12 de abril de 2019

Opinião – “O Mundo é Teu” de Romain Gavras


Sinopse

François (Karim Leklou) é um passador de droga cujo sonho é desenvolver a franchise do gelado Mr Freeze em Marrocos. Contudo, a sua ambição é inviabilizada quando descobre que a própria mãe (Isabelle Adjani) – jogadora compulsiva e uma vigarista muito experiente – perdeu ao jogo as economias que ele precisava para iniciar uma nova vida. Putin, o traficante local, propõe a François um último golpe em Espanha para que ele possa reunir o dinheiro de que tão desesperadamente precisa. Mas as coisas vão de mal a pior quando a transação corre mal, arrastando consigo toda a gente: Lamya, o seu amor não correspondido; o seu ex-padrasto (Vincent Cassel), um cretino acabado de sair da prisão; dois aspirantes a gangsters, inseparáveis e incontroláveis; e por último, como se não bastasse… a sua deslumbrante e manipuladora mãe.

Opinião por Artur Neves

À partida não se pode dizer que esta história não teve um bom pai. Romain Gavras, filho do aclamado Costa-Gravas, o realizador Grego de filmes como; “Z – A Orgia do Poder” de 1969 e “Desaparecido” (Missing) de 1982, dois filmes de intervenção política que marcaram a memória da época. Como filho de peixe “também deve saber nadar” eis que nos apresenta esta história do género thriller comédia de um dealer “fofinho” que se vê metido numa embrulhada da pesada, quando o seu objetivo de vida apenas consiste em abrir uma casa de gelados em Marrocos.
O problema reside na sua sofisticada mãe Danny (Isabelle Adjani), jogadora inveterada que gastou todas as poupanças que François lhe havia confiado e ele agora vê-se forçado a tentar obter o máximo de dinheiro no tempo mínimo para realizar o seu projeto e satisfazer os anseios do amor do seu coração, Lamya (Oulaya Amamra) um amor negociável, que se mostra de várias formas menos paciente e compreensiva com a submissão de François à manipuladora Danny que não se coíbe de condicionar e controlar todas tentativas de independência do seu filho.
Para complicar, temos também Henri (Vicent Cassel) num papel como nunca o vi de idiota, cretino, com uma fixação filosófica na origem da vida, consumido por teorias da conspiração manipuladas por organizações secretas que tudo vêm e tudo podem, principalmente atrapalhar toda a atividade que Francois lhe tenha atribuído fazer, no plano que engendrou para obter os necessários fundos que permitirão cumprir o seu desígnio comercial.
A história está bem conseguida, os personagens são todos de fino porte e de exemplar comportamento numa sequência de cenas bem contadas que mantêm a incógnita e o interesse do espetador na ação. Apesar de ser um filme com uma duração normal, 102 minutos, consegue incluir um conjunto significativo de personagens diferentes, todas amalucadas, como por exemplo; Gabby Rose (Brittany) a filha gorda e sardenta do traficante a que Francois quer comprar droga, que ele sequestra e que se revela a maior inimiga do próprio pai ao revelar a Francois o esconderijo da droga. Gabby desempenha assim um papel de pré-adolescente, prematuramente conhecedora e avisada com uma naturalidade que merece atenção.
Trata-se pois de uma história de “quadradinhos”, bem orquestrada por Gavras, com canções soft-rock vintage, passada em ambientes de férias, embora absolutamente absurda do ponto de vista do que é normal assistir-se em filmes de gangsters e de tráfico de droga, todavia constitui um tempo de descontração e divertimento bem passado.

Classificação: 6 numa escala de 10

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