Sinopse
Com o glamour da cidade de Londres do pós-guerra como pano de fundo, o
renomeado costureiro Reynolds Woodcock (Daniel Day-Lewis) e a sua irmã Cyril
(Lesley Manville) estão no centro da moda Britânica, vestindo realeza, estrelas
de cinema, herdeiras, socialites e damas com o distinto estilo d’A Casa de
Woodcock. As mulheres entram e saem da vida de Reynolds, providenciando-lhe
inspiração e companhia, até que ele se cruza com uma jovem e persuasiva mulher,
Alma (Vicky Krieps), que rapidamente se torna uma fixação na sua vida, como
musa e amante. Antes controlada e planeada, ele vê agora a sua vida despedaçada
pelo amor.
Opinião
por Artur Neves
Paul Thomas Anderson
conta-nos aqui a história de um amor total embora imperfeito á luz dos amores
ditos “normais” que a cultura telenovelesca nos impinge diariamente em doses
maciças intoxicando a eventual criatividade amorosa para lá do “politicamente correto”.
A história não é propriamente edificante nem glorifica o amor nos cânones
tradicionais, mas é uma ode a esse sentimento de busca universal que pode
trespassar-nos a alma e levar-nos a aceitar a falência humana e até a morte em
seu nome.
O argumento, igualmente
escrito por Paul Thomas Anderson inspira-se vagamente na vida do estilista
britânico Charles James, transmutada para o personagem costureiro Reynoldos
Woodcook (Daniel Day-Lewis, soberbo no seu desempenho) homem meticuloso no seu
trabalho, criativo em todo o tempo disponível, maniento em modos e
comportamentos obsessivos, controlador e fiscalizador de toda a atividade em
seu redor, secundado pela irmã Cyril (Lesley Manville) gestora
da atividade, silenciosa, organizada, funcionalmente submissa para o génio do
irmão se permitir desenvolver os modelos para a elite britânica e europeia.
Daniel Day-Lewis estabeleceu
ser este o último filme da sua carreira, relativamente longa e com vários
méritos decorrente do seu trabalho meticuloso em estudar os personagens que
interpreta. Nada fica ao acaso no seu desempenho e isso nota-se em todos os
pormenores da sua presença em cena, tantos nas suas falas estudadas de acordo
com a ação, como nos seus silêncios, que nunca o são completamente,
considerando a exibição duma linguagem não-verbal que exprime a complexidade
dos sentimentos experimentados no momento. Neste filme ele assimilou os princípios
básicos da alta-costura para melhor interpretar um costureiro fiel às suas
premissas de arte.
Cyril sua irmã, é a
corporização da ordem, da razão e do pragmatismo que os grandes criadores não
possuem, guiando-o silenciosamente por entre os compromissos profissionais e
pelos devaneios da sua paixão… direi mais!… Do seu encantamento por Alma (Vicky
Krieps) que o conquista devastadoramente após um percalço furtuito no serviço
de restaurante onde trabalha. Nada foi deixado ao acaso nesta história e informo
que o ligeiro tropeção de Alma, precedido dos contínuos olhares, pedidos e
comentários que se seguiram, bem como o serviço da refeição são bem o exemplo do
meticuloso cuidado dispensado aos pormenores pelo realizador.
Depois tudo se complica, o
amor, esse sentimento tão absoluto como difícil, tudo transforma até ao limite
da sua própria essência. Confunde-se entrega com posse, determinismo com dádiva
ao ponto dela preferir que o seu amado seja fraco e vulnerável para que os seus
cuidados sejam o seu meio de subsistência. Do lado dele o seu amor leva-o a
ingerir comida envenenada, subjugando-se ao seu amor sombrio, embora total.
Recomendo.
Classificação: 8,5 numa
escala de 10
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