8 de fevereiro de 2018

Opinião – “Suburbicon” de George Clooney

Sinopse

Suburbicon é o lugar perfeito para instalar uma família e no verão de 1959 a família Lodge está a fazer isso mesmo. No entanto a fachada de tranquilidade esconde uma realidade perturbadora e Gardner Lodge, o patriarca da família Lodge, terá de navegar nos bastidores sombrios dos subúrbios, as suas traições, mentiras e violência.

Opinião por Artur Neves

Suburbicon, um bairro nos arredores da grande cidade apresenta-se como uma fábula de mil maravilhas na terra de todas as oportunidades, onde tudo é perfeito para uma vida bela (e amarela, digo eu) ser vivida em toda a sua plenitude, em casas iguais com relvados muito verdes, uma igreja vistosa, um supermercado privativo e os símbolos da prosperidade galopante com os últimos progressos tecnológicos à época, 1959, ao serviço das famílias e das donas de casa a tempo inteiro que esperavam, zelosas, o seu homem regressado do trabalho, árduo mas compensador.
Porém, pela cabeça do perverso Gardner Lodge (Matt Damon) fervilha uma ideia suja para se libertar da sua esposa Rose (Julianne Moore) que vive entrevada numa cadeira de rodas como resultado de um acidente de automóvel de sua responsabilidade. Com eles, para ajudar nas tarefas domésticas, também, vive a sua cunhada gémea, Margaret (Julianne Moore) com quem ele efabula pecaminosas fantasias de traição e congemina a maneira de realiza-las sem que isso lhe traga problemas futuros. O prémio esperado, será uma idílica viagem a Aruba em ambiente de lua-de-mel com o dinheiro a receber do seguro.
George Clooney recupera aqui um argumento em jeito de comédia negra, escrito por Joel e Ethan Coen em 1980 e posteriormente abandonado em benefício de outra história; “Fargo” realizado em 1996 pelos mesmos irmãos Coen, com grande sucesso na época que lhe valeu um oscar. Como tal, não é estranho que este Suburbicon, “transpire” Fargo por todos os poros, nas suas reviravoltas surpreendentes, nas cenas de puro humor negro, nos mafiosos assassinos completamente idiotas, no arquiteto de toda a trama, Gardner Lodge, convencional e patético na sua relação com os outros e extremamente violento quando se trata de salvar a pele.
Mas Clooney (Mr. Nespresso) não é homem para se ficar pelos despojos dos Coen e para reinventar a história (a sua história) cola-lhe oportunisticamente uma defesa dos direitos civis dos negros, paternalista e politicamente correta, “plantando” uma família negra na casa em frente dos Lodge, onde vão ocorrer manifestações e contramanifestações que nada têm a ver com a história principal mas que corporizam uma mensagem antirracista para a América de Trump em consonância com a ação da sua mulher Amal, que luta pela defesa das minorias. Em meu entender não era necessário este recado de consciência social, considerando que os Meyers, a família de negros, não tem a menor relevância na história principal deste filme.
Para finalizar, uma nota de apreço e elogio a Bud Cooper (Oscar Isac) que interpreta o papel do intrometido advogado da seguradora, que facilmente suspeita da tramoia e paga isso com a vida, bem como Nicky (Noah Jupe), filho dos Lodge que não herdou a estupidez anacrónica do pai e apresenta-se como um ator a ter em conta no futuro.

Classificação: 5 numa escala de 10

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