Sinopse
Bruno
(Vincent Cassel) e Malik (Reda Kateb) vivem num mundo diferente durante vinte
anos: o mundo das crianças e dos adolescentes autistas. Responsáveis por duas
organizações sem fins lucrativos (The Hatch e The Shelter), eles proporcionam
formação a jovens de zonas desfavorecidas para que estes possam ser cuidadores
em casos extremos recusados por todas as outras instituições. Trata-se de uma
parceria excecional, à margem dos parâmetros tradicionais, para personagens
bastante extraordinárias.
“Especiais”, da dupla de
realizadores franceses Olivier Nakache e Eric Toledano que alcançaram o êxito
com o filme ‘Amigos Improváveis’, (2012), foi o filme escolhido para o
encerramento do 72º Festival de Cinema de Cannes.
Opinião
por Artur Neves
A história deste filme
corresponde ao relato diário da vida de duas instituições francesas dedicadas
ao apoio voluntário a deficientes de autismo profundo sem quaisquer meios de
apoio do estado Francês e perseguidos pela inspeção do Ministério da Saúde e de
outras autoridades legais, por não terem licença oficial para exercer a atividade
a que se dedicam.
Adicionalmente, Bruno,
consegue um 2 em 1, isto é, considerando a ausência quase total de meios de
apoio à atividade, Bruno convida ex-drogados, delinquentes em liberdade
condicional e outros desvalidos da sociedade como adjuntos, para apoiarem
individualmente os deficientes profundos assumidos pela instituição. Obviamente
que eles não possuem formação específica e muitos deles nem a querem adquirir,
mas têm ali uma oportunidade de valorização, de redenção para os delitos
anteriores que a sociedade “normal” os acusou e marginalizou.
A organização de Bruno instila-lhes
a possibilidade de serem úteis à sociedade, a necessidade de integração e de
pertença à custa do seu recrutamento para dedicação exclusiva a um deficiente,
de forma a ganhar-lhes a sua confiança exclusiva, como único meio de conseguir
que essas pessoas, para as quais os parâmetros de convivência em sociedade são
diferentes ou até opostos ao comum, remetendo-os a um mutismo e isolamento
cognitivos que em situações de stress pode levá-los à violência extrema, contra
si mesmos ou contra quem está mais próximo deles, independentemente dos laços
que os liguem.
Como eles não devem ficar
confinados a um espaço e pelo contrário devem habitar espaços amplos onde
possam libertar a sua energia auto acumulada pela inação ou pela não
coordenação da sua mente no aspeto da socialização, é Malik que ajuda Bruno,
com a sua furgoneta pertencente a outra associação, a transportá-los e aos cuidadores
pessoais nas saídas, viagens e ocupações lúdicas, tão vitais para a sua
integração social.
É através do acompanhamento
dos casos extremos de cuidadores e de deficientes que o filme nos mostra a o
trabalho extraordinariamente meritório das duas associações; The Hatch e The
Shelter, na sua luta pela dignificação e ajuda ativa de pessoas que habitam as
margens da sociedade, quer por defeito congénito, quer por queda na
marginalidade, no abandono e descriminação social a que nenhuma instituição pública
efetivamente se dedica.
O exemplo acabado reside na
conversa entre Bruno e os inspetores que mais uma vez lhe querem fechar a
instituição. Acatando as determinações do relatório da inspeção, ele declara
que abandonará a atividade no exato momento em que o Instituto da Segurança
Social vier buscar os deficientes que acompanhámos mais de perto durante o
filme. Isso é quanto basta para que seja aprovado um decreto governamental que
publica uma licença oficial extraordinária para a continuação da atividade da
instituição The Hatch, agora legalizada. No fim das contas, nada de novo.
Classificação: 6 numa escala
de 10
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