29 de agosto de 2019

Opinião – “Segredos Oficiais” de Gavin Hood


Sinopse

Em 2003, enquanto os políticos em Inglaterra e nos EUA procuram invadir o Iraque, Katharine Gun (Keira Knightley), uma tradutora do GCHQ - serviço de inteligência britânico responsável pela garantia de informação ao Governo Britânico e às Forças Armadas -, divulga um e-mail secreto onde é pedido para que membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas sejam espiados, com o objetivo de os forçar a votar favoravelmente a resolução para validar a guerra.
Acusada de violar a Lei dos Segredos Oficiais, e enfrentando a possibilidade de ser presa, Katharine e os seus advogados iniciam a defesa da ação dela. Com a vida, liberdade e casamento ameaçados, ela tem de defender aquilo em que acredita...
“Segredos Oficiais” aborda um acontecimento verídico que viria a ganhar uma dimensão significativa, tornando-se numa causa célebre entre ativistas antiguerra.

Opinião por Artur Neves

Se o futuro nos trás algo de benéfico em termos de humanidade e de sociedade humana ele inclui o encurtamento dos tempos da história na revelação das verdadeiras intenções e dos casos que motivaram certas decisões políticas censuráveis e altamente criticáveis, como a invasão do Iraque pelos países da “coligação”, congeminada nos USA pelo inefável Bush filho, o primeiro-ministro Inglês Tony Blair e o nosso Durão Barroso, que serviu como mestre-de-cerimónias no embuste da justificação de invasão para eliminação das “armas de destruição maciça” que nunca foram encontradas no Iraque de Saddan Houssein por qualquer das equipas de inspeção.
A história que nos é contada neste filme baseia-se no romance; “O Espião que tentou parar uma Guerra” escrito por Marcia & Thomas Mitchell, que reporta o ato heroico de Katharine Gun, com completo desprezo pelas consequências do seu ato, para si e para a sua família, ao divulgar à imprensa o conteúdo de um e-mail onde era solicitada a vigilância apertada de várias entidades das UN com o fim de os condicionar no apoio e concordância com a projetada invasão do Iraque em 2003, como retaliação à destruição das Torres Gémeas em 2001.
Neste filme, desenvolvem-se todas as ações, representadas da maneira mais séria possível, de modo a poder respeitar a enorme complexidade deste caso envolvendo todos os diálogos nos diferentes aspetos políticos, éticos, morais e legais, fazendo justiça à personalidade da verdadeira Katharine Gun que merece todo o nosso respeito e admiração.
Katharine Gun (Keira Knightley), apresenta um desempenho sóbrio e seguro mostrando toda a sua revolta na forma como o primeiro-ministro do seu país está empenhado em enganar o público britânico, brilhantemente secundada pelo seu advogado Bem Emmerson (Ralph Fiennes) que domina, no melhor sentido, a segunda parte do filme durante a preparação da defesa no julgamento para o crime de traição de que é acusada, interpretando a força da justiça que deveria ser norma.
Estamos em presença de um excelente thriller político e de investigação jornalística, que decorre na Londres atual, oferecendo-nos todo o ambiente sombrio daquela cidade, tradicionalmente povoada por nuvens negras e dias sem sol, bem de acordo com a trama que se está a preparar, constituindo uma lição de história atual, recente, com 112 minutos, que o leitor não vai sentir passar.
Todavia, já sabemos o resultado, o Iraque foi invadido e com ou sem consentimento das UN uma guerra sangrenta foi travada donde resultaram centenas de milhares de mortos, Saddan também morreu e o mundo passou a ser o lugar mais instável e incerto que todos conhecemos. Os esforços de Katharine Gun foram em vão e tal como com ela, outros heróis também continuarão anónimos para as próximas guerras que se avizinham, resta-nos o pobre consolo de ficarmos a saber a verdade dos factos ainda dentro do nosso tempo de vida e não através de um relato histórico engajado ao poder da altura.

Classificação: 8 numa escala de 10

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