Sinopse
No ambiente fechado e
opressivo de uma pequena cidade do Oklahoma, durante os anos de 1960, a jovem
filha de um casal de agricultores inicia uma amizade íntima com outra rapariga.
Opinião
por Artur Neves
Com uma sinopse tão concisa
e redutora quase que pode pensar-se que o filme veicula um manancial de erotismo
lésbico, mas nada disso e muito pelo contrário a história deste filme
mostra-nos com considerável rigor como era a vida social na zona rural da pequena
cidade americana de Oklahoma no início da década de 1960, onde as convenções
religiosas e a moral cristã convencional da época motiva as suas atenções, nos
vestidos, nos penteados, no visual da saia lápis dos anos 50, generalizadamente
em uso nas senhoras da terra, de vida simples, cuja principal atenção é para a
fofoca e para a crítica social do vizinho, justificadamente ou não.
A família central da
história é o casal Deerborne, constituída pela mãe Francie (Jordana Spiro) ocasionalmente
acompanhada de outras mulheres, mas sempre de um copo com whisky que beberrica
durante a solidão do seu dia, o pai Hank Deerborne (Shea Whigham) de feitio
compassivo embora por vezes se mostre agressivo, mais por formatação ao
ambiente que o cerca do que por convicção e Iris Deerborne (Kara Hayward) a
filha de temperamento solitário e objeto de bulling
no colégio pela sua postura preferencialmente isolada, óculos de aros grossos e
pela sua luta constante contra a incontinência urinária, facilmente detetável pelos
colegas através do cheiro que dela emana.
Iris vive com intensidade a
sua vida interior de solidão, sonha com os seus desejos de futuro e foge á
noite para o lago perto de sua casa onde boia sobre as águas enquanto perscruta
as estrelas, confiante que o facto de ter havido um afogamento recente de uma
jovem, afasta as pessoas daquele local onde ela pode sentir-se mais livre, senhora
de si e dos seus pensamentos.
A sua deslocação para a
escola, a pé, pela estrada de terra batida é sempre um sacrifício agravado pelos
colegas que passam de carro, metem-se com ela e seguem sem lhe dar boleia. Esta
saga diária é alterada com a chegada de Maggie Richmond (Liana Liberato), uma
rapariga mais velha, vinda da cidade por motivo da profissão do seu pai, mais
madura, conhecedora de outro tipo de relações sociais que rapidamente se faz
amiga dela, sendo correspondida por Iris que vê nela o apoio que faltava para
vencer a sua solidão.
O contacto inicial não é
fácil, Maggie não é verdadeira em todas as revelações que divulga, criando uma
aura em torno de si que esconde uma vida privada sombria e uma relação difícil
com o pai Gerald (Tony Hale), um homem normalmente zangado, documentarista de
profissão que foi destacado para Oklahoma com o objetivo de produzir o retrato
de uma pequena cidade da América.
Com estes elementos
interagindo entre si a história desenvolve-se como num sonho que inclui
detalhes de uma vida bem real nem sempre favorável a todos os protagonistas. A fotografia
a cargo de Andrew Reed torna autêntico o universo da história, constrói com
segurança as imagens desgastadas pelo passado tornando o filme numa parábola de
tolerância escolar que contrasta com a violência social dos espíritos cristãos,
ofendidos pela descoberta da tendência desviante de Maggie por Hazel (Adelaide
Clemens), a cabeleireira da cidade, lésbica envergonhada que usa a fotografia
do irmão falecido como marido, para justificar a sua situação de viúva celibatária.
Toda a história decorre
lentamente, naquela cidade profundamente conservadora, mostrando ao espectador
o porquê daquela relação LGBTQ de uma garota jovem, bonita, inteligente e
igualmente misteriosa e gay na sua opção sexual, descrevendo o seu passado por
si mesma e pelos olhos bondosos da desajeitada Iris que a toma como modelo para
um personagem que só existe nos seus pensamentos. A partir de certa altura o
filme “cai” para o melodramático o que todavia não lhe fica mal, considerando
que se passa na província em 1960, iniciando também uma viragem para algo mais
atual, embora sombrio, que significa uma mudança de conceito na utilização do
género individual com que nascemos. Muito interessante, estreia em 12 de Novembro.
Classificação: 6 numa escala
de 10
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