Sinopse
James Figueras (Claes Bang),
um crítico de arte charmoso e ambicioso, caiu em desgraça. Passa os seus dias
em Milão a dar palestras sobre história de arte para turistas ignorantes. A sua
única réstia de esperança é o seu novo interesse amoroso, a enigmática
americana Berenice (Elizabeth Debicki). Dá-se uma oportunidade quando é
contactado por um abastado negociante de arte, Joseph Cassidy (Mick Jagger),
que convida James para a sua vivenda no Lago Como, e lhe pede para roubar um
quadro ao lendário artista solitário Jerome Debney (Donald Sutherland). Mas
logo a ganância e a ambição de James levam a melhor sobre si e deixam-no preso
numa teia feita por si mesmo.
Opinião
por Artur Neves
A cor da ambição é o
vermelho alaranjado matizado por zonas mais vermelhas e outras mais alaranjadas,
profundamente confundidas na posse do desejo único de ser possuidor da coisa
ímpar que completa a falta e potencia o lado mais irrefletido do desejo.
Neste excelente thriller de Giuseppe Capotondi,
realizador italiano de 52 anos, que fez carreira no universo dos telediscos,
onde em pouco tempo tem de se mostrar o mais possível, traz-nos a adaptação dum
romance policial de Charles Willeford publicado em 1971, contando a história de
um homem falhado que perdeu os objetivos de outros tempos e agarra-se ao que
aparece em busca da recuperação de si e da redenção para os atos que o levaram
à atual situação.
Figueras não é
intrinsecamente um mentiroso, é um homem que usa os seus conhecimentos e a sua
experiencia da melhor forma que os possa adaptar à situação do momento e fá lo com
profissionalismo ao guiar turistas sem conhecimentos de arte, nos meandros da
pintura de forma a motivá-los na contemplação dessa forma de arte e aqui, os 10
minutos iniciais do filme são extraordinários da demonstração da sua capacidade
verbal para transformar o “nada” em “tudo”, desmontando de seguida tudo o que
foi dito.
Berenice, pelo seu lado é
uma mulher misteriosa, professora na sua cidade natal no Minnesota, em viagem de
repouso pela Europa na sequência de uma operação ao útero que lhe motivou maior
atenção para si própria e para o que quer da vida. Vive com a sua mãe e esta
viagem serve também para repensar a sua situação e reinventar-se. Entra distraidamente
na sala onde se realiza a palestra de Figueras, que também serve como
apresentação do seu livro sobre arte, e mostrando a irreverencia da sua
personalidade e da sua idade, bem como, a disponibilidade do seu espírito
aberto, aceita o repto de Figueras, lançado a todos os assistentes da palestra.
Esse encontra é apenas o
começo de uma relação com o homem a quem ela confirma o bom começo depois de uma
noite de sexo e pergunta como irá acabar no futuro, pois embora exista “química”
entre os dois, Figueras é suficientemente reservado nos seus motivos.
Joseph Cassidy é o
colecionador de arte que pretende obter uma obra do pintor Jerome Debney (Donald
Sutherland com 84 anos, mas sempre surpreendente nas suas interpretações) para
a sua coleção e desafia Figueras a obtê-la em troca da sua reabilitação e
reconhecimento público perdidos.
Até aqui a história
resume-se ao estabelecimento das relações entre este elenco forte o suficiente
para que as múltiplas reuniões e conversas sobre o simbolismo da arte, as suas
caraterísticas particulares e as suas motivações dos quadros que são citados
nos envolvam neste mundo de acesso restrito. Joseph Cassidy sabe o quer, está habituado
a obter tudo o que pretende e possui a vantagem ameaçadoramente discreta para levar
Figueras a sucumbir irrefletidamente ao laranja avermelhado da ambição que o
cega.
Daqui para a frente o filme
ganha a dinâmica do thriller e do suspense e vemos Figueras a tentar por
todos os meios tirar vantagem de Jerome Debney, o pintor recluso numa casa cedida
por Cassidy, que lançou fogo a todo o seu espólio anterior e que hoje pinta na
sua imaginação o azul do céu que não possui.
As histórias só acabam bem
nos romances de cordel e nas telenovelas e esta não tem nada destas duas
categorias, compondo-se num filme que recomendo vivamente. Em exibição nos
cinemas NOS.
Classificação: 7,5 numa
escala de 10
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