12 de abril de 2017

Opinião – “Médico de Província” de Thomas Lilti


Sinopse

Nos últimos trinta anos, Dr. Jean-Pierre Werner tem trabalhado como médico generalista em várias aldeias de província, distantes de qualquer unidade hospitalar. Quando descobre que sofre de uma grave doença, Werner não tem outra escolha senão encontrar um substituto, apesar de se considerar - e de os seus pacientes o considerarem - insubstituível.

Opinião por Artur Neves

“Médico de Província” apresenta-nos uma história passada em França, fora de qualquer cidade, em pleno ambiente rural, onde um médico cuida dos seus doentes visitando-os regularmente, não só por causa de problemas de saúde mas também como elo de ligação entre a terra que habitam, usufruem, e um conceito civilizacional muito afastado daquela realidade. As suas visitas servem também para a resolução dos mais variados problemas do quotidiano que os afligem e que se sentem incapazes de resolver.
Neste contexto, a falta deste “João Semana” mais se fará sentir quando ele descobre que tem um tumor cerebral que lhe causa perturbações de visão, de estabilidade, de olfato e lhe dificulta o cumprimento da missão que se impôs. As coisas ainda se complicam mais quando a autoridade de saúde que o supervisiona lhe envia uma médica para o auxiliar e aliviar de tarefas onde tem sentido dificuldades.
De princípio a sua reação é negativa, pois não aceita intromissão nos seus hábitos e prepara-lhe “praxes de caloiro” enviando-a para os seus doentes mais problemáticos ao que ela responde com um profissionalismo e abnegação extremos motivando a sua admiração silenciosa e secreta, enquanto o tumor segue o seu caminho, não obstante o continuado tratamento a que periodicamente se sujeita.
Temos pois um filme rural, com piadas de ocasião, eventos do quotidiano normal, segredos e silêncios, simpatias que nascem, aborrecimentos passageiros, conduzindo-nos ao longo dos dias que não diferem significativamente entre si e nos fazem perguntar na sala escura; para onde é que isto irá?...
Os sentimentos demonstrados por todos os personagens são ligeiros, comuns, não arrebatam ninguém, o ambiente rural que se nos apresenta é banal, quotidiano, rotineiro nas atenções prestadas aos doentes, o clima entre os dois personagens principais é sempre cordial embora se possa inferir, sem qualquer menção expressa, eventuais alterações de sentimentos através de olhares ou da negação destes, desenrolando-se todavia todos os atos dentro da mais convencional normalidade que nos faz pensar que o seu autor; Thomas Lilti diretor e argumentista deste relato bucólico nos quis apresentar um documentário ficcionado da vida na província Francesa, pois não acredito que em pleno século XXI ainda exista um “João Semana” em funções efetivas.
A cereja em cima do bolo aparece na última TAC a que o médico é sujeito como controlo do tratamento prescrito, onde milagrosamente, já não aparece qualquer referencia ao tumorl, depois de em várias alturas do filme nos terem pintado um quadro negro de impossibilidade de operação e ineficácia do tratamento. Ora bolas, se era só para isto mais valia termos ido pastar caracóis para o campo.

Classificação: 4 numa escala de 10

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