23 de agosto de 2017

Opinião – “Índice Médio de Felicidade” de Joaquim Leitão

Sinopse

2012, Portugal entrou em colapso e Daniel, como milhares de Portugueses, perdeu o emprego e deixou de poder pagar a prestação da casa. A mulher foi-se embora para a aldeia natal e levou os dois filhos com ela. Os seus dois melhores amigos encontram-se ausentes, Almodôvar foi preso quando, desesperado, procurava encontrar uma solução e Xavier está fechado em casa, profundamente deprimido porque o site que os dois criaram para as pessoas se entre ajudarem foi um absoluto fracasso. Mesmo assim Daniel não desiste de ter esperança…

Opinião por Artur Neves

Na sua essência o “Índice médio de Felicidade” é um conceito psicológico que pretende quantificar o grau de satisfação de cada individuo, consigo próprio e com a vida que leva, apreciando-o com nove parâmetros diferentes que vão variando em função da idade, formação, local de residência, estrato social e outras variáveis de estado, que não podem ser resumidas num número, como este filme nos apresenta, atribuído aleatoriamente por cada indivíduo, quase porque sim.
Todavia, deixando de parte esse “pormenor”, o filme baseia-se na história recente da crise monetária mundial e dos seus efeitos em Portugal, apresentada em forma de narração pelo protagonista da sua desdita, da infelicidade em ter de se separar da mulher e dos filhos, procurar desesperadamente emprego para tentar salvar a casa, da qual já deve algumas prestações e obstinadamente tentar seguir um plano que ele próprio já verificou ter falhado. Tudo á sua volta desaba mas ele segue a esperança vã de obtenção do sucesso á custa da continuação do seu plano estabelecido noutro contexto e noutro tempo.
No entanto a história é consistente, apresenta-nos personagens com quem nos poderemos cruzar na rua e inferir pela sua aparência o seu grau de disfunção social, mercê de uma direção de atores regrada e inteligente. Cada personagem está bem caracterizada e entregue a um ator que a trabalhou com competência. Porém a ideia geral da história é simples o que faz com que o filme se estenda para lá do razoável com cenas óbvias que funcionariam igualmente bem induzindo esse pensamento no espetador em vez de o mostrar, como para nos indicar que também o sabemos fazer.
O pedido de ajuda no site funciona assim como o switch de inovação, que baralha os dados tão porfiadamente estabelecidos até aqui e com alguma resistência surge a ideia da viagem para ajudar o próximo, uma entidade totalmente desconhecida, que funciona como motivo de abandono a todo o sofrimento vivido até então, como redenção para toda uma vida de falhanço e da “noite fez-se dia” e alegria, porque ajudar todos os que têm dificuldades é o nosso destino e a nossa missão nesta terra.
Bem… toda aquela euforia soa mais a falso do que a obstinada persecução de um esquema repetidamente falhado. A alegria estampada em todos os rostos, outrora fechados e amorfos, excede largamente toda a tristeza e desespero dos primeiros tempos e isso, surgido assim como um piscar de olhos “cheira-nos a esturro”, ou seja… os gajos passaram-se mesmo da marmita. No seu todo a história comove e diverte, embora me tenha perguntado várias vezes onde é que eles teriam carregado os smartphones, o tablet e o portátil ao longo de toda esta dramática história.

Classificação: 5 numa escala de 10

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