19 de fevereiro de 2018

Opinião – “Linha Fantasma” de Paul Thomas Anderson

Sinopse

Com o glamour da cidade de Londres do pós-guerra como pano de fundo, o renomeado costureiro Reynolds Woodcock (Daniel Day-Lewis) e a sua irmã Cyril (Lesley Manville) estão no centro da moda Britânica, vestindo realeza, estrelas de cinema, herdeiras, socialites e damas com o distinto estilo d’A Casa de Woodcock. As mulheres entram e saem da vida de Reynolds, providenciando-lhe inspiração e companhia, até que ele se cruza com uma jovem e persuasiva mulher, Alma (Vicky Krieps), que rapidamente se torna uma fixação na sua vida, como musa e amante. Antes controlada e planeada, ele vê agora a sua vida despedaçada pelo amor.

Opinião por Artur Neves

Paul Thomas Anderson conta-nos aqui a história de um amor total embora imperfeito á luz dos amores ditos “normais” que a cultura telenovelesca nos impinge diariamente em doses maciças intoxicando a eventual criatividade amorosa para lá do “politicamente correto”. A história não é propriamente edificante nem glorifica o amor nos cânones tradicionais, mas é uma ode a esse sentimento de busca universal que pode trespassar-nos a alma e levar-nos a aceitar a falência humana e até a morte em seu nome.
O argumento, igualmente escrito por Paul Thomas Anderson inspira-se vagamente na vida do estilista britânico Charles James, transmutada para o personagem costureiro Reynoldos Woodcook (Daniel Day-Lewis, soberbo no seu desempenho) homem meticuloso no seu trabalho, criativo em todo o tempo disponível, maniento em modos e comportamentos obsessivos, controlador e fiscalizador de toda a atividade em seu redor, secundado pela irmã Cyril (Lesley Manville) gestora da atividade, silenciosa, organizada, funcionalmente submissa para o génio do irmão se permitir desenvolver os modelos para a elite britânica e europeia.
Daniel Day-Lewis estabeleceu ser este o último filme da sua carreira, relativamente longa e com vários méritos decorrente do seu trabalho meticuloso em estudar os personagens que interpreta. Nada fica ao acaso no seu desempenho e isso nota-se em todos os pormenores da sua presença em cena, tantos nas suas falas estudadas de acordo com a ação, como nos seus silêncios, que nunca o são completamente, considerando a exibição duma linguagem não-verbal que exprime a complexidade dos sentimentos experimentados no momento. Neste filme ele assimilou os princípios básicos da alta-costura para melhor interpretar um costureiro fiel às suas premissas de arte.
Cyril sua irmã, é a corporização da ordem, da razão e do pragmatismo que os grandes criadores não possuem, guiando-o silenciosamente por entre os compromissos profissionais e pelos devaneios da sua paixão… direi mais!… Do seu encantamento por Alma (Vicky Krieps) que o conquista devastadoramente após um percalço furtuito no serviço de restaurante onde trabalha. Nada foi deixado ao acaso nesta história e informo que o ligeiro tropeção de Alma, precedido dos contínuos olhares, pedidos e comentários que se seguiram, bem como o serviço da refeição são bem o exemplo do meticuloso cuidado dispensado aos pormenores pelo realizador.
Depois tudo se complica, o amor, esse sentimento tão absoluto como difícil, tudo transforma até ao limite da sua própria essência. Confunde-se entrega com posse, determinismo com dádiva ao ponto dela preferir que o seu amado seja fraco e vulnerável para que os seus cuidados sejam o seu meio de subsistência. Do lado dele o seu amor leva-o a ingerir comida envenenada, subjugando-se ao seu amor sombrio, embora total. Recomendo.

Classificação: 8,5 numa escala de 10

Sem comentários: