26 de abril de 2019

Opinião – “Seduz-me se és Capaz” de Jonathan Levine


Sinopse

Um romance improvável mas não impossível serve de arranque para esta comédia de Jonathan Levine.
Charlotte Field (Charlize Theron), Secretária de Estado dos Estados Unidos reencontra numa festa, Fred Flarsky (Seth Rogen), de quem em tempos foi babysitter. Hoje jornalista, o rapaz é contratado por Charlotte para auxiliá-la na sua campanha presidencial e antigos sentimentos renascem entre os dois.

Opinião por Artur Neves

No cartaz publicitário deste filme foi incluída a frase: “Improvável mas não Impossível” como desiderato global da história. Após o visionamento do mesmo senti um impulso para alterar esta frase para: “Nunca Provável e totalmente Impossível”. Isto não significa porém, que a história seja má e que o objetivo de entretenimento do filme não tenha sido plenamente atingido, só que; o seu a seu dono, a probabilidade de ocorrência desta história neste planeta é mais remota do que um encontro com a mais longínqua das galáxias estrelares, embora essa hipótese teórica seja probabilisticamente possível.
Jonathan Levine é um realizador que já nos apresentou algumas comédias interessantes tanto como diretor ou como argumentista e ao juntar neste projeto Charlize Theron e Seth Rogen como atores, mas também como coprodutores, presumo que terá sido fortemente influenciado por Seth Rogen para construir uma comédia, à semelhança de outras já realizadas, como 50/50 (2011), que transmitam alegria e emoção à mistura com verdades do nosso tempo que nos obriguem a refletir sobre o mundo que nos rodeia.
Esta é pois uma comédia romântica, com forte pendor político em que Charlotte Field (Charlize Theron) desempenha o papel de secretária de estado de um presidente americano que nos sugere, pelos seus maus gostos e opções, o atual inquilino da Casa Branca. Da sua interpretação, que projeta elegância sem mácula e charme discreto temos o estereótipo que justifica como as mulheres se devem apresentar em público, frias e confiantes, ao mesmo tempo que se permitem de brincadeiras que sugerem Hillary Clinton. No meio em que se movem estão lá todos representados; o magnata Rupert Murdoch, o “namorado” pretendido por toda a “classe” Justin Trudeau, primeiro-ministro canadiano e muitos outros.
A nota dissonante desta oligarquia de perfeição é Flarsky (Seth Rogen), jornalista muito cotado, truculento, desempregado por se manter fiel à sua ideologia de esquerda, que foi acompanhado na infância por Charlotte Field, quando esta fazia babysitting e que agora ao revê-lo, inicia um romance com ele, apesar da sua apresentação totalmente fora dos cânones. É a fase da fábula no filme em que a “Cinderela”, linda, inteligente e poderosa, que se move nos círculos mundiais do poder se apaixonar pelo pobre trapalhão, embora também inteligente e útil e viver uma fantasia romântica, elevando-a a um sonho político a que todos aderem, acreditam e generosamente votam nela para presidente dos USA.
O final só pode ser feliz e perfeito, muito embora deixe para traz toda a crítica anunciada, da luta de classes e do poder sexista, mantendo todavia um registo alegre, até cómico por vezes e comovente noutras, que merece ser visto e degustado.

Classificação: 6 numa escala de 10

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