das festas e do convívio sociais
que poderiam financiar a concretização das suas ideias. Do ponto de vista da inovação
tecnológica do início do século XX foi muito mais importante e fundamental do
que Edison e este filme pretende ilustrar esse facto.
O filme em si não é
particularmente generoso com Tesla, constituindo-se pela apresentação sequencial
de um conjunto de cenas que ilustram o comportamento e a vida de Tesla, mas sem
contarem uma história nos moldes formais utilizados em biografias. A história é
narrada por Anne Morgan (Eve Hewson), filha de J.P. Morgan na qualidade de benfeitora
e amiga com conotações românticas, a quem ele expressa os seus projetos de
transmissão de eletricidade sem fios para todo o universo beneficiando todos os
povos mesmo os das regiões mais remotas. Anne aparece como a pessoa mais
próxima de Tesla na sua época, bem como, sentada em frente de um computador a
consultar e a comparar as citações sobre Edison e Tesla no Google, o que denota
o caráter mais documental e menos romanceado deste filme.
Tesla fala-lhe das suas
obsessões teóricas, das suas ponderações matemáticas sobre o universo, enquanto
manifesta uma total negligencia pelas questões comerciais da sua atividade permitindo
a monumental burla de George Westinghouse (Jim Gaffigan), que lhe compra e
comercializa o seu sistema de AC e quando este começa a dar frutos, renegoceia
o anterior contrato com ele roubando-lhe uma significativa riqueza que lhe era
devida de acordo com o contrato anterior. Por outro lado, J.P. Morgan (Donnie
Keshawarz), que numa primeira fase investe nos trabalhos de Tesla, condena-o ao
colapso quando lhe corta o financiamento na sequência de falta de resultados no
tempo estabelecido por ele.
Na Exposição Colombiana de
1893 em Chicago o mundo fica a conhecer Tesla e Anne Morgan pergunta-nos se o
sucesso dele não teria sido maior se ele aceitasse ter ao seu lado alguém mais
astuto e esclarecido para os negócios, em vez de a rejeitar como parceira e companheira
de vida. Tesla porém não está virado para o amor e o filme mostra-nos a pureza
da sua vida teórica e a exclusividade da sua tarefa científica que culmina pelo
seu repúdio pelo prazer sexual.
A narração do filme por Anne
chama-nos a atenção para a vida social de Edison em contraste com o voto de
celibato de Tesla, seguindo as recomendações do seu conselheiro espiritual Swami
Vivekananda (Jameal Ali), que o aconselha que; "a castidade é um caminho
para a iluminação” e que um cientista só se deva casar com a sua ciência,
caraterizando-o como ensimesmado, confinado em si próprio, que Michael
Almereyda transpõe para o filme pela forma como realiza esta obra.
Deste modo o filme embarca
por caminhos sinuosos e negócios de bastidores, oscilando entre a realidade
monótona e a fantasia inspirada de um homem que foi importante para todo o
desenvolvimento tecnológico que atualmente usufruímos. Não desilude, mas por
vezes torna-se pouco compreensível, todavia reporta-se a uma personagem incontornável
do século passado, a quem devemos muito e de quem merece ser conhecida a sua
verdade. Interessante.
Tem data prevista de estreia
nos cinemas a 7 de Janeiro.
Classificação: 6 numa escala
de 10
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