5 de dezembro de 2018

Opinião – “Colette” de Wash Westmoreland


Sinopse

Depois de se apaixonar e casar com o autor e editor Henry Gauthier-Villars (Dominic West), mais conhecido por “Willy”, Sidonie-Gabrielle Colette (Keira Knightley) troca o campo pelas ruas e salões artísticos da Paris do virar do século XIX.
Colette começa logo a trabalhar na editora de Henry, onde se torna um dos seus escritores fantasma.
Quando Colette publica a série “Claudine”, romance semiautobiográfico que definiria um novo tipo de arquétipo – o adolescente – a obra torna-se um sucesso e uma sensação cultural. Com isto, Willy e Colette tornam-se um casal celebridade da Belle Époque, mas a recusa de Willy em reconhecer a autoria de Colette leva ao fim do casamento de ambos.
Pela sua parte, Colette inicia uma série de relações com mulheres, uma das quais com Mathilde de Morny ou “Missy”, uma aristocrata que desafia os padrões da época.
Colette esforça-se por alcançar a sua liberdade e voz artística, vindo a tornar-se numa das figuras mais celebradas da literatura francesa, e escrito dezenas de obras, entre as quais Chéri (1920) e Gigi (1944), que viria a inspirar o filme de Vincente Minnelli e o musical da Broadway.
Colette seria nomeada para o Prémio Nobel da Literatura em 1948.

Opinião por Artur Neves

Através desta “biografia”, livre, de Colette, Wash Westmoreland, realizador Inglês que nos apresentou em 2014 um extraordinário documento sobre a doença de Alzheimer; “O Meu nome é Alce”, nomeado para os Oscares, brinda-nos agora com este filme, que para lá do objeto principal da vida de uma escritora, mostra-nos algo novo sobre a vida e a sociedade dos finais do século XIX e início do século XX transformando-o num retrato de época que é sempre agradável de ver quando é bem feito.
Sidonie-Gabrielle, uma menina de boas famílias do interior provincial francês, que namora em segredo dos pais o futuro marido, ruma a Paris depois do casamento e encontra um meio totalmente diferente do que ela estava habituada e conhecia. Nada se passa como ela pensou e sonhou, imbuída do espírito campestre em que cresceu e viveu até à idade adulta. Porém, não voltou as costas às circunstâncias e utilizando a velha máxima; “Se não podes vencê-los junta-te a eles”, depois de várias vicissitudes de percurso conjugal, adotou o nome de Colette e partiu para uma vida independente, cheia e de sucesso, provando que a emancipação feminina depende mais da iniciativa e da qualidade individual e menos dos decretos governamentais e das boas intenções de grupos mais ou menos encostados ao poder a viver à conta do orçamento. Continua a ser uma lição para os nossos dias.
Durante este percurso, é-nos apresentada a sociedade vigente, com as suas grandezas e misérias, desfazendo algumas ideias feitas de compostura, sobriedade, “educação” e bons costumes, para nos mostrar uma humanidade imperfeita, recheada de contrastes e de “erros” que somente agora começam a ser aceites como “normais”. Toda a caracterização de época está bem feita e é convincente. O filme acaba na altura do divórcio de Colette, o que lhe tira biografia, mas acrescenta-lhe os pormenores e a dimensão de uma personagem sensível á natureza e ao amor, que viveu o século XIX ao lado dos constrangimentos da época, não abdicando das suas pulsões e tendências naturais. Muito interessante.

Classificação: 7 numa escala de 10

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