15 de fevereiro de 2017

Opinião – “Passageiros” de Morten Tyldum


Sinopse

Jennifer Lawrence e Chris Pratt são dois passageiros a bordo de uma nave espacial que os transporta para uma nova vida noutro planeta. A viagem sofre uma reviravolta mortal quando as cápsulas de hibernação os acordam 90 anos antes da chegada ao seu destino. À medida que Jim e Aurora tentam desvendar o mistério por trás desta falha, apaixonam-se, sendo incapazes de negar a sua intensa atração... sendo no entanto ameaçados pelo iminente colapso da nave e pela descoberta da verdade sobre o porquê de terem acordado.

Opinião por Artur Neves

Esta história tem um princípio que nos excita e nos torna atentos ao que nos pretenderá mostrar, mas lamentavelmente depressa perdemos toda essa emoção quando começamos a compreender que o que move o realizador Morten Tyldum, nascido na Noruega há 50 anos, é criar uma novela inevitável entre duas coqueluches Hollywoodescas; Jennifer Lawrence uma das atrizes mais bem pagas atualmente e Chris Pratt, estrela de “Mundo Jurássico” 2015, que por motivos não muito bem revelados se encontram presos numa nave interestelar que transporta cinco mil pessoas para um destino mais promissor do que neste pobre planeta azul que abandonaram, sabe-se lá porquê!...
A viagem está programada para cento e cinquenta anos pelo que todos os passageiros viajam em hibernação, mas uma avaria faz despertar Jim Preston (Chris Pratt) noventa anos antes de chegar ao destino, ficando com pouco tempo para usufruir da “Terra Prometida”. Durante o 1º ano ele ainda se aguenta sozinho a reparar tudo o que encontra e a conversar com um barman androide a quem ele conta a sua solidão e o desejo de acordar a bela Aurora Lane (Jennifer Lawrence) que ele catrapiscou nos seus passeios pela nave, mas sabe também como isso significa uma condenação á morte da sua desejada companheira e sabe ainda que não tem o direito de se arvorar em Deus para lhe determinar tal destino.
Ficamos a saber que ele é engenheiro mecânico e ela é potencial escritora, porque ele dedica-se a pequenas reparações no interior da nave para o que constrói uma bancada de serralheiro onde gasta tempo em todos os hobbies que apanha à mão e ela escreve um romance que já vem pensado da terra que abandonou. Mas nem uma palavra sobre o motivo que os moveu ao envolverem-se naquela aventura, o que procuram no futuro, no destino longínquo que adotaram, o que os fez deixar o passado, quais os seus princípios, nada… apenas o vazio tão vazio como o meio onde aquela nave se desloca.
Perante estes dilemas éticos de vida, morte, direitos humanos, respeito pelo próximo o que move o realizador é o sobreaquecimento do reator estando a solução para o problema em acordar “naturalmente”, um dos oficiais da nave que irá entregar ao nosso engenheiro uma chave digital antes de morrer, que fará maravilhas e tornará o nosso herói improvável, o salvador da missão e a redenção para o seu imperdoável ato de acordar a sua amada.
Ora bolas meus senhores, a nave concebida até está interessante e surpreende-nos, mas não permitiria o nascimento de uma árvore no solo de aço, nem a concepção futurista do touch screen é tecnologia suficiente para conseguir tudo, desde bebidas frescas até uma complexa cirurgia ao coração realizada por personagens de que desconhecemos as motivações. É pena vermos uma ideia arrojada tão malbaratada por trivialidades que pretendem justificar que o amor é mais forte, que á ética é lançada às malvas e que os fins justificam os meios.


Classificação: 4 numa escala de 10

Sem comentários: