Sinopse
Castro Laboreiro, a terra
mais a Norte de Portugal, é um lugar cujos montes terminam numa rua sem saída.
Chamam-lhe o buraco do fim do mundo. Ali vivem lado a lado lobos e homens. Os
lobos saem dos seus covis para atacarem livres as presas dos homens trancados
nas suas tocas. Uns e outros armadilhados dentro do grande fojo que é a vida e
de onde não se pode sair vivo.
Opinião
por Artur Neves
Considerando a sinopse
anterior e o poema inscrito no poster do filme (“Os homens são como o lobo,/Só
lhes falta ter rabo,/Andam de dia e de noite,/Na figura do Diabo”), bem como
que; “Fojo” é uma armadilha para captura de lobos, construída em pedra e representativa
de uma manifestação cultural única a nível ibérico, da convivência nem sempre
amistosa entre lobos e homens. Na minha genuína paixão cinéfila, sempre recetiva
á desejada evolução do cinema português, pensei tratar-se de um documentário, sim
mas, em que João Canijo, autor de algumas boas obras recentes, nos quisesse oferecer
um drama na paisagem agreste do Alto Minho em que homens e lobos se comportassem
uma vez como eles próprios e outra como o seu contrário, conjugando uma
história documental sobre a dura vida das pessoas de Castro Laboreiro e
Melgaço.
Mas não… mais uma vez as
minhas expectativas foram goradas e o que temos aqui é um documentário puro e
duro, do quotidiano quase primitivo (apesar da existência da Internet) das
gentes de Melgaço, nas suas atividades de subsistência e manutenção da vida do
dia a dia, apresentadas aleatoriamente, ou pelo menos segundo uma ordem de duvidosa
referenciação.
O documentário não tem
atores, é feito com as pessoas da terra nos seus afazeres normais de pastar os
animais, matar os porcos e defumar os presuntos, bem como conservar a carne em
sal. Todas as pessoas são indiferenciadas e reportadas ao mesmo nível sendo tão
destacado o “Tiro”, um cão pastor, como a “tia Benite”, ou “Benitinha”, apoiada
em duas canadianas sempre que se desloca ao centro de dia para executar uma
ginástica mal guiada, ou ao posto médico para tratar dos seus múltiplos
achaques.
A aldeia reportada tem
muitas pessoas mas o filme não nos permite conhecer qualquer delas ou as
relações entre elas, os seus dramas, ou o posicionamento social relativo
daquelas que a realização achou por bem destacar com a abordagem dos seus problemas
específicos. O abastecimento da dispensa dos habitantes é feito pela mercearia
itinerante que pára em vários lugares e atende diferentes fregueses, com
dificuldades pecuniárias também diferentes, mas tudo de uma forma tão plana,
tão rasa, tão elementar que ficamos sempre à espera que o próximo assunto seja
mais interessante.
A abordagem espiritual dos
habitantes é feita através da apresentação de uma igreja frugal e de um funeral
não se sabe de quem, apenas uma procissão atrás do féretro, vista de perto e de
longe quando atravessa uma ponte. Mais interessante é a mostra de uma prática
religiosa cigana, com o discurso do mentor num altar improvisado e as respostas
pré estabelecidas dos fiéis na assembleia, num misto de reza e cântico aos sons
de acordes de música cigana.
Dos fojos apenas um nos é
mostrado e a uma distância segura. Dos lobos nem um vislumbre, exceto das carcaças
despojadas de carne de caçadas antigas, dos homens que viram diabos, também nem
uma réstia, até porque, na sociedade matriarcal que nos é apresentada, elas são
sempre determinantes em tudo o que importa e neste filme tudo o que importa é
apontar a objetiva para diferentes assuntos e deixar correr a gravação para ter
assunto para a edição. Ora bolas… não pode ser sempre isto o cinema português.
Classificação: 3 numa escala
de 10
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